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quarta-feira, 27 de março de 2013

Aumentarão os depósitos no «Banco do Colchão»

A nefasta e troglodítica ideia de aplicar uma taxa sobre depósitos nos bancos da República de Chipre coloca em causa a confiança no sistema bancário que foi criado desde longa data em todo o mundo. A própria União Europeia tem criado condições legais para evitar a degração do sistema financeiro dos Estados Membros. Mas num dia negro para a história da Banca, dirigentes desta União Europeia em desagregação atuaram como uma espécie de corsários, a quem se associou o FMI, atacando os depósitos dos cidadãos (embora acima de 100 mil euros), sob a capa de decisões necessárias para salvar o setor financeiro de Chipre. Só que trata-se de proposta infame e condenável sob o ponto de vista social, económico e financeiro, que coloca em causa a segurança dos depósitos em bancos no âmbito europeu e noutras regiões onde possam atuar estes dirigentes que mais parecem doentes mentais. Com decisões destas, nem a proposta de criação da «união bancária europeia» previne os riscos do sistema bancário.

Niguém pode garantir que, num outro qualquer dia negro da história da União Europeia, os trogloditas que estão infiltrados nas instituições de decisão voltem a criar taxas sobre os depósitos em Bancos de outros Estados Membros. Para além de ser posto em causa o conceito específico de contrato de depósito, assinado entre o depositante e o Banco, devendo este entregar igual quantia no prazo estipulado, bem como o princípio da boa fé que ficou abalado.

Com este assalto a uma parte dos depósitos, acima de 100 mil euros, nos Bancos de Chipre, estão criadas as condições para o aumento da desconfiança generalizada dos eventuais depositantes no sistema bancário dos restantes Estados Membros. Pois, a qualquer momento, estes loucos do Eurogrupo não terão pejo nenhum em aplicar a mesma receita noutros países.
O resultado será o recurso das pessoas ao «Banco do Colchão», ou seja esconderem as suas poupanças debaixo dos colchões.

Chipre aderiu à União Europeia em 01/05/2004 e à zona euro em 01/01/2008, tendo a sua economia bastante vulnerável (em parte devido à divisão da ilha em dois territórios), embora ficasse mais estabilizada depois da entrada na União Europeia. Tem uma dependência de cerca de 70% do setor de serviços, baseada no turismo e no setor financeiro, mas essencialmente por ser um paraíso fiscal de serviços «offshore», com avultados incentivos fiscais. A agricultura de Chipre é de reduzida dimensão, empregando cerca de 5% da população ativa e o setor industrial que emprega cerca de 25%. A frota de navios matriculados é a quarta mais importante do mundo, donde advêm bastantes rendimentos.
Apesar do que de bom tem Chipre, o setor financeiro entrou em colapso, devido aos créditos para determinados investimentos que determinaram resultados, hoje, apelidados de «produtos tóxicos».

Com cerca de 200 anos decorridos da criação do primeiro Banco em Portugal, só faltava ser uma instituição da União Europeia a contribuir fortemente para a degradação da credibilidade das instituições financeias ao nível europeu. Aliás, em Portugal já entraram em vigor algumas leis que contribuem para o recurso aos “depósitos” no «Banco do Colchão». Uma delas tem a ver com sucessivas regulamentações a reduzir o sigilo bancário, obrigando as instituições de crédito a fornecerem a determinadas entidades a identificação de clientes e o valor dos depósitos. Outra é a facilidade do acesso da entidade tributária a informações de clientes que deveriam manter-se no âmbito do sigilo bancário. A outra lei, que mais parece de um Estado policial, está patente na Portaria nº 34-B/2012, de 1 de Fevereiro, do Ministério das Finanças (baseada na Lei Geral Tributária) obrigando as instituições de crédito e sociedades financeiras a fornecerem à Autoridade Tributária uma relação do valor dos fluxos de pagamentos com cartões de crédito e de débito, em que o número de identificação fiscal serve de controlo absoluto das quantias movimentadas por qualquer pessoa que usa aqueles cartões, não faltando a obrigação de indicar o NIB da conta de depósito. Para maior reforço do Estado policial, só faltava a obrigação de fazer pagamentos a empresas apenas por cheque, quando o valor for superior a cerca de 10 mil euros.


terça-feira, 19 de março de 2013

Para que serve o Parlamento Europeu?

“Sempre segui a mesma linha contínua

em circunstâncias e latitudes diferentes;
mas com uma única preocupação:
unir os homens, solucionar os problemas
que os dividem e levá-los a ver o seu
interesse comum”.
Jean Monnet

Apesar de o Parlamento Europeu ser a única das sete instituições da União Europeia que é composto por representantes eleitos pelos cidadãos dos Estados Membros, não tem poderes nenhuns para intervir alterando decisões perversas, antagónicas e assassinas, tomadas por outras instituições da mesma UE, no tocante às medidas impostas aos países que estão sob intervenção financeira. Mas pode aprovar regulamentos tendo em vista o desenvolvimento de determinadas políticas, como aconteceu no passado dia 12 deste mês ao aprovar, por uma grande maioria, um Regulamento para promover "investimento público e privado, ajudando ao crescimento económico e à criação do emprego, que tanta falta fazem à Europa de hoje".
Mas as restantes instituições atuam como querem, por terem poderes derivados dos Tratados. É por isso que estamos perante uma União burocrática, com muitas instituições a mandar, que, em vez de fazer a força necessária para cumprimento e consolidação das ações e avanços históricos conquistados desde a assinatura do Tratado de Roma, em 25/03/1957, que instituiu a Comunidade Económica Europeia (CEE) e a EURATOM, desenvolvem políticas com orientações do Conselho Europeu e com decisões do Conselho e da Comissão, que mais parece que são compostas e geridas por doentes mentais, tal é a falta de consistência decisória coerente. A maior parte das vezes, não se sabe quem governa a União Europeia, tal é a disparidade de intervenções públicas que políticos fazem, ditando as suas orientações, mesmo que façam ou não parte de determinada instituição da União Europeia.

É verdade que a partir da entrada em vigor do chamado «Tratado de Lisboa», em 1 de Dezembro de 2009, o Parlamento Europeu passou a ter mais poderes na função legislativa, em que a generalidade das leis passou a ser aprovada com o procedimento de codecisão, juntamente com o Conselho que reúne com ministros dos Estados membros, por especialidades, ex: Finanças. Mas o Parlamento Europeu pode votar uma moção de censura à Comissão. Se for aprovada os membros da Comissão devem demitir-se em bloco. Precisamente porque a Comissão é responsável perante do Parlamento Europeu, este já teve razões óbvias para censurá-la e demiti-la, face à incapacidade e desnorte ao longo destes anos de crise europeia.

O Conselho Europeu - não confundir com o Conselho -  que é composto pelos Chefes de Estado ou de Governo dos Estados Membros e pelo Presidente da Comissão, tem a função de dar à União os “impulsos necessários ao seu desenvolvimento e define as orientações e prioridades políticas gerais da União”. É por isso que, quando reune, apenas dá orientações gerais sobre qualquer assunto da agenda de trabalhos. Isto é, apenas toma decisões políticas, uma vez que não exerce funções legislativas. Aliás, pelas informações que são dadas nas duas vezes que reúne por semestre, muitas vezes não chega a conclusões sobre as orientações a dar para cumprimento pelas outras instituições.

Quando se fala nas imposições da «Troica» na aplicação de medidas severas para Portugal cumprir o défice orçamental e reduzir a dívida, estamos a atribuir a três técnicos (incluído o do FMI) a errada competência que cabe, isso sim, aos seus representados (Comissão Europeia, Banco Central Europeu (que também é uma instituição) e Fundo Monetário Internacional. É por isso que os maus dirigentes da União Europeia não podem ter bons representantes técnicos na dita «Troica».
E como o Parlamento Europeu fica à margem dos ultrapassados modelos de políticas financeiras, económicas e sociais das restantes instituições, os eleitores cada vez mais se abstêm nas eleições europeias, por aquele Parlamento ser dispensado, por ineficaz, das principais decisões sobre a crise.


terça-feira, 12 de março de 2013

Chávez não foi o último «comunista real» de Venezuela

“Não sou socialista. A América Latina requer que se dê um salto en frente. O meu signo é o bolivarismo”.
Hugo Chávez, candidato, 1998

Com a morte de Hugo Chávez não acabaram os verdadeiros e puros comunistas que governaram a Venezuela ao longo dos últimos catorze anos. Durante a campanha eleitoral de 1998, Chávez escondeu a sua verdadeira ideologia comunista, que não tardou a se manifestar na sua ação governativa.
No primeiro ato eleitoral afirmou que não era socialista. Mas também, hipocritamente, não disse que era comunista. Mas com as sucessivas alterações constitucionais, tendo em vista ser reeleito quantas vezes o povo quisesse, a Constituição não passava de um instrumento ao serviço do seu projeto.
Com as autorizações legislativas dadas pela Assembleia Nacional para governar autocraticamente, foram ampliados os seus poderes que já tinha no domínio dos tribunais e do exército, tendo, em 2002, aprovado uma lei que reformulou o Supremo Tribunal de Justiça, afastou os juízes opositores e nomeou 12 da sua confiança.
Com o controlo da comunicação social, ligada em cadeia nacional, o que pretendia era manipular o povo com a propaganda da sua ideologia totalitária.
Não renovou a licença da Rádio Caracas Televisão (RCTV), criada em 1954, sendo a televisão privada mais antiga da Venezuela, que foi nacionalizada por Chávez; promoveu ameaças constantes à televisão Globovision.
Fez constantes ameaças de nacionalizar Bancos, acupação de fábricas, a expropriação de empresas e propriedades urbanas e agrícolas.
Foi o culminar da visibilidade da dupla face de Chávez, que, paulatinamente, levou o país para um regime ditatorial da extrema esquerda, um verdadeiro comunismo, a que apelidou de «Socialismo do Século XXI», em que a expressão «revolução bolivariana» constituiu o condimento político para a campanha ideológica com vista à mentalização do povo.
O programa «Bairro Adentro» para fornecer cuidados de saúde gratuitos nos bairros pobres, com apoio de pessoal médico cubado, bem como aumento de salários e as «missões bolivarianas» de natureza social com dinheiro do petróleo, não podem nem devem servir de fundamento para gloficar a ação de Chávez nas suas missões totalitárias e de controlo da sociedade e promoção de exilados políticos no estrangeiro, só porque não faziam parte da sua tribo ideológica.

Sou excessivamente alérgico a todos os ditadores; a todos os populistas que não olham a meios para se perpetuarem no poder a qualquer preço; aos políticos mentirosos; aos que, hipocritamente, invocam o nome de Deus em vão; aos que se dizem nacionalistas e patriotas, apenas por interesse ideológico; aos que atuam ditatorialmente e com apetência para a instauração de uma ditadura de esquerda ou de direita.
Julgava eu que, com o advento do Século XXI, não surgiriam sobre a Terra mais políticos que pretendessem instaurar ditaduras, cujos efeitos perversos ainda são realidade neste Planeta. Já bastavam os que temos!
Mas, afinal, surgiu um prepotente, autoritário num país que não merecia tal “tortura”, depois de ter conquistado um regime democrático em 1958 quando foi derrubado o Governo ditatorial de Marcos Pérez Jiménez. A partir daí, a convivência democrática do povo foi capaz de aprofundar e consolidar um regime democrático na Venezuela, com alternância no Poder - com sistema de Governo presidencialista – embora não tivessem faltado graves desencontros sociais, económicos e políticos.
O fenómeno chavista está a tomar forma alienante de perpetuar no poder o seu verdadeiro comunismo, Mesmo depois da sua morte, muito provavelmente Chávez deixou um legado político que pode marcar a continuação de uma ditadura mais perversa da que Pérez Jiménez liderou, promovendo uma repressão feroz a quem se lhe oponha. A diferença pode ser apenas temporal.
E se nas próximas eleições de 14 de Abril os eleitores não derrubarem Maduro, a Venezuela corre o risco de ter um governo chavista sem Chávez, mas com a mesma ou pior política comunista. Porque a cópia de Chávez será certamente pior que o original!

terça-feira, 5 de março de 2013

Finanças da Madeira35 anos em estado de necessidade


“Esta coisa de dizer que não há ninguém, levou a que tivéssemos de aturar o dr. Salazar durante 40 anos. As coisas não são assim. Não há pessoas insubstituíveis. Num partido grande como é o PSD, há muita gente lá capaz de fazer o meu lugar. O meu problema é mesmo esse: a existência de várias pessoas não vai fazer com que o consenso à volta de uma só pessoa seja fácil”.
Alberto João, entrevista ao JM, 10/08/91.

“Não era aconselhável, porque eles ainda nos tiravam mais dinheiro, se andássemos a mostrar o jogo todo a um Governo socialista que não era sério. Nós estávamos em estado de necessidade e, por isso, agimos em legítima defesa”.
Alberto João Jardim, num comício na Ponta do Sol, 17/09/2011

Com a ascensão de Alberto João Jardim a presidente da Comissão Política Regional, em 21 de Agosto de 1976, o então PPD da Madeira foi sistematicamente orientado para desligar-se, definitivamente, do «25 DE ABRIL», tornando-se, pouco a pouco, num modelo de partido único. Esse figurino tornou-se mais patente a partir de 17 de Março de 1978, dia em que assumiu funções de Presidente do Governo Regional, cargo que nunca mais deixou, apesar de, várias vezes, ter referido que era o último ano que se candidatava. A primeira vez foi em 1984.
Ideologicamente autocrático e possessivo, salazarista e centralista por convicção, o sempre e ainda maquiavélico líder do PSD-M, no início da formação do partido, na Região, amuou e deixou de aparecer às reuniões, quando viu que a sua opinião era contrariada.
Em Janeiro de 1974, defendeu uma «Autonomia Selectiva», com uma forte dependência orientadora da Administração Central («Voz da Madeira» - 29/01/1974), mas, uma vez consagrada a Autonomia na Constituição da República de 1976, apanhou o comboio da Autonomia a grande velocidade, vestindo a roupagem da democracia e transfigurou-se  num ferrenho autonomista. Acabou por voltar a tempo de integrar a lista de deputados para as primeiras eleições regionais, realizadas no dia de 27 de Junho de 1976, tendo sido o primeiro da lista e, uma vez eleito, foi o primeiro líder parlamentar.

Ao chegar à Quinta Vigia teve uma gestão financeira, ao longo destes 35 anos, sempre de pendor de estado de necessidade, não só para garantir os milhões de subsídios a tudo o que interessava apoiar, mas também da senda de obras de vulto, tendo como promordial objetivo as inaugurações em períodos eleitorais.
Ao contrário do que se possa pensar, os problemas financeiros da Madeira não começaram em Setembro de 2011, quando foi descoberto que havia uma dívida de cerca de mil e cem milhões de euros, que não era conhecida das entidades nacionais.
- A primeira vez resultou no «Programa de Reequilíbrio Financeiro da Região Autónoma da Madeira», de 26/02/1986.
- Na segunda, surgiu o «Programa de Recuperação Financeira da Região Autónoma da Madeira», de 22/09/1989.
- A terceira foi no ano de 1998, ano da graça para a dívida direta da Região, quando António Guterres perdoou 110 milhões de contos à Madeira, correspondendo a 75 por cento da dívida direta total.
- Mas apesar daquele perdão, os problemas da dívida da Madeira não terminaram. Com calotes sobre calotes a economia regional não conseguiu gerar receitas para pagar as dívidas que se foram acumulando, até chegarmos à quarta intervenção do Estado no rombo financeiro da Região, consubstanciada no «Programa de Ajustamento Económico e Financeiro da Região Autónoma da Madeira», de 27/01/2012, decorrente da Carta de Intenções, de 27/12/2011.
Depois de tanto descalabro financeiro, que colocou a Autonomia em estado precário e sem poder real de a gerir, o maior problema de hoje é o facto de ainda permanecer à frente do Poder Regional a mesma força política que criou os problemas que levaram as finanças da Madeira ao permanente estado de necessidade.