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domingo, 29 de janeiro de 2017


Da confiança à crise dos Bancos (52)

DO «BANCO DA MADEIRA» (1920) AO «BANCO SANTANDER TOTTA»
Nos anos sessenta do século XX, “o Banco da Madeira tinha permanentemente elevados excessos de dólares, os quais era obrigado a vender ao Banco de Portugal em operações que se revelavam obviamente desvantajosas”. Enquanto nas transações de dólares feitas entre o Banco da Madeira e o Banco de Portugal, a diferença entre a compra e a venda daquela moeda era apenas de três centavos, os bancos continentais ganhavam nove centavos porque tinham a possibilidade de vender os dólares no Continente aos seus clientes importadores. O facto de na Madeira haver poucas importações diretamente do estrangeiro, a banca regional estava em desvantagens face aos bancos nacionais.
Com o intuito de ultrapassar a desigualdade ocorrida com a moeda estrangeira, o Banco da Madeira procurou uma solução pela via da fusão propondo-se comprar “um banco de pequena dimensão que operava no Porto e em Lisboa”, o que não aconteceu “por falta de consenso entre as partes interessadas”.

Em 1965, o Capital e Reservas do Banco da Madeira atingia o montante de 46 mil contos. O valor dos depósitos ascendia a 547.133 milhares de contos. O total do ativo era de 858.356 milhares de contos.
 Falhada a hipótese de compra de um pequeno banco, a solução dos grandes acionistas recaíu na venda de um grande lote de ações a um banco de prestígio, o que veio a acontecer com a incorporação do Banco da Madeira no Banco Lisboa & Açores. Teve a favor desta incorporação o facto do Banco Lisboa & Açores ter como presidente do Conselho Fiscal o Comendador Manuel Nunes Corrêa, personalidade que estava muito ligada à Madeira. Mas foram grandes impulsionadores da incorporação: por parte do Banco da Madeira o seu Presidente do Conselho de Administração, Dr. João Figueira de Freitas, e o Administrador, António Bettencourt Sardinha; por parte do Banco Lisboa & Açores, além do já referido Comendador, o Administrador Delegado, Dr. Alexandre Almeida Fernandes, e o membro do Conselho Fiscal, Dr. Francisco Galheiros.

Em junho de 1965, os Administradores do Banco Lisboa & Açores deslocaram-se à Madeira para oficializarem a compra do Banco da Madeira, cujo valor foi de 60.000 contos. Em 7 de dezembro daquele ano a Assembleia Geral aprovou por unanimidade a incorporação, tendo tal decisão sido apresentada ao Ministro das Finanças no dia 21 do mesmo mês. Em 24 de janeiro de 1966, foi lavrado o projeto do acordo entre as Administrações do Banco Lisboa & Açores e do Banco da Madeira para ultimação das formalidades inerentes à operação. Em março de 1966, concluiu-se a fusão por incorporação do Banco da Madeira no Banco Lisboa & Açores e, tendo em vista uma total autonomia, foi mantido o Conselho de Administração, que passou a denominar-se Conselho de Gestão. Este e o Conselho de Administração do Banco Lisboa & Açores promoveram, no Funchal, uma confraternização, para o qual foram convidados todos os clientes do Banco da Madeira, incluindo os residentes no estrangeiro, alguns destes deslocaram-se à Madeira para este efeito.
Apesar da opinião contrária e declarada oposição do Ministério das Finanças, do Banco de Portugal, da Inspeção de Crédito e Seguros e dos juristas do Banco Lisboa & Açores na manutenção do nome Banco da Madeira, associado ao Banco Lisboa & Açores, foram de grande firmeza a posição dos dirigentes do Banco da Madeira (embora já incorporado) em manter associado este nome.
(continua)

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domingo, 22 de janeiro de 2017


Da confiança à crise dos Bancos (51)

DO «BANCO DA MADEIRA» (1920) AO «BANCO SANTANDER TOTTA»
Faz parte da história do Banco da Madeira o facto de ter sido o primeiro banco a admitir uma mulher para o seu quadro de pessoal. Apenas os homens eram contratados para trabalhar em instituições financeiras. Mas a 27 de novembro de 1933, Capitolina da Silva Nunes foi “a primeira representante do sexo feminino a ingressar, com apenas 16 anos, no «mundo machista» da banca madeirense”. Com uma carreira bastante profíqua, era “carinhosamente tratada por todos os seus colegas e superiores hierárquicos”, vindo mais tarde a “fixar-se na Secção de Contabilidade, tornando-se uma profissional de reconhecidos méritos, em quem a Administração e chefias depositavam total confiança”.

Numa época em que o turismo da Madeira despontava com o incremento das ligações com o exterior, por via marítima, através de barcos de grande porte a escalarem o Porto do Funchal, proporcionava-se o desenvolvimento do comércio da cidade. O Banco da Madeira beneficiou do fluxo económico da Ilha ao longo dos tempos. Chegado o ano de 1959, o Conselho Fiscal, presidido por Vicente Braz Gonçalves, relevou “os métodos de trabalho, de rígida economia, de probidade sã, de prudência e de compreensão da realidade, que caracterizam a orientação sempre seguida pela Administração, fizeram com que possamos verificar com o maior prazer o elevado grau de prosperidade que alcançou o Banco e a posição de confiança que felizmente disfruta, de que é índice o aumento constante de depósitos que nele vimos notando, ascendendo a 433.274.512$82”.
Cabe ainda na continuada acção do Banco da Madeira o apoio às atividades económicas regionais, nomeadamente “financiar o primeiro navio fruteiro, adquirido na Alemanha pela Empresa de Navegação Madeirense, e já com dimensão ajustada às necessidades de transporte da Ilha”. Outro apoio financeiro destinou-se a “obras de remodelação do Hotel Savoy, na sua fase de construção, visto que o financiamento a longo prazo era feito pelo Governo através de um plano de reactivação do turismo”. O mesmo aconteceu com o apoio dado pelo Banco da Madeira à maior parte dos hotéis que vieram a ser construídos na Madeira.

Tendo em vista servir bem os emigrantes madeirenses e seus familiares, o Banco da Madeira nomeou correspondentes em toda a Ilha, que compravam a moeda estrangeira, sob a forma de cambiais, oriunda das remessas dos emigrantes, o que evitava deslocações ao Funchal para tal efeito. Mais tarde, foram criados serviços móveis (prospectores bancários), com viaturas do Banco que, “diariamente, a hora previamente combinada, visitavam os correspondentes e até mesmo os familiares dos emigrantes, recebendo os depósitos e os esclarecimentos e aconselhamento que os clientes desejassem”.
Em meados da década de sessenta do século XX, na Madeira, o Governo autorizou a abertura de agências de bancos que funcionavam no Continente, tendo-se entrado num regime de concorrência, por vezes muito agressiva, “oferecendo outras compensações sobretudo aos industriais de bordados e demais exportadores e empresas hoteleiras, a fim de que estes lhes vendessem os dólares com que eram pagas as suas mercadorias e serviços”.
As remessas de emigrantes  geravam um excesso de liquidez e, “como todas as operações activas que fossem propostas ao Banco e reunissem as necessárias condições de segurança, eram aprovadas, a solução foi encontrada através de acordos com as grandes instituições bancárias de Lisboa que não tinham agências na Madeira”.

(continua)

domingo, 15 de janeiro de 2017



Da confiança à crise dos Bancos (50)

DO «BANCO DA MADEIRA» (1920) AO «BANCO SANTANDER TOTTA»
A reestruturação do Banco da Madeira, permitida por lei do «Estado Novo» em 1933, contribuiu para a dinâmica financeira nos anos subsequentes. Chegado o ano de 1937, o Conselho de Administração afirma no Relatório e Contas que “este Banco prossegue a sua acção com resultados animadores, se atendermos à crise que esta praça atravessou e cujos efeitos se fazem ainda sentir”, tendo atingido um lucro no exercício de 385.848$55.
No ano de 1938, “manteve-se o lento e cauteloso crescimento, tendo-se verificado a libertação da última prestação da parte dos depósitos comuns do Banco da Madeira e do Banco Sardinha”. Revela um “lucro de 121.222$60 com a exploração da Fábrica de Aguardente de Machico e da liquidação dos negócios da Filial do Banco da Madeira, em Lisboa, depois de ponderadas várias circunstâncias”. Aquele ano ficou marcado pelo falecimento do Administrador Leonel Gonsalves Luíz, tendo sido substituído nas suas funções por Daniel Fernandes de Azevedo e, no ano seguinte, pelo doutor Fernão de Ornelas Gonçalves, que viria a ser presidente da Câmara Municipal do Funchal.
Os anos seguintes foram caraterizados pelo empenhamento da Administração e dos trabalhadores do Banco virado essencialmente para a vertente comercial e para o meio rural na perspetiva regionalista. O Relatório e Contas de 1945 revela que “o Banco começa a desempenhar efectivamente a função que presidiu à sua criação. Somos hoje um importante instrumento propulsor da vida económica local. A nossa situação e o apoio crescente que o comércio nos vem concedendo permite-nos encarar o futuro com confiança”, tendo obtido um lucro no montante de 1.053.909$88.
A Assembleia Geral do dia 6 de janeiro de 1946, presidida pelo doutor Juvenal de Araújo, revelou que a carteira comercial atingiu quase 20 mil contos e o valor dos depósitos ascendeu a cerca de 35 mil contos. Estes valores constituíram dois fatores positivos para o Conselho de Administração revelar que “Podemos hoje afirmar-vos - e fazemo-lo com incontida satisfação – que o vosso Banco está definitivamente consolidado. Assim atingiu-se a primeira grande meta da nossa vida”.
Quando, no fim da década de quarenta, o doutor Fernão de Ornelas Gonçalves deixou a Madeira e fixou-se no Continente, vendeu as suas ações que detinha do Banco da Madeira ao doutor João Figueira de Freitas, que era presidente do Conselho Fiscal, tendo este deixado essas funções para, na qualidade de acionista maioritário, assumir a Presidência do Conselho de Administração do Banco.
Nessa altura a crise da Madeira ia desvanecendo e as atividades económicas evoluíam com intensidade, de um modo especial a exportação para diversos mercados: bordados, obra de vime, vinho, banana e diversos produtos hortícolas. A safra da indústria do açúcar era totalmente financiada pelo Banco da Madeira que tinha a oportunidade de também colaborar com os agricultores “quando estes ao balcão desta instituição de crédito, recebiam o pagamento da cana do açúcar e efectuavam os seus depósitos”. A emigração retomou o ritmo histórico e as remessas dos emigrantes enviadas para a Madeira em moeda estrangeira “eram convertidas em escudos e depositadas a prazo no Banco da Madeira”.


(continua)
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domingo, 8 de janeiro de 2017

Da confiança à crise dos Bancos (49)

DO «BANCO DA MADEIRA» (1920) AO «BANCO SANTANDER TOTTA»
Pese embora fosse oficialmente reconhecida a crise económica e financeira vivida na Madeira ao longo da década de vinte do século passado, o texto preambular do Decreto-lei nº 23026, de 12 de setembro de 1933, que decidiu a fusão do Banco Sardinha e da Casa Bancária Rodrigues, Irmãos & Cª, no Banco da Madeira, constitui uma severa crítica à gestão do sistema financeiro regional. Começa por referir:
“A vaga depressiva que tam fundamente atingiu os valores e réditos da Ilha da Madeira, menos protegida do reflexo dos factores de desequilíbrio económico mundial que o continente, teve a agravá-la, desde o início, forte contracção do sistema do crédito local. Era este um agregado desconexo, sem consistente base económica e técnica, quási improvisado na maré optimista dos negócios, propenso aos abusos e indefensáveis facilidades, sujeito a erros geralmente cometidos e não isento também de desacertos e ilusões que na Ilha adquiriram relêvo invulgar. Uns cavaram a sua ruína, outros apressaram-lhe a queda, perdendo-se, sem remissão, alguns organismos bancários, de que há apenas a fazer o salvamento de destroços nas condições que o tempo e o mercado ditarem”. A seguir, o preâmbulo justifica tacitamente a fusão decidida no diploma legal, afirmando:
“ Existem porém estabelecimentos de crédito – como o Banco da Madeira e o Banco Sardinha – que têm sofrido mais da desconfiança geral e das consequências dos erros alheios do que pago os resultados das próprias faltas. Têm eles condições de vitalidade que tornam defensável a cooperação financeira do Estado, cooperação de que pode resultar a sua reorganização e regresso à função até há pouco desempenhada na economia madeirense”. Como justificação económica nacional prossegue:
“A intervenção do Poder em domínio que parece reservado às actividades particulares, além de uniformemente aconselhado pelos que com responsabilidade fizeram o exame da situação, deriva como imperativo dos considerandos de economia nacional, os mesmos que conduziram a igual procedimento em casos semelhantes a este. Naturalmente a assistência governativa aos bancos vai sujeita a condições, julgadas imprescindíveis, de prudência e de administração. Aproveita-se a oportunidade de criar um estabelecimento regional de crédito, suficientemente poderoso e sólido para dar à economia do arquipélago apoio sério, substituindo-se a dispersão de esforços por pequenas e médias casas, que, seja qual for a honestidade dos seus processos de trabalho, pouco podem representar. Se, nas condições previstas neste decreto, chega a constituir-se o novo Banco da Madeira,  com a fusão do Banco Sardinha e do Banco da Madeira em regime especial de moratória, e ainda da casa Rodrigues, Irmãos & cª, deve ficar saneado o meio bancário madeirense e o crédito voltar a dispor da expansabilidade precisa, utilizando o dinheiro fresco entrado, liquefazendo os créditos congelados, atenuando o entesouramento internacional e permitindo o regresso à confiança, sem a qual organismos desta classe não podem viver sem prosperar”.

Com a condescendência política e depois legal de Salazar, o novo Banco da Madeira prosseguiu a sua função com um capital social de 10.085.500$00, assinalado nas suas contas de 1934, e uma carteira comercial de 11.144.173$78 e um total de depósitos de 12.104.861$71, tendo obtido um lucro de 177.910$67.


(continua)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Da confiança à crise dos Bancos (48)

DO «BANCO DA MADEIRA» (1920) AO «BANCO SANTANDER TOTTA»
Na década de vinte do século XX, a economia portuguesa atravessou um difícil período e de forte instabilidade. Apesar dessa conjuntura, o Banco da Madeira conseguiu crescer lentamente e, mesmo ao longo da crise mundial dos anos trinta, conseguiu manter-se firme, embora sem aumentar a sua dimensão no mercado financeiro regional.
Naquela época, as dificuldades abrangeram todo o sistema bancário, comercial e industrial, nomeadamente falta de energia elétrica, eram insuficientes os meios de ligação com o exterior, os carros de bois eram o meio de transporte muito utilizado (especialmente para o transporte de mercadorias), os bens de consumo alimentar escassevam.
O Relatório e Contas de 1932 do Banco da Madeira salienta que algumas instituições de crédito da praça do Funchal “não conseguiram sobreviver a tão grande crise (…) a rarefacção do escudo, que por diversas vezes se manifestou e intensificou, deu origem a necessidades lentas e continuadas de dinheiro que vieram directa e indirectamente pesar sobre as nossas caixas, principalmente no primeiro semestre de 1932. Como era natural e lógico, aumentavam as dificuldades de cobrança e, sobretudo, de desimobilizações”. A Direção do Banco da Madeira reconhece que “foi diante de tais emergências, realmente impeditiva de toda a normalidade desejada, que nos dirigimos ao Ministro das Finanças a dar-lhe conta do sucedido”.

A crise então vivida determinou que, pelo Decreto-lei nº 23026, de 12 de Setembro de 1933, fosse decidida a fusão do Banco Sardinha e da Casa Bancária Rodrigues, Irmãos & Cª, no Banco da Madeira. A crise também havia afetado de tal ordem as duas primeiras instituições que a sua fusão no Banco da Madeira evitou um fim trágico.
Com a fusão, no prazo de dois meses nasceria um “novo” Banco da Madeira com o capital social de 10.000 contos, o qual era formado pelos saldos ativos e pela parte proporcional dos depósitos de débitos dos existentes Banco da Madeira e Banco Sardinha. Em simultâneo, a Caixa Geral de Depósitos outorgou um financiamento ao novo Banco da Madeira, através de obrigações, num total de 15.000 contos ao juro de 6%, o que determinou que ao Banco da Madeira a segunda e nova etapa da sua existência com empenho e segurança, por forma a propiciar uma ajuda válida ao crescimento e desenvolvimento da indústria e comércio regionais.
A Administração do renovado Banco da Madeira foi constituída por Leonel Luíz, pelo antigo banco do mesmo nome, por António Bettencourt Sardinha, pelo Banco Sardinha, e pelo Dr. Juvenal Henriques de Araújo (mais tarde substituído por Alfredo Campanella, quando foi eleito deputado à Assembleia Nacional), em representação da Casa Bancária Rodrigues, Irmãos & Cª.

No relatório do Banco da Madeira, do período de 27 de novembro de 1933 a 31 de dezembro de 1934, o Conselho de Administração congratula-se com a decisão tomada salientando que “os resultados apresentados não podem ser, infelizmente tão satisfatórios como desejamos (…) findo o período de reorganização constata-se com aprazimento o movimento sempre crescente que têm tido os nossos serviços – demonstra-se, assim, que o Banco da Madeira corresponderá ao objectivo com que foi criado (…) pouco mais de um ano de existência e é já de salientar  a acção exercida pelo Banco da Madeira para acalmar a vida económica madeirense bastante perturbada pela crise bancária deflagrada em 1930, cujas funestas consequências têm vindo a  repercutir-se hoje”.


(continua)
Da confiança à crise dos Bancos (47)

DO «BANCO DA MADEIRA» (1920) AO «BANCO SANTANDER TOTTA»
A criação do Banco da Madeira constituiu tão relevante acontecimento financeiro e económico na Madeira que a edição do dia 8 de maio de 1920 do «Diário de Notícias» refere:
“Tem já as suas instalações provisórias, realizada a percentagem de 20% sobre os 2.000 contos, que será o arcaboiço financeiro da sua primeira fase, nomeados os seus directores que são incontestavelmente dos nomes que mais podem satisfazer as melindrosas exigências da praça, redigidos os seus estatutos que vão na obediência à orientação moderna, feita a sua constituição provisória, em conformidade às prescrições da lei, espera tão somente a satisfação de meras formalidades da burocracia, para poder desde já iniciar as suas funções, o anunciado Banco da Madeira”
Em fevereiro de 1921, o Banco da Madeira eleva para 400 contos o seu capital social. Facto que foi reconhecido por todos os sócios que o novel Banco, nas condições em que se fundou, vive e se desenvolve, representando o equilíbrio da praça madeirense. O Relatório e Contas de 1921, publicado em 19 de janeiro de 1922, constata o positivismo dos resultados da nova instituição bancária regional. Assinado pelos diretores Pedro José Lomelino e Romano Marques Caldeira, o
Relatório salienta:
“Cumpre-nos confessar que não foi isenta de preocupações a nossa gerência, porquanto as sucessivas e bruscas oscilações cambiais exigiram de nós muita ponderação e reflectido cálculo em todas as transacções (…) conseguimos também satisfazer aos instantes pedidos de crédito da nossa já hoje considerável clientela, correspondendo, assim, ao objectivo a que presidiu a fundação do Banco da Madeira, o qual foi ajudar na máxima largueza o comércio, pois que da classe comercial lhe tinha vindo toda a coesão e unidade”.
O lucro líquido do exercício de 1921 atingiu 636.463$16,5, quase o triplo do lucro de 1920 (257.912$33.5). Mas de acordo com o relato feito aquando das comemorações do 75º aniversário (já como Banco Totta & Açores), “Os exercícios que se seguiram a 1921 não parecem, no entanto, haverem decorrido da forma provavelmente mais desejada pelos construtores do Banco da Madeira, o que aliás nem chega a surpreender, tendo em conta a situação de grave crise financeira e de instabilidade política que então se vivia. Porém, o Banco da Madeira lutava com falta de capitais próprios e os capitais alheios tinham pouca expressão, sendo, por outro lado, pouco significativas as transacções comeriais”.

O Relatório de 1927 destaca que “Não obstante a crise por que tem passado o distrito não se ter ainda dissipado, o nosso lucro líquido tem sucessivamente aumentado desde 1925. Esse resultado bem demonstra a confiança com que o público continua a dispensar a este organismo bancário e que esperamos se acentue cada vez mais. A já sete anos de distância, os lucros líquidos surgiram agora aumentados de apenas cerca de trinta contos, diferença que, reflectindo uma certa contracção e abrandamento, parece ter feito esbater um pouco o entusiasmo inicial”.
A explicação para a crise que atingiu a economia regional foi dada pelo Conselho Fiscal do Banco da Madeira - constituído por João de Freitas Martins, João Anacleto Rodrigues e Francisco Alexandrino Rebelo: “Apesar do louvável esforço da Direcção no exercício de 1927, a crise que o comércio e indústria atravessaram havia criado a todas as instituições bancárias uma situação embaraçosa e difícil, situação calamitosa da praça, a qual não permitira uma desmobilização tão rápida quanto seria de desejar”.


(continua)