Pesquisar neste blogue

domingo, 19 de novembro de 2017

Da confiança à crise dos Bancos (94)
Da criação do Banco Português de Negócios (BPN) à sua nacionalização e venda
O BPN foi criado em 1993, com sede em Lisboa, como banco privado atuando no setor da banca de investimento. Resultou da fusão estratégica das sociedades financeiras Soserfin-Serviços Financeiros, S. A.  e o Norcrédito, que eram pouco expressivas no panorama do sector em Portugal. Tal situação serviu de incentivo para encontrar uma solução mais relevante que as colocasse definitivamente no panorama da economia portuguesa.
Do historial do BPN consta que as primeiras moedas e notas a entrarem nos seus cofres “pelas mãos dos seus clientes foram entregues em 1993, mas a verdadeira revolução da estratégia da empresa e de tudo aquilo que lhe está associado apenas teve lugar cinco anos depois, altura em que a administração de até então foi substituída por uma equipa bem mais dinâmica e apostada em desenvolver competências de futuro. No entanto, os primeiros passos não foram fáceis. Mas em 1998 “surgiu um novo e inédito fôlego de juventude que veio mudar o rumo dos acontecimentos”. Américo Amorim, na altura o maior accionista do banco, abandona a instituição. “Em 2002, compra o banco Efisa e a corretora Fincor. Adquire igualmente o Banco Insular, de Cabo Verde, sem comunicar a sua aquisição ao Banco de Portugal que é o supervisor do sector em Portugal. Um ano depois, em 2003, inicia a sua operação no Brasil. Em 2005, 20% do BPN Brasil é adquirido pelo Banco Africano de Investimento (BAI), uma instituição privada angolana. Dois anos mais tarde, em 2007, o Banco de Portugal solicita ao grupo Sociedade Lusa de Negócios/BPN a clarificação da sua composição acionista e a separação entre a sua área financeira, BPN e Real Seguros, e não financeira SLN Investimentos e Plêiade e Partinvest”.
“A pouco mais de 600 dias para o final do milénio, a gestão do BPN decidiu expandir o seu negócio a toda a escala de possibilidades e foi devido a esse impulso (muito) bem pensado que alcançou notoriedade em Portugal e tomou uma orientação virada para rumos concretos que até então não se tinham explorado, apostando simultaneamente na criação de uma rede de balcões com o intuito de abraçar desafios aliciantes (…) no seguimento do posicionamento estratégico de curto prazo, o BPN renovou as suas prioridades e apontou forças para a criação e consequente aproveitamento de áreas com apoio escasso que estivessem na vanguarda da inovação. A missão foi bem executada e originou parcerias que mais tarde vieram a desempenhar um papel determinante no futuro da instituição bancária que se tornou numa das entidades referência nos sectores-chave dos investimentos de alto risco e rentabilização privada de recursos monetários. O veloz avanço do volume de negócios do BPN tornou-se num dos seus maiores trunfos, tendo funcionado paralelamente como o tónico ideal para a elaboração de planos com vista à captação de mais clientes, embora desde cedo se tenha percebido que o seu público-alvo não era a classe social baixa ou média baixa, mas um segmento com algumas posses para aplicar em fundos sem garantias absolutas de retorno. Contudo, esse facto não foi obstáculo e graças a um bom ritmo foram surgindo interessados em experimentar os serviços de um banco que começava a crescer a olhos vistos após um início nada prometedor”
A Sociedade Lusa de Negócios (SNL) foi uma holding portuguesa fundada em 1999 e detinha o BPN, SGPS na área financeira, bem como empresas de outros setores.
 (continua)

gregoriogouveia.blogspot.pt

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Da confiança à crise dos Bancos (93)

Do Banco Português do Atlântico (31/12/1942) ao Millennium BCP:

Com um capital social de 4.094.235.361,86 euros, o BCP foi o primeiro grande banco a rever para todos os clientes os «spreands» no crédito à habitação ao longo do ano de 2015. Cortou tanto à margem mínima e máxima, passando a apresentar a taxa mais baixa do mercado para a compra de casa (2,25%) a partir do mês de fevereiro. Fez um corte de 25 pontos base nas margens de crédito, com a máxima a descer de 4,75% para 4,50%, que o colocou como a instituição com o melhor «spread» para aquisição de habitação entre os bancos de referência do mercado nacional.
Das informações publicadas no Portal do BCP em 2016, foi anunciado: “No Millennium bcp acreditamos que, para apoiar a internacionalização e reforçar a competitividade das Empresas portuguesas, temos que apostar no profissionalismo e estar mais próximos do seu negócio. Com esse objetivo que decorrem as "Jornadas Millennium Empresas", encontros que percorrem o país de Norte a Sul, e com os quais se pretende promover parcerias e reforçar os laços comerciais já existentes. Durante estes encontros foram abordados temas relacionados com as perspetivas económicas do País e das Empresas locais, bem como a oferta do Millennium bcp para a dinamização da atividade empresarial”. No dia 19 de maio estaremos no Funchal, com a presença do Dr. Miguel Albuquerque, Presidente do Governo Regional da Madeira, e do Dr. Nuno Amado, Presidente da Comissão Executiva do Millennium bcp, para além de um conjunto de personalidades de referência na vida económica da Região. Ao início da tarde terão lugar 3 Workshops Temáticos sobre o Programa Madeira 14-20, Soluções de Tesouraria e Financiamento e de Trade Finance, que são espaços de debate e de partilha de experiências”.
Na sua intervenção, no Funchal, o presidente executivo, Nuno Amado, afirmou que “o Millennium bcp está a posicionar-se como o banco que aguentará as pretensões do Banco Central Europeu de concentrar, cada vez mais, o sector em instituições mais sólidas. Em Portugal, aponta-se para a sobrevivência de um banco público e um privado (…) resistência e resiliência são os trunfos que resultaram dos piores anos da crise, fruto dos excessos da banca que assumiu riscos em demasia e taxas de juro arriscadas, ao ponto do BCP ter atingido um rácio de 100 depósitos por vada 170 créditos. Foi preciso um enorme ajuste e caso se confirmem os propósitos do BCE que, com a União Bancária, obrigue a uma maior concentração do setor, será o Millennium bcp a sobreviver. Isto porque soube adaptar-se aos três pilares do banco central que são uma supervisão mais exigente, processos de resolução transitórios e uma aposta na garantia do depósito, que falta ser efectivada”.
Chegado o ano de 2017, foi aventada a hipótese de o BCP vir a poder ser ator de um plano B para a Caixa Económica Montepio Geral, e que passaria por ser a Fundação Millennium bcp a entrar no capital e não o banco diretamente, o que não se verificou.
Em 27 de julho, Nuno Amado apresentou os resultados semestrais, passando de prejuízo a lucro de 89,9 milhões de euros, mas tendo um stock elevado de ativos por recuperação de crédito. Em junho, o BCP tinha 1,8 mil milhões e euros de imóveis (1,6 mil milhões líquidos de imparidades). Tratou-se de um problema estrutural de iparidades que abrangeu todo o sistesma financeiro, que se revelou a partir da crise de 2008.


Ao longo de várias semanas, procurei deixar a minha resumida análise dos aspetos mais relevantes da riquíssima história do BPA até chegar ao Millennium bcp.

domingo, 5 de novembro de 2017

Da confiança à crise dos Bancos (92)

Do Banco Português do Atlântico (31/12/1942) ao Millennium BCP:

Para evitar despedimento coletivo no BCP, a administração e os sindicatos dos bancários chegaram a um prévio acordo, no final do ano de 2013, para um corte temporário dos salários, entre os 3% e os 11%, abrangendo todos os trabalhadores (quase 6.000) com remunerações acima dos mil euros brutos por mês. De acordo com o compromisso os cortes manter-se-iam em vigor até a saída do investimento público. Mas quando o banco regressasse aos lucros, seria levado à assembleia-geral uma proposta para que os trabalhadores recebessem o valor cortado.
De acordo com Paulo Alexandre do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, “Fizemos isto a pensar no interesse dos trabalhadores e não do sindicato porque sabemos que podemos perder associados que discordam da nossa posição”. Face ao acordo, a partir de meados de fevereiro de 2014 os sindicatos da FEBASE enviaram cartas com boletins de voto aos trabalhadores do BCP, para que estes se pronunciassem sobre os cortes salariais acordados com o banco.
Esta medida preventiva teve a ver com o plano de reestruturação que o BCP acordou com Bruxelas, após o Estado ter aplicado 3.000 milhões de euros no banco para o recapitalizar. Aquele plano previa a redução do número de trabalhadores em Portugal para 7.500 até final de 2017, significando menos 1.084 do que os 8.584 que o banco tinha no final de 2013, ano em que saíram 398 trabalhadores. No final daquele ano, o BCP tinha 774 agências, menos 65 do que em
2012, mas com o objetivo de reduzir para 698 agências até 2015.
A carta que os sindicatos enviram aos trabalhadores continha a pergunta a que deveriam responder «sim» ou «não», cujo teor á o seguinte:
“Aceita o teor do memorando acordado entre o BCP e a FEBASE – já do seu conhecimento pelas cartas enviadas – que poderá evitar um despedimento colectivo e permitirá ao banco que a reestruturação a que está obrigado por força do acordo com a DGComp (Direcção-Geral da Concorrência da Comissão Europeia) se faça, preferencialmente, com recurso a reformas antecipadas e rescisões por mútuo acordo”.

Quando, no final de outubro de 2014, foi anunciado que o BCP foi o único banco português a “chumbar” nos testes de «stress» do Banco Central Europeu no cenário mais adverso, O Presidente do banco, Nuno Amado, referiu que “com números de 2014, o BCP não chumbava (…) o banco passaria nos testes de “stress” do BCE e da Autoridade Bancária Europeia (EBA) se fossem feitos tendo em conta os dados atuais e não de dezembro de 2013 (…) o banco não vai precisar de um aumento de capital nem vender ativos”.
Este teste destinou-se a avaliar a capacidade de resistência dos bancos, perante uma crise económica e financeira, a qualidade dos ativos e carteira de crédito. Para passar no texte o banco deveria dispor de rácio mínimo de 8% de capital no Common Equity Tier 1 (rácio de capital que está a ser usado para medir a solvabilidade dos bancos) no cenário económico e financeiro base e de 5,5% no cenário adverso. Neste exame, no total, chumbaram 25 dos 130 bancos europeus.
No final de 2014, o resultado líquido foi negativo em 217,9 milhões de euros, embora tivesse melhorado face a 2013 que foi negativo em 740,5 milhões de euros.
A melhoria deveu-se à atividade internacional e pela evolução favorável da rendibilidade da atividade em Portugal, “suportada no desempenho positivo do produto bancário, tal como a margem financeira e dos resultados em operações financeiras”.
Nos fatores negativos estão, entre loutros, “juros associados à emissão de «CoCo» de 162,8 milhões de euros e o esforço das imparidades para riscos de crédito”.

(continua)