Refugiados sem terra
prometida
O atual drama dos refugiados constitui um fenómeno e desacerto
humanitário pior que o movimento dos povos revelado pela história da
antiguidade oriental e das grandes guerras dos séculos posteriores.
Quando, cerca do ano 1900 antes de Cristo, Abraão deixou a Caldeia
e emigrou com seu povo e rebanhos para a Palestina e, depois, para o Egipto,
fixou-se nos melhores terrenos agrícolas, tendo-os desenvolvido, chegando a
enriquecer e aumentar a população do povo Hebreu. Com inveja da prosperidade
dos Hebreus, os Egípcios iniciaram uma violenta perseguição contra aqueles.
Apostando na aniquilação dos Hebreus, o faraó egípcio ordenou que fossem
lançados ao rio Nilo todos os recém-nascidos varões, filhos de Hebreus. Mas
quando o menino Moisés foi salvo do Nilo e se tornou o chefe dos Hebreus, estes
quiseram sair do Egipto para regressar à sua terra prometida – a Palestina -
mas foram impedidos pelo rei, porque,
embora odiados, faziam falta no trabalho. O êxodo dos Hebreus apenas foi permitido
quando o Egipto foi assolado com muitas calamidades, chegando à Palestina 40
anos depois, mas sem o chefe Moisés, por ter falecido.
Quando, em 1940, estavam eminentes
ataques da Alemanha, liderada pelo nazi Hitler, a Gibraltar que foi
transforma numa base militar, cerca de 14 mil gibraltinos foram obrigados a
abandonar tudo o que tinham e refugiarem-se noutros países até terminar a II
Guerra Mundial. Daqueles
refugiados, a Madeira prontificou-se a acolher cerca de 2500, tendo chegado ao
Funchal entre 21 de julho e 13 de agosto daquela ano, na sua maioria mulheres e
crianças. Ficaram instalados em casas particulares, pensões e hotéis,
integrando-se perfeitamente na sociedade madeirense.
Por causa de guerras de natureza diferente, mas causadoras de insegurança e fome, o século XXI está a ser fértil em refugiados que estão localizados em alguns países do norte de África e no Médio Oriente. Dos cerca de 20 milhões de habitantes da Síria, cerca de 12 milhões estão deslocados. Mas já desde 1991 funciona o Centro Português de Refugiados e, em 2005, vieram para Portugal alguns refugiados da Palestina. E, desde 2006, o Centro de Acolhimento, na Bobadela, já acolheu centenas de refugiados.
Agora, nem há “terra prometida” porque os
migrantes/refugiados da nova vaga desesperam por encontrar refúgio em países,
cujos governos a muito custo os aceitam. Querem entrar em países da União
Europeia, onde os fracos e hipócritas dirigentes são incapazes de tomar medidas
rápidas de acolhimento de milhares de deslocados que fogem da morte, acabando
por encontrar entraves de toda a ordem com ausência de proteção. E muitos
morrem sem atingir o desejado destino. Não há rio Nilo mas há Mar Mediterrâneo
que serve de sepultura a muitos dos cerca de 500 mil deslocados!
Muitos «muros da vergonha» foram e são construídos para travarem o
avanço seguro dos migrantes e refugiados. Nem convenções internacionais, nem
Tratado de Chengen dão adequada proteção internacional a quem não tem outra
forma de sobreviver senão deixar tudo o que tem e partir para lugar incerto.
Nem são emigrantes nem terroristas. É a
sobrevivência que está em causa.
A Hungria, país membro
da União Europeia, construiu muros de arame farpado para estancar a entrada de
refugiados, sem oposição dos dirigentes das instituições europeias. Mas outros
muros, noutros países e regiões do globo foram construídos com fins semelhantes.
A Muralha da China, estrutura de arquitetura militar, tinha a função
de defesa. O Muro de
Berlim servia para impedir a passagem de
pessoas da Alemanha de Leste para ocidente. O muro na fronteira dos Estados Unidos
da América com o México, iniciado em 1994,
serve para impedir a entrada de imigrantes ilegais nos Estados Unidos.
Da história dos imigrantes ilegais/refugiados ressalta,
atualmente, duas questões importantes a ter em conta: a primeira é haver
capacidade dos governos para estancar a saída de população, modificando e
acabando com fatores militares, económicos e sociais que estão na origem dos
movimentos dos povos para lugares não garantidos; a segunda é aceitar nos
países de destino os que não podem regressar ao país de origem, tratando-os
como pessoas de direito, mas cuidando da sua segurança e enquadramento no meio,
sem demagogia e sem laxismo. A Madeira pode e deve dar o exemplo dos
Gibraltinos!