Da emigração
tradicional ao êxodo atual
“Emigrante, vou partir,
Levo uma esperança a sorrir
Dentro do meu coração.
Porque não hei-de cantar
Se vou em busca do pão?!”
1938 - In Canção do Emigrante da Revista
«Sol de Inverno».
Com maior ou menor fluxo a Madeira foi
sempre terra de emigrantes, quer no conceito
tradicional do termo, quer no atual conceito de sazonalidade. Os
primeiros são os que, desde o século XVI, procuraram trabalho fora da Madeira.
Os segundos são tidos como os que vão trabalhar, por curtos períodos, para
países europeus. Hoje, estes últimos transformaram-se já em emigrantes
definitivos, porque a Autonomia da Madeira, consagrada constitucionalmente em
1976, não foi capaz de fixar os madeirenses no seu território. Diria que temos
uma Autonomia que expulsa a população ativa! Com a adesão de Portugal à União
Europeia, o fenómeno da livre circulação de trabalhadores contribuiu para que o
conceito de emigrante tomasse outro sentido, embora na prática continuem a
existir emigrantes que parecendo sazonais são permanentes.
Não se pode analisar a Região sem ter em
conta o fenómeno emigratório passado e presente. Ele tem reflexos nas remessas
financeiras e também na baixa do desemprego. Se tivermos em conta a análise
comparativa entre o número de desempregados e de emigrantes ao longo dos
tempos, verificamos que, sempre que aumenta o número de pessoas que emigra,
baixa a taxa de desemprego. Também a emigração tem efeitos na população
residente.
Nas suas memórias, Frei Gaspar da Madre de
Deus refere que, por volta de 1525, já havia emigrantes madeirenses na
Capitania de São Vicente do Brasil, especialmente empenhados “na introdução e
ensino da cultura da cana sacarina” e que “Antão de Leme, madeirense de
nascimento, era juíz ordinário” daquela Capitania.
Na «Epopeia do Emigrante Insular», Mota de
Vasconcelos refere que em 1753 saíram muitos indivíduos para os Estados Unidos
da América, quase sempre clandestinamente, para fugirem “à miséria que afligia
a população da Madeira”. E que em 1792 emigraram muitas famílias madeirense
para aquele país por causa da perseguição que os mações sofreram nesse ano.
Entre 1835 e 1855 saíram da Madeira “cerca de quarenta mil emigrantes com
destino ao Brasil e Estados Unidos da América”. E que “a emigração da Madeira
para as Ilhas Canecas (Sandwich ou Hawai) teve início em 1878” , bem como “De 1883 a 1887 saíram novas
levas de emigrantes para aquelas ilhas distantes, o mesmo sucedendo em 1809 e
1911, e ainda noutros anos”.
A forte emigração de madeirenses para
Demerara teria começado por volta de 1840 e seguintes, em cerca de 5 000 por
ano. Desde 1842, o governo inglês pagava os transportes, devido à falta de
mão-de-obra. Depois de meados do século XIX, a doença nas vinhas tradicionais
da Madeira provocaram um grande fluxo de emigrantes para fugirem à fome.
Entre 1939 e 1950 saíram da Madeira 18 772
emigrantes, não por espírito de aventura, mas por necessidades económicas e,
durante os treze anos de Guerra Colonial, milhares de jovens emigraram para
fugir à guerra, por vezes famílias completas. Um estudo elaborado em 1979
estimou terem emigrado da Madeira, entre 1961 e 1977, 34.100 pessoas, dos quais
20.100 entre 1961 e 1974 (fase da Guerra Colonial).
Os emigrantes de hoje abrangem também
jovens licenciados com as mais diversas formações académicas para fugirem à
«guerra financeira» e aos ataques ao desenvolvimento e à redução acentuada de
salários. O fenómeno é tão grave que é bastante revelador da acelerada
decadência da economia da Madeira.
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