Pesquisar neste blogue

domingo, 29 de março de 2020


PS-Madeira – Estruturas, Congressos e Líderes (7)

No PS-Madeira, foi a primeira vez que um candidato desistiu alegando métodos pouco democráticos, levados a cabo pelos dirigentes que dominavam o aparelho partidário. E infelizmente, a existência de tais métodos foi um facto porque os seus autores eram peritos em tais práticas.
Mota Torres ficou só na corrida à liderança com a sua moção «UMA AUTONOMIA PRESTIGIADA. A MADEIRA RESPEITADA». Os objectivos de 1993: «Unir, Prestigiar e credibilizar o PS-Madeira» não tiveram real expressão nos dois anos de liderança que estava prestes a terminar, apesar dos resultados obtidos nas eleições autárquicas e nas  europeias. Dadas as circunstâncias de recandidatura, a moção era mais pragmática do que a de 1993. Para o futuro, previa novo dinamismo porque tinha pela frente “dois anos para dinamizar (...) dois anos para mobilizar (...) uma estratégia para ganhar”.
Por sua vez, a moção de António Loja (que depois desistiu) intitulava-se «Um PS PARA TODOS». Lançava para o debate interno a questão do “Viver em democracia” e da existência de “Défice Democrático” na Região. Mas no plano interno, António Loja questionava: “Mas teremos nós autoridade moral para criticar os defeitos dos outros quando nós mesmos os admitimos na nossa casa? Será legítimo referir o défice democrático quando praticado pelo PPD e esquecer que nós mesmos toleramos algo de semelhante dentro do P.S/Madeira?”. Com uma estratégia para a acção futura, a moção confrontava os socialistas com várias questões de âmbito regional, nomeadamente quanto à luta “por uma TV de qualidade” e o desejo de lutar “por uma informação isenta”.  E terminava alertando: “Se os socialistas cederem, por exemplo, à moda do liberalismo económico e das privatizações sem freio; se os socialistas permitirem que o seu silêncio seja entendido como descrença na planificação ou como desistência na participação activa e dinâmica nos sectores básicos da economia, então estarão a atraiçoar as suas crenças, os seus valores e a sua ideologia. É por isso que é necessário mantermo-nos atentos às crenças, aos valores e às ideologias e tornarmos bem claro, agora que se discutem moções e se debatem estratégias, que, se uma estratégia inteligente e astuta nos pode conduzir à vitória eleitoral, a falta de coerência ideológica e o pragmatismo idiotizante nos conduzirão à derrota final e ao descrédito face aos cidadãos desta Região Autónoma”.
Como não podia deixar de acontecer, a desistência de António Loja motivou a não participação e a travessia do deserto partidário de muitos militantes nos novos órgãos. Apesar disso, nos 61 nomes da nova Comissão Regional, que elegeu Mota Torres como Presidente do PS-Madeira, figuravam os de João Conceição,  Duarte Caldeira, Fernão Freitas, Luís Amado, Maria Luísa Mendonça, Gil França, André Escórcio, Arlindo Oliveira, Emanuel Sabino Gomes, Rita Pestana, João Isidoro, Rafael Jardim, Jorge Martins, Quinídio Correia e Joaquim Ventura.

domingo, 22 de março de 2020


PS-Madeira – Estruturas, Congressos e Líderes (6)

VIII Congresso (continuação)
O texto salienta que “a unidade não é nem pode ser um artifício, nem ser apresentada ridiculamente, por razões de conveniência interna como sendo real, quando os acontecimentos se vão encarregando de dramaticamente as desmentir. O PS/Madeira tem vivido de há bastante tempo a esta parte um clima de falsa unidade (...) exige-se do PS/Madeira, na lógica imperiosa da sua unidade, do seu prestígio e da sua credibilidade perante o eleitorado, que os comportamentos individuais e colectivos sejam radicalmente diferentes dos que até aqui têm sido cultivados”. A determinada altura do texto é referido que “Em surdina, de momento a momento, «grita-se» a angústia. Pela nossa parte, bem alto respondemos, presente!”
O número de delegados ao Congresso, favorável a Mota Torres, era denunciador que este sairia vencedor, o que aconteceu, destronando, assim, Jardim Fernandes que, há treze anos consecutivos, liderava o PS-Madeira.

CONVENÇÕES

Uma mudança estatutária determinou a substituição do tradicional Congresso pela CONVENÇÃO. Dado que já tinham tido lugar duas convenções para tratarem de temas específicos, a 3ª CONVENÇÃO DO PS-MADEIRA (12 de Fevereiro de 1995) foi a primeira que se realizou nos novos termos. No dia 22 de Janeiro, nas estruturas de base, os militantes elegeram os delegados à Convenção e, em simultâneo, a Comissão Regional. Esta, por sua vez, no dia 5 de Fevereiro, elegeu o presidente do PS-Madeira com base em moções de orientação política, assim como elegeu os restantes órgãos regionais. Ou seja, no dia da Convenção, já todos os órgãos partidários estavam eleitos. No fundo, a Convenção serviu para analisar políticas a seguir daí em diante sem estar preocupada com o frenesim habitual dos congressos quanto à eleição dos dirigentes partidários. O tema que esteve em debate na Convenção foi «A REGIÃO, O ESTADO, A EUROPA», consubstanciado num texto aprovado pela Comissão Regional. Tratou-se de um importante documento que abarca questões como ”O DESENVOLVIMENTO DA MADEIRA NO CONTEXTO NACIONAL E EUROPEU”, a “REFORMA DO SISTEMA POLÍTICO”, “POR UMA POLÍTICA DE SOLIDARIEDADE E DE COESÃO NACIONAL”  e a “MADEIRA NA EUROPA”. Fala da  “Revisão da Constituição”, do “Combate à Corrupção e pela Transparência”, de “Um novo Regime Económico e Financeiro”, de “Uma Política de Transportes e Comunicações”, dos “Custos da Ultraperiferia”, do “POSEIMA” e dos “Desafios do Desenvolvimento”.
Mas esta mudança de modelo orgânico não evitou que aparecessem concorrentes à liderança:  Mota Torres recandidatou-se e surgiu um novo protagonista que foi António Loja. A campanha eleitoral não foi pacífica. António Loja viu e sentiu que o seu concorrente, Mota Torres, aproveitou a máquina partidária a seu favor. A desigualdade de meios levou António Loja a desistir da corrida no dia 12 de Janeiro, não chegando a apresentar listas para delegados nem para a Comissão Regional. A sua conferência de imprensa foi demolidora ao afirmar que houve uma “deliberada sonegação de listas de militantes que impediu contactos atempados com estes”; que os seus apoiantes “não vão pactuar, no PS/Madeira, com comportamentos anti-democráticos”;  que “o PS não pode copiar os métodos do PPD” nem “pactuaremos, no PS/M, com qualquer clientelismo. O clientelismo deve continuar a ser monopólio do PPD. Não pactuaremos, no PS/M, com qualquer culto da personalidade. Este deve ser exclusivo  do ditador da aldeia, Alberto João Jardim”.

(Continua)


terça-feira, 17 de março de 2020


PS-Madeira – Estruturas, Congressos e Líderes (5)


Com o VIII CONGRESSO (13 e 14 de Fevereiro de 1993) surgiu nova (des)ordem interna quanto à concorrência pela liderança. Emanuel Jardim Fernandes e Ricardo Freitas retomaram a apresentação de moções de orientação política global e listas separadas para a Comissão Regional. Sérgio Abreu e João Paulo Gomes, pela Juventude Socialista, também subscreveram uma moção global, embora não tivessem em vista concorrer à liderança do Partido.
Para além dos dois primeiros, não se perspetivava outra candidatura. Só que uma terceira estava a ser preparada, há algum tempo, na “clandestinidade”. Tratava-se do chamado «Grupo dos Cinco», liderado por Mota Torres que nos congressos anteriores tinha alinhado sempre ao lado de Jardim Fernandes. Esta candidatura deveu-se a um ajuste de contas com Emanuel Jardim Fernandes pelo facto deste não o ter integrado no primeiro lugar da lista de deputados nas eleições para a Assembleia da República, realizadas em 6 de Outubro de 1991. A oposição de Mota Torres a Jardim Fernandes começou precisamente no dia em que a Comissão Regional, realizada no dia 14 de Abril de 1991, rejeitou a lista alternativa apresentada por aquele. A lista, com Mota Torres à cabeça, integrava Quinídio Correia, Sousa Melo (este aí incluído na sequência de um acordo entre o proponente e o grupo «Mais Ilhéus, Menos Ilhas»), Duarte Teives e Carlos Varela.
Neste congresso, que foi antecedido por uma agitação interna e por críticas a Jardim Fernandes, estavam em cena quatro moções de estratégia política. A de Jardim Fernandes, denominada «CONTINUAR A CRESCER, GANHAR A MADEIRA», com um pendor regionalista, retomava a necessidade de “inovar na organização interna do PS, o seu relacionamento com a sociedade”, além das orientações políticas que se deve defender e apoiar para “fazer crescer o nosso Partido e levá-lo a assumir um mais relevante papel na sociedade madeirense”.
 Ricardo Freitas propôs na «PRIMEIRA SOLUÇÃO» um “projecto global de mudança” para o PS-M, “aproximar os militantes ao partido (...) fazê-los participar activamente na vida partidária”. Previa uma “alteração revolucionária” dos estatutos  do partido e a criação de uma “FRENTE DEMOCRÁTICA”,  liderada pelo PS e que englobasse todos os partidos da oposição.
Sérgio Abreu e João Paulo apresentaram a moção «PENSAR A MADEIRA», afirmando “Precisamos  de rejuvenescer e renovar métodos, processos e a mentalidade de muitos militantes para que se deixe de viver menos as questões internas, lutas desnecessárias que o tempo se encarrega de demonstrar que  são inúteis” e que “O PS deve formar rapidamente um governo sombra demonstrando desta forma que é a única real alternativa à maioria na RAM”. 
A moção «RECRIAR A ESPERANÇA – DECISÃO INADIÁVEL» tinha como subscritores, por ordem alfabética, Carlos Varela, Duarte Caldeira,  Gil França,  João Isidoro, Joaquim Ventura, Mota Torres, Quinídio P. Correia e Rita Pestana. Começam por afirmar que “Ser socialista é uma atitude e um estado de espírito (...)”.  “Aos subscritores impunha-se a assumpção de uma atitude de desassombro e inconformismo que permitisse transformar esta reunião magna dos Socialistas  da Madeira e do Porto Santo, num momento de animado debate de ideias, confronto de opiniões e escolhas que consequentemente dele(s) resulte”.
Salienta que “a unidade não é nem pode ser um artifício, nem ser apresentada ridiculamente, por razões de conveniência interna como sendo real, quando os acontecimentos se vão encarregando de dramaticamente as desmentir (…)”.


PS-Madeira – Estruturas, Congressos e Líderes (4)

Com a realização do VI Congresso do PS-M a 9 e 10 de abril 1988, das moções apenas duas de orientação política geral estiveram em confronto. A de Emanuel Jardim Fernandes intitula-se «FORTALECER O PS-MADEIRA, VENCER OS DESAFIOS DO FUTURO» e a subscrita por Duarte Caldeira designava-se «POR UM PS MADEIRA».
Neste congresso foi possível unidade entre Emanuel Jardim Fernandes e Ricardo Freitas, havendo apenas uma lista para a Comissão Regional. Mas Duarte Caldeira não a integrou precisamente por apresentar-se claramente isolado e em rota de colisão com os restantes elementos integradores numa salutar unidade partidária.
A moção de Emanuel Jardim Fernandes era clara quanto à necessidade de  renovação do PS-Madeira que “tem de se abrir ao exterior, deverá renovar-se e rejuvenescer-se para melhor responder aos desafios da modernidade e do futuro”; “A estrutura partidária deve ser reestruturada e orientada na perspectiva duma maior flexibilidade, ao serviço do debate interno (...)”; “O Grupo Parlamentar na Assembleia Regional deve organizar-se autonomamente, embora sujeito às orientações políticas da Comissão Política Regional”.
Duarte Caldeira começa a sua moção afirmando que “Dois anos se passaram desde a realização do último Congresso Regional e praticamente nada mudou no PS/Madeira”; “O Grupo Parlamentar poderia ter ido mais além, utilizando as «figuras permitidas» pelo Regimento da Assembleia Regional. Não conseguiu transmitir para o exterior a sua acção, nomeadamente através da utilização das poucas oportunidades dadas pela Comunicação Social”; “Uma maior descentralização (...) Criação da segunda figura política do Partido, que seria o Presidente Regional”; “Que o lugar de líder parlamentar não seja acumulável, nem com o de Secretário Coordenador, nem com o de presidente regional, criando-se assim a terceira figura”.

No VII CONGRESSO, realizado a 7 e 8 de julho de 1990, houve dois candidatos à liderança: Emanuel Jardim Fernandes apresentou o moção intitulada «PREPARAR A ALTERNATIVA REGIONAL»; outra, «POR UMA CAUSA MADEIRENSE» subscrita por Ricardo Freitas, Ramos Teixeira e Sousa Melo. Cada concorrente apresentou uma lista para a Comissão Regional, tendo obtido maior número de votos a de Emanuel Jardim Fernandes. A moção deste mantinha orientações anteriores quanto à organização partidária que “deve organizar-se e posicionar-se como instrumento a colocar ao serviço das populações, para melhor conhecer os seus anseios, para encontrar as respostas mais adequadas e para melhor suscitar a participação popular”; “O PS-Madeira vai aprofundar o relacionamento entre o Grupo Parlamentar do PS na Assembleia Legislativa Regional e a sua representação na Assembleia da República, bem como entre os grupos do PS nas diversas instituições parlamentares, nacional, regionais e europeia”.
Ricardo Freitas tinha como propósito “criar condições para o debate de ideias e contribuir para o engrandecimento da nossa CAUSA que se quer cada vez mais abrangente, congregando todos os madeirenses, pela consolidação da Democracia e da Autonomia, no caminho da VITÓRIA”; “A adopção generalizada do ideário social-democrático, tantos nos seus aspectos económicos como no seu teor humanista, permite-nos afirmar a nossa razão. LIBERDADE, SOLIDARIEDADE  e JUSTIÇA SOCIAL são princípios inquestionáveis (...) deverá assentar nos pressupostos desta moção, no espírito norteador da GRANDE CAUSA MADEIRENSE”.


PS-Madeira – Estruturas, Congressos e Líderes (3)

O III Congresso do PS-M (18/19 de julho 1981) realizou-se na constância do conflito partidário nacional que ficou conhecido pela oposição do «Ex-Secretariado» a Mário Soares que saiu vencedor no 4º Congresso Nacional. Esse conflito teve reflexos no PS-M que, a exemplo das Federações do continente, viu-se na contingência de realizar um congresso antecipado.
Com esta conflituosidade surgiram duas moções de orientação política global (uma terceira, subscrita por Góis Mendonça, não tinha caraterísticas globais) que visavam a eleição de delegados ao congresso regional que elegia a Comissão de Federação, em que era eleito o Coordenador do PS-M. Uma dessas moções globais foi de Emanuel Jardim Fernandes (ligado ao grupo do «Ex-Secretariado») e era intitulada «AUTONOMIA E SOCIALISMO COM O PS». A outra, subscrita por Monteiro de Aguiar e Duarte Caldeira (afetos a Mário Soares) chamava-se «RUMO NOVO PARA O PS» (designação igual, apenas mudando a posição às duas primeiras expressões, à que Mário Soares deu à sua moção, intitulada «NOVO RUMO para o PS»).
A moção de Jardim Fernandes procurava unir em vez de fazer alastrar o conflito na Região e defendia uma autonomia para a Federação do PS na Madeira. A segunda subjugava-se às orientações nacionais porque “(...) se os militantes escolheram os seus delegados para fazerem aprovar uma orientação diferente a nível nacional, também o deverão fazer a nível regional, em consonância com o já aprovado (...) não pode o Partido Socialista, nas questões de fundo, seguir uma política diferente da aprovada para o todo nacional”.
A fratura interna determinou a inviabilidade de existir uma única lista para a Comissão de Federação. Cada grupo apresentou a sua lista, tendo saído vencedora a de Emanuel Jardim Fernandes. Apesar de tudo, a política de unidade interna seguida pela direção eleita deu frutos dois anos depois.
 No IV Congresso do PS-M (3 e 4 de dezembro de 1983), realizado sob o lema «Juntos vamos conseguir», já reinou a coesão, unidade e fraternidade no seio partidário. Uma só moção global, intitulada «REFORÇAR A SOLIDARIEDADE, CONSTRUIR O FUTURO», tinha como primeiro subscritor Emanuel Jardim Fernandes, seguido de João Conceição, Duarte Caldeira, Virgínia Costa, Teresa Pinheiro, Manuel Pereira, Ângelo Paulos, Gregório Gouveia e Monteiro de Aguiar. Também houve uma lista única para a Comissão Regional (deixou de chamar-se Comissão de Federação). Ou seja, a divisão e a crispação internas, vividas no congresso anterior, foram ultrapassadas. Também a nível nacional o PS tinha-se reencontrado!
Mas a unidade conseguida no quarto congresso regional não se refletiu no V Congresso (26 e 27 de abril de 1986). Quatro moções de orientação política global surgiram no panorama interno.  A de Emanuel Jardim Fernandes intutulava-se «REFLECTIR PARA RENOVAR, CRESCER PARA VENCER»; a moção de Duarte Caldeira intitulava-se «DESCONTINENTALIZAR O PS/MADEIRA»; uma terceira tinha como primeiro subscritor Filipe Mota, intitulando-se «MUDAR PARA GANHAR A CONFIANÇA DOS MADEIRENSES E PORTOSSANTENSES»; a quarta moção  tinha como primeiro subscritor Ricardo Freitas que fazia parte do ”movimento que vai apresentar-se ao V Congresso Regional com a moção «MAIS ILHÉUS, MENOS ILHAS».
 Em termos práticos, as moções de Duarte Caldeira e de Filipe Mota não tinham como objectivo apresentar candidaturas, ao contrário do que aconteceu com a de Ricardo Freitas e a de Emanuel Jardim Fernandes. E mais uma vez este saiu vencedor...

Gregório Gouveia


PS-Madeira – Estruturas, Congressos e Líderes (2)

A história dos líderes em 46 anos de existência do PS-Madeira revela-se uma concentração em apenas nove militantes, contando com o período que antecedeu a realização do I Congresso, apesar de terem ocorrido 18 congressos e três convenções. Estas ocorreram em 12 de fevereiro de 1995, 28 de julho de 1996 e 11 de maio de 1997. Daí que o vencedor do próximo congresso, o décimo nono a realizar em maio próximo, será o décimo líder regional.
A estabilidade na liderança ocorrida no mandato de Gil Martins e no primeiro período de Emanuel Jardim Fernandes deu lugar a períodos instáveis daí em diante.
Se com a realização dos dois primeiros congressos do PS-Madeira o coordenador foi eleito pela Comissão de Federação de uma forma consensual, a partir da terceira reunião magna a concorrência de candidatos à liderança tornou-se uma prática. De um modo geral, a fase preparatória dos congressos (especialmente a partir do terceiro) e das convenções constituiu, grande parte das vezes, os piores momentos da vida interna do PS-M pela clara conflitualidade no relacionamento entre os grupos concorrentes. Embora fosse considerada normal essa disputa, por fazer parte da democracia e da liberdade de opinião internas, no entanto, da parte de algum ou alguns candidatos e seus apoiantes houve “concorrência desleal” ao ponto de ultrapassar aqueles princípios.
A consensualidade saída do I Congresso do PS-M (19 e 20 de novembro de 1977), que  teve lugar após a realização do 2º Congresso Nacional, realizado nos dias  30/31 de outubro e 1 de novembro de 1976, foi facilitada quanto à eleição de Gil Martins pelo facto de não ter sido permitido apresentar moções que contrariassem a orientação geral do Partido então definida a nível nacional.
Também a lista única para a Comissão de Federação, eleita no II Congresso do PS-M (29 e 30 de março de1980), facilitou a eleição de Emanuel Jardim Fernandes. Mas curioso foi o facto de, poucos dias antes deste congresso,  ter sido apresentada uma moção de orientação política geral “como contribuição para a discussão nas estruturas de base”, subscrita por oito militantes mas neste elenco não figurava o coordenador posteriormente eleito pela Comissão de Federação, reunida no dia 12 de abril de 1980. Esta moção, designada «ANALISAR O PASSADO PARA PERSPECTIVAR O FUTURO», cujo conteúdo continha duras críticas ao Grupo Parlamentar  na Assembleia Regional e ao “actual estado de coisas” a que chegou o PS-M, tinha como primeiro subscritor Mota Torres, seguido de Virgínia Costa, Eugénio Gomes, Ana Castro, Maria Antónia Ferraz, Ricardo Freitas, José Luís Monteiro  Aguiar e José Manuel F. Sousa.

O III Congresso do PS-M (18 e 19 de julho 1981) realizou-se na constância do conflito partidário nacional que ficou conhecido pela oposição do «Ex-Secretariado» a Mário Soares, concluindo-se pela vitória deste no 4º Congresso Nacional que teve lugar nos dias 8, 9 e 10 de maio de 1981. Esse conflito teve reflexos no PS-M que, a exemplo das Federações do continente, viu-se na contingência de realizar um congresso antecipado.
Nesta ordem conflituosa surgiram duas moções de orientação política global (uma terceira, subscrita por Góis Mendonça, não tinha caraterísticas globais) que tinham em vista a eleição de delegados ao congresso regional. Este elegia a Comissão de Federação, donde saía o Coordenador do PS-M.
(continua)
Gregorio Gouveia


PS-Madeira – Estruturas, Congressos e Líderes (1)

Na história do PS-Madeira consta a evolução da estrutura, à medida da implantação na Região e inscrição oficial dos primeiros militantes em 01/09/1974.
O Núcleo regional inicial, com sede no Funchal, transformou-se em Secção. Mas não demorou a ser transformada em Federação e a serem criadas estruturas descentralizadas por toda a Região. No final de1976, estavam instalados a Secção do Porto Santo e os Núcleos da Camacha, Câmara de Lobos, Caniço, Machico, Ribeira Brava e Santa Cruz, com órgãos executivos eleitos em assembleia de militantes.
Em 27/04/1977, realizou-se o ato formal para a eleição dos órgãos da Federação da Madeira: Comissão Executiva, Comissão de Fiscalização de Contas, Comissão de Conflitos e uma Mesa da Assembleia da Federação. O primeiro líder, designado Secretário Coordenador, foi Gil Martins que coordenava a Comissão Executiva da Federação. Com a realização do I Congresso Regional, em 19 e 20/11/1977, o Secretário Coordenador foi eleito pela Comissão de Federação que tinha sido eleita no Congresso.
Tal como a nível nacional, entre 1995 e 1997 os congressos foram substituídos por três convenções regionais. A primeira foi realizada no dia 12 de fevereiro de 1995, a segunda no dia 28 de julho de 1996 e a Terceira no dia 11 de maio de 1997. E contando com o congresso de maio próximo, contam 19 congressos realizados des 1977.
Ao longo dos 46 anos de existência do Partido Socialista na Madeira, sempre tiveram lugar crises temporárias, algumas profundas, mas nunca de natureza ideológica, mas sim tendo por base posicionamentos pessoais, face a candidaturas aos órgãos dirigentes que dão acesso direto ou indireto a cargos políticos. Por vezes, foram invocadas razões de inoperacionalidade dos órgãos eleitos na condução das políticas partidárias anteriormente preconizadas e não cumpridas. Já em 1976 foi criado um Secretariado paralelo ao que tinha sido eleito, e chegou a haver dois jantares de S. João na sede da Rua Câmara Pestana. Mas não há memória de crises internas de grau elevado como a partir dos anos noventa.
No conjunto dos líderes, em quatro momentos houve demissão. A primeira foi a de Mota Torres, ocorrida poucas horas antes das eleições presidenciais de 14/01/1996, devido a pressões internas; a segunda foi a de Emanuel Jardim Fernandes, na sequência dos resultados das eleições regionais de 13/10/1996, apesar de aumento da votação em percentagem, valor absoluto e mais um deputado; a terceira foi a de José António Cardoso, por pressões internas; a quarta foi Victor Freitas, na sequência dos resultados eleitorais nas eleições regionais de 29/03/2015.
Com a primeira demissão não houve mudança de órgão executivo regional. Na segunda, o PS-M foi gerido (entre outubro de 1996 e maio de 1997) por uma «Comissão de Gestão», liderada por Luísa Mendonça.
Gil Martins esteve seis anos a coordenar o PS-M, incluindo o tempo que antecedeu o primeiro congresso; Emanuel Jardim Fernandes esteve treze anos consecutivos no primeiro período e oito meses no segundo; Mota Torres liderou durante três anos no primeiro período e dois anos e oito meses no segundo; José António Cardoso governou o PS-M durante um ano e nove meses; Jacinto Serrão esteve quatro anos e dez meses no primeiro período e dois anos no segundo; João Carlos Gouveia esteve à frente do PS-M durante dois anos e sete meses; Victor Freitas dirigiu o PS-M durante três anos e três meses; Carlos Pereira cumpriu um mandato em dois anos e sete meses; Emanuel Câmara cumprirá um mandato em dois anos e quatro meses.

Gregorio Gouveia