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terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Da confiança à crise dos Bancos (46)

DO «BANCO DA MADEIRA» (1920) AO «BANCO SANTANDER TOTTA»
Na Madeira os penosos efeitos decorrentes da I Guerra Mundial exigiam a criação de instituições bancárias com maior poder de captar depósitos e de conceder crédito às empresas comerciais, industriais e agrícolas. Não bastavam as casas bancárias existentes e, além disso, tinha sido dissolvido em 1887 o Banco Comercial da Madeira, criado a 1 de junho de 1875.
Foi nessas circunstâncias que, em 24 de abril de 1920, foi celebrada a escritura de constituição provisória do Banco da Madeira, tendo iniciado a sua atividade no dia 23 de junho daquele ano, embora sendo de 7 de janeiro do ano seguinte a data do decreto que autorizou a constituição definitiva do Banco. Ficou instalado, provisoriamente, no rés-do-chão dum prédio localizado da então Rua do Comércio (hoje Rua dos Ferreiros), tendo sido adquirido, no mês de agosto seguinte, o prédio na Rua de João Gago.
 O primeiro Relatório e Contas da Direcção do Banco da Madeira cingiu-se ao segundo semestre de 1920, sendo subscrito, em 4 de março de 1921, pelos Directores Pedro José Lomelino e Romano Marcos Caldeira. O primeiro parágrafo do relatório refere: “Vimos cumprir o grato dever de prestar-vos contas da nossa primeira gerência em período de organização e no curto praso de um semestre, como é do vosso conhecimento”.
 Refere o relatório que a primeira entrada de capital (25% do total, correspondendo a 500 contos) deu-se a 12 de maio, sendo a segunda e terceira (ambas com 25% cada) a 12 de agosto e 12 de novembro. Salienta que “fizemos entrar na Caixa Geral dos Depósitos 200 contos, de harmonia com a condição 3ª do artº 162 do Código Comercial, e, em representação largamente fundamentada, requeremos pelo Ministerio do Comercio e Comunicações, a necessária autorização da constituição definitiva, infelizmente pendente em 31 de de Dezembro, a que se refere este relatório,  mas que não se fez esperar, como consta do decreto de 7 de Janeiro p.p., atentas as mais que justificadíssimas razões da creação do nosso Banco, já hoje ligado por transacções importantes às principais  cidades da Europa e America.
Efectivamente as duas condições que antecedem e que se impunham desde logo, como devendo ser o nosso primeiro cuidado, procuramos fazer a nossa instalação provisoria, e assim foi que ao meado do ano, com o exiguo capital de 300 contos, démos começo aos negócios da nossa especialidade (…) sentimo-nos satisfeitos em dizer-vos que o saldo da conta de Ganhos e Perdas é de Esc. 257.912$33,5, realmente muito compensador com relação ao capital com que agimos, e ponderadas que sejam devidamente as circunstancias acima enumeradas”.
Após os reconhecimentos elogiosos aos correspondentes no País e no estrangeiro, “pela apreciável e correcta cooperação que comnosco teem mantido, pedindo vénia para especialisar a Filiar do Banco do Minho, em Lisboa. Também elogia o pessoal do Banco, “pela inexcedivel dedicação e zelo como desempenha as suas funções” especificando os nomes de António Noronha Barros e G. H. Otto Hmrol, “respectivamente nossos bem dignos gerente e chefe de contabilidade”.
Os lucros foram repartidos da seguinte forma: 100.000$00 para dividendos; 51.582$46 para Fundo de Reserva; 36.000$00 para Fundo de Reserva para Encargos Eventuais; 60.000$00 para contribuições, honorários à Direçao e gratificação aos empregados; 16.329$87,5 para Conta Nova.

(continua)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016


Da confiança à crise dos Bancos (45)

DA CASA DE CÂMBIOS BORGES & IRMÃO (1884) AO BPI.
A reestruturação do sistema financeiro português foi uma prioridade do Estado a partir de 1984, com vista à reprivatização dos bancos nacionalizados em 1975, legislar sobre novos bancos e capital obrigatório, e redimensionar instituições existentes e algumas fusões. Foi nestas circunstâncias que o Banco Borges & Irmão, S.A., já reestruturado, desenvolveu a sua atividade até ser integrado no BPI – Banco Português de Investimento

Em outubro de 1981 foi criada a Sociedade Portuguesa de Investimentos (SPI) com o objetivo de financiar projectos de investimento do setor privado, contribuir para o relançamento do mercado de capitais e para a modernização das estruturas empresariais portuguesas. O seu historial revela que “contavam-se entre os seus vários accionistas algumas das 100 mais dinâmicas empresas portuguesas, bem assim como cinco das mais importantes instituições financeiras internacionais”
“Em Março de 1985, a SPI transformou-se no Banco Português de Investimento, adquirindo a possibilidade de captar depósitos à ordem e a prazo, conceder crédito a curto prazo, intervir nos mercados interbancários e praticar operações cambiais. Em 1986, ocorreu a abertura do capital e a admissão das acções à cotação nas Bolsas de Valores de Lisboa e do Porto.
Em Agosto de 1991, o BPI adquiriu o BFB - Banco Fonsecas & Burnay, o que lhe assegurou a entrada na banca comercial e lhe permitiu um aumento de dimensão, rumo ao processo de concentração no sistema financeiro Português, na óptica de assegurar a oferta do espectro completo de serviços financeiros a empresas e particulares. Estabeleceu, então, uma parceria com o Grupo Itaú, iniciada com a participação no BFB, que em 1993 foi convertida numa participação no próprio BPI, tendo passado a ser um dos seus accionistas de referência.
Em Novembro de 1995, o BPI foi transformado numa holding bancária sob a forma de SGPS, passando a ser a única sociedade do Grupo cotada na Bolsa de Valores, controlando o BFB e o BPI. Esta reorganização foi acompanhada de um reforço da estrutura accionista, com a entrada de parceiros de grande dimensão, que se juntaram ao Grupo: a brasileira Itaú Unibanco, a espanhola Criteria Caixa Corp, a angolana Santoro Finance da investidora Isabel dos Santos e o grupo segurador alemão Allianz.
Em Outubro de 1996, com a aquisição do Banco de Fomento e Exterior (BFE) e do Banco Borges & Irmão (BBI), iniciou-se o processo de integração dos três bancos do Grupo BPI, que culminaria, em Julho de 1998, na criação do Banco Português de Investimento”.

(continua)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016


Da confiança à crise dos Bancos (44)

DA CASA DE CÂMBIOS BORGES & IRMÃO (1884) AO BPI.
A Resolução do Conselho de Ministros nº 51-H/77, de 25 de fevereiro de 1977, referida na passada semana, tem nos considerandos uma inédita revelação do I Governo Constitucional, liderado por Mário Soares, relativamente a problemas de gestão dos Bancos Borges & Irmão e Pinto de Magalhães, muito semelhantes aos que mais recentemente ocorreu com o BES e com o Banif. Mas a decisão então tomada seria, hoje, quase impossível, face às interferências das instituições da União Europeia. Naquela resolução foi decidido:
 - “Que os prejuízos acumulados pelo Banco Borges & Irmão até 31 de Dezembro de 1975 sejam regularizados por força de reservas existentes e da redução de 400 000 contos no capital”.
- “Que o capital seja, imediatamente a seguir, reforçado em 1 250 000 contos, a retirar da dotação respectiva do Orçamento Geral do Estado”.
- “Que os créditos sobre as empresas do denominado «Grupo Borges» - empresas em cuja gestão o Estado interveio, ao abrigo do Decreto-Lei nº 422/76, de 29 de Maio, por despacho do Ministro das Finanças de 9 de Julho de 1976, com vista a acautelar os interesses do Banco Borges & Irmão – sejam transferidos para uma instituição parabancária a constituir e cuja solvabilidade será garantida pelo Estado”.
- “Que a cessão dos créditos produza efeitos a contar de 1 de Janeiro de 1976, o seu preço seja o do respectivo valor nominal, acrescido dos juros devidos até 31 de Dezembro de 1975, e o pagamento se faça com obrigações a emitir pela referida instituição parabancária (…)”.
- “Que os prejuízos acumulados pelo Banco Pinto de Magalhães até 31 de Dezembro de 1975 sejam regularizados através da utilização das reservas existentes e da redução de 210 000 contos no capital”.
- “Que o capital seja, imediatamente a seguir, reforçado em 440 000 contos, a retirar da dotação respectiva do Orçamento Geral do Estado”.
- “Que os créditos sobre o ex-presidente do conselho de administração do Banco Pinto de Magalhães sejam transferidos para uma instituição parabancária a constituir e cuja solvabilidade seja garantida pelo Estado”.
- “Que a cessão de créditos produza efeitos a contar de 1 de Janeiro de 1976 e o pagamento se faça com obrigações a emitir pela referida instituição parabancária (…)”.

A intervenção do Estado imprimiu ao BBI o reforço da vocação internacional a partir de 1979 com a sucursal em França. E em 1980 foi criado na sede do BBI o Centro de Apoio a Emigrantes, seguindo-se, em 1982, o lançamento da teletransmissão das ordens dos emigrantes em França. Naquele ano, o BBI alarga o âmbito do escritório de representação da Venezuela, acompanhando a dinamização das relações comerciais e financeiras feitas pelas empresas relacionadas com os portugueses aí imigrados.
Em 1982, o BBI aderiu à rede SWIF, permitindo-lhe garantir um contacto mais fácil com os bancos estrangeiros, e cria o Leasinvest – Sociedade de Locação Financeira Mobiliária, SARL, sediada no Porto. Naquela empresa também participaram a Companhia de Seguros Fidelidade, o Banque Nationale de Paris e o Skandinaviska Enskilda Banken.
Naquele ano, o BBI tinha 99 balcões: 19 no Porto; 15 em Lisboa; 37 no norte e centro do País; 24 no sul, 3 na Madeira; 1 nos Açores; 6 Postos de Câmbios. O número de trabalhadores era de 4.369, dos quais, 2/3 eram homens e 1/3 mulheres.
No início de 1983, o BBI ocupava a hierarquia dos bancos comerciais portugueses, o quarto lugar em depósitos e em crédito, com 11,8% e 12,2%, respetivamente, de quota de mercado, e o segundo ou terceiro lugar no que diz respeito a remessas de emigrantes e a operações cambiais.

(continua)