QUESTÕES SOCIAIS DOS EMIGRANTES
Os emigrantes madeirenses e os de outras regiões
do Continente, nos países de acolhimento não tratam apenas de negócios. Sentem
necessidade extrema de conviverem nos mais variados aspetos sociais, recordando
e mantendo as tradições culturais da sua terra. Constituem um veículo da
cultura, para além de serem empreendedores em negócios que não teriam
oportunidade de alguma vez os promover na sua terra de origem.
Especialmente os que estão radicados nos países tradicionais de acolhimento
(Brasil, Venezuela, Curaçau, EUA, Canadá, África do Sul e Austrália) constituíram
e manteem: movimentos associativos; grupos folclóricos e conjuntos musicais;
emissões de rádio e publicação de jornais; arraiais madeirenses nas igrejas
católicas, muitas das quais por si construídas; promovem importantes
realizações culturais, incluindo espectáculos musicais e concursos de misses; é
constante a deslocação de artistas portugueses, grupos folclóricos e conjuntos
musicais às comunidades; muitas Dioceses da Igreja Católica portuguesa,
incluindo a do Funchal, teem disponibilizado padres que prestam assistência
religiosa aos emigrantes; junto destes não faltam representações de Bancos portugueses com a
finalidade de angariarem depósitos e
concederem financiamento para investimentos em Portugal, agora com reservas de
credibilidade devido aos casos de má gestão e falências de grupos financeiros,
coisa que antes era impensável.
A imagem de riqueza que era transmitida nos finais dos anos
sessenta e princípios de setenta do século passado, especialmente quando alguns
traziam da Venezuela um grande e espampanante carro americano, incentivava
ainda mais muitas famílias madeirenses a emigrarem, especialmente as que
sentiam dificuldades de sobrevivência, a par da necessidade dos jovens fugirem à Guerra
Colonial. Era a época em que um funcionário das câmaras municipais estava a
tempo inteiro a elaborar processos de emigração.
Mas como não há rosas sem espinhos, o sucesso de milhares de
emigrantes foi e é, em muitos casos, acompanhado pelo infortúnio de muitos.
Quando, em 1997 e 1998, visitei a Venezuela, tive oportunidade de
constatar uma realidade tão diferente da que antes tinha. O envelhecimento dos
emigrantes estava a alterar o panorama da comunidade, quer por força da
integração total dos descendentes no país de residência, quer com as
preocupações de ordem económica e social de muitos emigrantes, especialmente por
falta de rendimentos de reforma e de outros apoios sociais. De tal ordem que
muitos voltariam à sua terra se alguém lhes pagasse a viagem!
Visitei algumas associações culturais, cujos associados eram cerca
de 70% madeirenses ou seus descendentes. Mas fiquei perplexo com a falta de
bens culturais (livros, revistas, jornais, etc.), editados no Continente e na
Madeira, naquelas associações.
Se o panorama existente na Venezuela foi aquele, certamente não
seria diferente nos restantes países de emigração. Por isso, é que não entendi
e continuo a não perceber a razão porque os diversos governos regionais, que fizeram
dezenas de deslocações às comunidades madeirenses, não tiveram uma política de
apoio efetivo no fornecimento daqueles bens culturais. A mesma grave omissão
tiveram os governos da República. É que não basta receberem programas de rádio
e da televisão.
Também ainda não percebi o que fizeram os conselheiros do Conselho
das Comunidades Portuguesas e os do Conselho das Comunidades Madeirenses, bem
como os congressistas que, de quatro em quatro anos, se reuniram na Madeira
para discutir a política de emigração apesar com denúncia de muitos problemas.
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