Conflitos das
Autonomias da Madeira (26)
A República, proclamada
na Madeira sem quaisquer obstáculos, “não resolve os problemas nacionais, não
obstante os esforços e realizações positivas nesse sentido (como, por exemplo,
na Educação). A história da ilha continua a ser reflexo dos acontecimentos
políticos da metrópole: sucedem-se os governadores civis consoante as
flutuações da guerra de 1914-18 e, avolumando-se as dificuldades, vai ser
impotente para dominar o aparecimento da ditadura, após a revolução de 28 de
Maio de 1926” (Madeira – Pequena Notícia Histórica, Secretaria Regional da
Educação e Cultura).
Contemporâneo com a
implantação da República, o ano de 1910 determinou que em Angola foram
completamente ocupados e submetidos por João de Almeida os territórios dos
Gambos, do Pocolo e Cuanhama. Em Moçambique, naquele ano, é levada a cabo a
submissão de Angoche, por Massano de Amorim.
Com assassinato do rei
D. Carlos e de seu filho D. Luís Filipe, a Monarquia ficou agonizante, mas os
partidários dinásticos continuaram a guerrear-se. No dia 4 de outubro de 1910
rebentou em Lisboa uma revolução chefiada por Machado dos Santos, a qual, no
dia seguinte, saía triunfante com a proclamação da República. A família real
embarcou na Ericeira e abandonou o País, tendo ido viver para as proximidades
de Londres.
“Às 18 horas do dia 5 de
Outubro de 1910, a agência telegráfica Havas confirmava aos funchalenses os
boatos que já circulavam acerca do triunfo da revolução republicana. No mesmo
dia a Comissão Republicana do Funchal, reunida no Centro Republicano Manuel
Arriaga, indicou o Dr. Manuel Augusto Martins para governador civil e o Dr.
Manuel Gregório Pestana Júnior para administrador do concelho do Funchal,
nomeação que o Governo Provisório da República confirmou telegraficamente. (…)”
(História da Madeira, Coordenação de Alberto Vieira, setembro de 2001).
Manuel Augusto Martins
nasceu no Funchal no dia 1 de março de 1867 e faleceu na mesma cidade no dia 4
de abril de 1936. Licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra,
regressando ao Funchal, onde abriu «banca de advogado». Desempenou várias
funções como jurista, jornalista e político de ideias republicanas já
anteriormente à implantação da República, fundando e dirigindo o jornal
republicano «O POVO». Da segunda vez que exerceu o cargo de governador civil
foi nomeado por decreto de 17 de fevereiro de 1919, tendo tomado posse no dia
19 daquele mês, após o derrube do movimento monárquico que se tinha sucedido à
morte de Sidónio Pais. Em 1919 foi eleito Senador pelo círculo de Évora e em
1921 pelo círculo do Funchal, integrando o Partido Liberal. Nos últimos dias de
vida abandonou a ação política por discordar do rumo que o novo regime que
estava a desenvolver-se no País, dedicando-se apenas ao exercício da advocacia.
Refere o livro «História
da Madeira» “no dia seguinte (6 de outubro de 1910), foi oficialmente
proclamada a República na Madeira, conferida a posse dos novos governantes e
hasteada, pela primeira vez, a bandeira republicana, na Fortaleza - Palácio de
S. Lourenço, sede do poder político. Seguiram-se os discursos dos novos
governantes, proferidos numa varanda do Golden Gate e a confraternização
entusiástica dos militares com o povo que, acompanhados duma banda filarmónica,
percorreram em festa várias ruas do Funchal. A adesão da população rural à
República, na Madeira como no Continente, foi lenta e menos entusiasta. A forte
influência dos caciques monárquicos (…) com apoio do clero, dificultaram a
penetração da propaganda republicana”.
(continua)