Conflitos das
Autonomias da Madeira (25)
Implantação da República,
5 de outubro de 1910 – A notícia da implantação da República chegou à Madeira na
tarde do dia 5 de outubro de 1910. Pouco tempo depois chegou a notícia da
constituição de um Governo Republicano e, sem resistência, a bandeira da
República foi hasteada.
Com a hereditariedade monárquica deixada apenas nas aspirações dos
defensores do regime deposto, o Rei deu o devido lugar a um Presidente da
República. Em dezasseis anos a instabilidade política vivida a nível nacional
foi um facto. Foram oito Presidentes da República (Sidónio Pais foi
assassinado) e Governos (alguns ditatoriais) em sucessivas mudanças, com golpes
de Estado pelo meio e grandes afrontamentos politico-ideológicos, ainda por
cima numa fase da vida nacional em que deflagrou a I Guerra Mundial.
A instabilidade vivida a nível nacional teria naturalmente reflexos nas
constantes mudanças de Governadores Civis, embora sem alteração no modelo
administrativo do Distrito. Apenas houve mudança das personalidades que
exerciam o cargo de Governador Civil. Foi a lógica política que sempre
funcionou. Não seria desta vez que haveria exceção, pois, logo no dia 6 um
telegrama indigitava o Dr. Manuel Augusto Martins para substituir o Governador
Civil monárquico, José Ribeiro da Cunha. Com o Governador Civil ausente, quem
exercia as funções era o Secretário-Geral, o conselheiro António Jardim de
Oliveira que entrou em conversações com o comandante militar, coronel Valeriano
José da Silva e com o indigitado Governador Civil, facilitando a mudança de
titular. Ao longo de pouco mais de quinze anos de duração da I República, a
Madeira teve trinta Governadores Civis, o que corresponde em média a dois por
ano.
O ideal autonomista
continuou vivo ao longo dos anos não se limitando às leis publicadas no tempo
da monarquia, nem ficou esmorecido face ao querer nacional. A autonomia foi
bastante debatida nos dois arquipélagos, debates que teriam como consequência
novas formulações legais futuras. Em 1921-1922-1923, o Poder Central foi
profusamente contestado quer nos Açores, quer na Madeira, devido à carga fiscal
imposta aos distritos, cujos poderes estavam limitados por tais ónus, sendo
ainda afetada a sua vida económica e social. Em 1921, o projeto de autonomia
para os Açores, de Francisco d’Atayde, e as opiniões de editorialistas da
imprensa madeirense, no ano seguinte, fizeram eco nas críticas cerradas ao
Governo Central de então. Convém também ter em conta que o próprio Presidente
da Junta Geral do Funchal, Dr. Fernando Tolentino da Costa, em 9 de novembro de
1922, na sessão de boas-vindas ao Presidente da República, António José de
Almeida, que ao regressar do Brasil fez escala no Funchal, declarou-se
formalmente o iniciador de um movimento por uma ampla autonomia.
A Junta
Geral do Funchal, na sua sessão de 3 de novembro daquele ano deliberou dar
conhecimento do movimento autonomista às Juntas Gerais de Ponta Delgada e Angra
do Heroísmo, a fim de conjugarem esforços nesse sentido. O projeto que o Dr.
Pestana Reis apresentou na reunião da Junta Geral do Funchal em 16 de dezembro
de 1922 revela bem a força viva dos ideais autonomistas presente na opinião
pública açoriana e madeirense daquela época. Com a mesma temática, em 5 de janeiro
de 1923 realizou-se um grande debate entre açorianos e madeirenses no Terreiro
da Luta.
(continua)
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