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domingo, 14 de agosto de 2022

 

Conflitos da Autonomia – no 30º Aniversário da Junta de Lacticínios

 

No 30º Aniversário (1966) da criação da Junta dos Lacticínios da Madeira (JLM), o suplemento do seu Boletim Informativo nº 90 do segundo trimestre de 1966 associou-se às comemorações do 40º Aniversário da Revolução Nacional.

Com uma fotografia do Dr. Salazar na primeira página, segue-se o seguinte texto: “Associando-se às comemorações de tão significativa efeméride, a Junta dos Lacticínios da Madeira, interpretando o sentir de quantos se encontram ligados às actividades coordenadas, rende a Sua Excelência o Senhor Presidente do Conselho as suas mais respeitosas homenagens”.

A JLM continua a autoelogiar-se relevando a sua ação “Quando em 1933 se pensou na urgente necessidade de organizar de regulamentar os lacticínios, a indústria estava a dois passos da ruína total, ruína que arrastaria atrás de si os interesses de milhares de produtores de leite. O número de unidades fabris, sem as mínimas condições higiénicas, crescera de tal maneira que atingiu uma capacidade excessiva em relação ao volume de matéria-prima a laborar.

Bastará referir que no primeiro «Mapa de Rateio», elaborado pela Junta em 1936, figuravam 51 industriais dos quais 20 tinham uma laboração igual ou inferior a 19 kg diários e apenas 4 com laboração igual ou superior a 100kg. Não era, pois, de estranhar que os industriais se lançassem numa feroz concorrência, da qual sairiam arruinados se o Governo não pusesse cobro a situação tão crítica como desastrosa.

Na luta pela posse da matéria-prima, um determinado industrial querendo obter leite numa zona de influência de outro, actuava, muito simplesmente, abrindo um posto de desnatação a dois passos do antagonista, fazendo subir o preço do leite. Imediatamente se verificava um afluxo de fregueses para o novo posto até que o antigo desistia da luta. Uma vez senhor do campo, o industrial «invasor» fazia baiar o preço do leite, ficando de novo à mercê de outro concorrente!

Foi este inconcebível processo que originou a disseminação de postos por toda a Ilha, a ponto de em 1935 atingirem o número de 1301, dos quais 1.108 em laboração, com médias diária de 40 a 45 litros de leite.

Dos pontos de vista técnico e higiénico, a indústria madeirense, por alturas de 1935, encontrava-se num estado verdadeiramente desolador: péssimas instalações, pessoal incompetente, e, na grande maioria, dominava uma falta de higiene inacreditável.

A recolha de natas era tão deficiente que não podia deixar de ter influência nas condições de fabrico e na qualidade do produto. O elevado número de postos e a reduzida laboração de cada um deles forçavam o industrial a reunir um determinado posto as natas obtidas em vários, ao mesmo tempo que espaçava a recolha para reduzir as despesas.

Deste modo, não raro se verificava a chegada à fábrica de natas com 5 e mais dias de fermentação, de que resultava a má qualidade e o reduzido poder de conservação da manteiga assim fabricada (…) contra a desorganização vigente, o decreto forneceu  à JLM duas armas poderosas: o rateio do leite e das natas e a administração dos postos (…) logo nos primeiros tempos da sua actuação, a Junta prestou à Indústria incalculáveis serviços de ordem económica, promovendo o encerramento de postos de desnatação inúteis. Dos 1.061 postos que se encontravam em laboração em Dezembro de 1935 foram encerrados 741, ficando por conseguinte em funcionamento apenas 320 (…) A administração dos postos pela Junta foi outro grande passo para a melhoria da qualidade do leite”.

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