Conflitos da Autonomia – no 30º Aniversário da Junta de Lacticínios
No 30º
Aniversário (1966) da criação da Junta dos Lacticínios da Madeira (JLM), o
suplemento do seu Boletim Informativo nº 90 do segundo trimestre de 1966
associou-se às comemorações do 40º Aniversário da Revolução Nacional.
Com uma
fotografia do Dr. Salazar na primeira página, segue-se o seguinte texto:
“Associando-se às comemorações de tão significativa efeméride, a Junta dos
Lacticínios da Madeira, interpretando o sentir de quantos se encontram ligados
às actividades coordenadas, rende a Sua Excelência o Senhor Presidente do
Conselho as suas mais respeitosas homenagens”.
A JLM
continua a autoelogiar-se relevando a sua ação “Quando em 1933 se pensou na urgente
necessidade de organizar de regulamentar os lacticínios, a indústria estava a
dois passos da ruína total, ruína que arrastaria atrás de si os interesses de
milhares de produtores de leite. O número de unidades fabris, sem as mínimas condições
higiénicas, crescera de tal maneira que atingiu uma capacidade excessiva em
relação ao volume de matéria-prima a laborar.
Bastará
referir que no primeiro «Mapa de Rateio», elaborado pela Junta em 1936,
figuravam 51 industriais dos quais 20 tinham uma laboração igual ou inferior a
19 kg diários e apenas 4 com laboração igual ou superior a 100kg. Não era,
pois, de estranhar que os industriais se lançassem numa feroz concorrência, da
qual sairiam arruinados se o Governo não pusesse cobro a situação tão crítica
como desastrosa.
Na luta
pela posse da matéria-prima, um determinado industrial querendo obter leite
numa zona de influência de outro, actuava, muito simplesmente, abrindo um posto
de desnatação a dois passos do antagonista, fazendo subir o preço do leite.
Imediatamente se verificava um afluxo de fregueses para o novo posto até que o
antigo desistia da luta. Uma vez senhor do campo, o industrial «invasor» fazia
baiar o preço do leite, ficando de novo à mercê de outro concorrente!
Foi este
inconcebível processo que originou a disseminação de postos por toda a Ilha, a
ponto de em 1935 atingirem o número de 1301, dos quais 1.108 em laboração, com
médias diária de 40 a 45 litros de leite.
Dos pontos
de vista técnico e higiénico, a indústria madeirense, por alturas de 1935,
encontrava-se num estado verdadeiramente desolador: péssimas instalações,
pessoal incompetente, e, na grande maioria, dominava uma falta de higiene
inacreditável.
A recolha
de natas era tão deficiente que não podia deixar de ter influência nas
condições de fabrico e na qualidade do produto. O elevado número de postos e a
reduzida laboração de cada um deles forçavam o industrial a reunir um
determinado posto as natas obtidas em vários, ao mesmo tempo que espaçava a
recolha para reduzir as despesas.
Deste
modo, não raro se verificava a chegada à fábrica de natas com 5 e mais dias de
fermentação, de que resultava a má qualidade e o reduzido poder de conservação
da manteiga assim fabricada
(…) contra a desorganização vigente, o decreto forneceu à JLM duas armas poderosas: o rateio do leite
e das natas e a administração dos postos (…) logo nos primeiros tempos da sua
actuação, a Junta prestou à Indústria incalculáveis serviços de ordem económica,
promovendo o encerramento de postos de desnatação inúteis. Dos 1.061 postos que
se encontravam em laboração em Dezembro de 1935 foram encerrados 741, ficando
por conseguinte em funcionamento apenas 320 (…) A administração dos postos pela
Junta foi outro grande passo para a melhoria da qualidade do leite”.
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