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sábado, 21 de julho de 2012

Estatutos do PSD-M e a norma travão


21Julho 2012 

Passados 35 anos da realização do 1º Congresso do PPD-M, os atuais estatutos estão redigidos de modo a poderem ser aplicados ao próximo congresso, conforme der mais geito aos órgãos dirigentes. Trata-se da existência de uma norma travão prevista no artigo 21º, dando plenos  poderes ao Conselho Regional para decidir da “justificação, ou não” de haver a eleição da Comissão Política, caso o congresso seja convocado extraordinariamente.

 

Em Abril de 2013, termina o mandato dos atuais órgãos eleitos em 2011. Daí a importância para a atual liderança e para os candidatos saberem se o próximo congresso se realiza no primeiro trimestre do próximo ano, se é adiado para depois das eleições autárquicas, ou se tem lugar já este ano com vista a “clarificar”, o mais cedo possível, a situação interna.

Já existem dois candidatos assumidos à liderança: Miguel Albuquerque quer o congresso o mais cedo possível; Manuel António Correia também quer um congresso “já este ano, ou no primeiro trimestre do próximo ano”, mas já não será candidato se Alberto João se recandidatar. Se Albuquerque confronta Jardim e quer vê-lo fora de cena do Partido e do Governo, Manuel António apenas quer o congreso para clarificar a situação interna, ou seja, está subjugado a Jardim, de quem tem todo o apoio, querendo que este cumpra o mandato no Governo Regional até ao fim.

Qualquer que seja a data em que o congresso tenha lugar, é importante que o mesmo seja ordinário, mesmo que, por qualquer reviravolta interna, Miguel Albuquerque se veja forçado a recolher 300 assinaturas para convocar o congresso. Mesmo neste caso, tem de classificá-lo de ordinário, caso contrário está sujeito a ver aplicada a referida norma travão. O tiro sairia pela culatra se se realizasse um congresso apenas para discutir uma qualquer ordem de trabalhos, sem previamente haver a eleição da Comissão Política Regional. Assim acontecendo, tudo ficaria na mesma. É que a Comissão Política é eleita diretamente pelas bases, “até um mês antes da data do Congresso Ordinário”.

 

A atual situação interna do PSD-M, quanto ao aparecimento de mais de um candidato à liderança, constitui novo rumo democrático, ao contrário do que tem acontecido, se atendermos ao facto de Alberto João ter chegado à liderança da Comissão Política Regional, a 21 de Agosto de 1976, donde nunca mais saiu, tendo sido o único candidato nos 13 congressos realizados. Aliás, é preciso relembrar que o 1º congresso foi antecipado após um “golpe” palaciano para retirar o Eng. Ornelas Camacho da presidência do Governo Regional. 
Estava tudo planeado para o PSD da Madeira realizar o seu primeiro congresso quando, no dia 5 de Julho de 1977, António Gil, Jaime Ramos, ambos da Comissão Política Regional, e Carlos Machado, líder da JSD, deram uma conferência de imprensa com vista a anunciar a realização antecipada do I Congresso Regional, a ter lugar nos dias 9 e 10 daquele mês de Julho de 1977.
O que António Gil disse na conferência de imprensa ultrapassou a mera informação quanto ao congresso. Mais do que isso. Foi uma autêntica denúncia pública do estado de espírito que reinava no interior do partido, aproveitando também para dizer que “O PSD não concorda com o separatismo. E posso ir mais longe: até não o acha inteligente”. Também disse que “seria da maior utilidade para o PSD que se procedesse a novas eleições e a uma nova Comissão Política que pudesse dar outra concepção à política do partido na Região Autónoma da Madeira. Outra ou a mesma, mas sendo outra Comissão a decidir dos destinos do partido”.
Mas se é verdade que o PSD-M aproveitou o facto de os estatutos nacionais de 1976 preverem que “As estruturas do PSD nos Açores e na Madeira regem-se por estatutos e regulamentos próprios, em correspondência com a autonomia política e administrativa reconhecida àquelas regiões”, não menos verdade é que o congresso tinha lugar numa altura em que reinava no interior do PSD-M algum descontentamento pela maneira como o Eng. Ornelas Camacho orientava as políticas promovidas pelo Governo Regional. Foi por isso que o setor afecto ao líder do partido (Alberto João) moveu todas as suas influências para dar uma “volta” àquela situação, arranjando uma via política  adequada às circunstâncias para justificar a  substituição do Eng. Ornelas Camacho.
Tudo visto e interpretado, o que Miguel Albuquerque pretende é precisamente o que quis fazer Alberto João Jardim em 1977: “proceder a novas eleições e a uma nova Comissão Política que possa dar outra concepção à política do partido na Região Autónoma da Madeira”.

Gregório Gouveia

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