As trapalhadas da coligação PSD/CDS
* Passos Coelho (30/4/2011): promessa: “Nós calculámos, por excesso, e posso garantir-vos: não será necessário cortar mais salários, nem despedir gente, se formos governo (…) quem quizer mais TGV, mais auto-estradas, mais benefícios escondidos, mais amiguismo e mais batota em Portugal, vote no engenheiro Sócrates (…) se os socialistas ganhassem, dentro de seis meses já se estaria a falar de reestruturação da dívida portuguesa”.
* Paulo Portas (24/5/2011): “Ninguém tem incentivo a trabalhar mais se o produto do seu esforço suplementar for para entregar ao Estado”.
* Alberto João (26/5/2011): “Não tenham medo da juventude do candidato do PSD, Passos Coelho, a primeiro-ministro (…) é importante haver um governo que se entenda connosco”.
* Passos Coelho (31/5/2011): Nós não viemos fazer promessas vagas nestas eleições, nós viemos dizer aos portugueses o que é que íamos fazer no governo (…) o PSD preparou-se bem para ser governo, foi o único partido que se apresentou aos portugueses com um programa que não é um mero programa eleitoral, é praticamente um programa de governo”.
* Álvaro Santos Pereira, Ministro da Economia (15/10/2011, em Viseu): “A ligação ferroviária do porto de Aveiro a Salamanca vai avançar até ao final da legislatura, através de Viseu, num corredor de velocidade alta e que vai usar os terrenos que estão cativos à volta da cidade para esse fim”.
O conhecido ditado popular «quem tem caminhos largos não se mete em veredas» pode muito bem ser aplicado aos trapalhões que pariram e apoiaram a cria - «coligação PSD/CDS» para governar o País - denominada «Maioria para a Mudança». Mas a mudança foi estreitar o caminho que estava pela frente, em vez de cumprir o prometido em campanha eleitoral e o acordo interpartidário, no qual “Houve um comprometimento absoluto em encontrar as melhores fórmulas, as melhores soluções e as melhores ideias. O sentido das negociações foi o de abrir o programa eleitoral do PSD, que foi o mais sufragado, às propostas do CDS-PP” (Passos Coelho, 16/6/2011). Mas as invocadas “condições políticas para dar certo e tranquilizar o País” já estavam viciadas no próprio acordo. Desde logo, havia divergências inultrapassáveis entre os dois partidos da coligação. O CDS era contra: a descida da TSU (Taxa Social Única); o aumento do IVA; as privatizações da Caixa Geral de Depósitos, da RTP e da alienação das Águas de Portugal; a orgânica do Governo, quanto ao número de ministros; a chefia única das polícias, resultante da tutela única da Justiça e da Administração Interna.
Se o primeiro desencontro esteve na base do convite que Passos Coelho fez a Fernando Nobre para ocupar o lugar de Presidente da Assembleia da República, a estrutura do Governo denuncia uma evidente desconfiança entre os dois Partidos.
Para se fiscalizarem uns aos outros, os Ministérios do PSD têm Secretários de Estado do CDS e os do CDS têm Secretários de Estado do PSD. Mas há exceções:
- o primeiro-ministro tem 2 Secretários de Estado do PSD e um independente;
- o Ministério da Educação apenas tem um Secretário de Estado do CDS, sendo os demais independentes;
- o Ministério dos Assuntos Parlamentares não tem Secretários de Estado do CDS, tendo um independente;
- o único Secretário de Estado do Ministério da Justiça e o do Ministério da Defesa são independentes;
- os dois Secretários de Estado do Ministério da Saúde são independentes.
Quando, em Julho de 2011, Passos Coelho nomeou o ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva, Braga de Macedo, para coordenar o grupo que se dedicaria à diplomacia económica, Paulo Portas, que tem essa incumbência como ministro dos Negócios Estrangeiros, deparou-se com um “fiscal”, a quem tinha pago uma indemnização de 10 mil euros, por ter sido condenado na qualidade de diretor do semanário Independente, na sequência de uma ação posta por Braga de Macedo.
Não demorou muito para o aprofundamento das divergências no caso Miguel Relvas, no anúncio da alienação da RTP e no recente anúncio da redução da TSU para as empresas e aumento da mesma para os trabalhadores.
De trapalhada em trapalhada, a coligação mais não é senão um desconchavado acordo, cujos movimentos tectónicos estão dissimulados, tendo em vista escondê-los do Conselho de Estado, para que o Presidente da República volte a promulgar o penoso Orçamento do Estado para 2013.