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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Como Alberto João promoveu a candidatura de Albuquerque

“Esta coisa de dizer que não há ninguém, levou a que tivéssemos de aturar o dr. Salazar durante 40 anos. As coisas não são assim. Não há pessoas insubstituíveis. Num partido grande como é o PSD, há muita gente lá capaz de fazer o meu lugar. O meu problema é mesmo esse: a existência de várias pessoas não vai fazer com que o consenso à volta de uma só pessoa seja fácil”.
Alberto João, entrevista ao JM, 10/08/91.

Miguel Albuquerque anunciou, avançou e quase vencia as eleições no PSD-M. A diferença para mais, atribuída a Alberto João, confere a este uma verdadeira derrota política, situação que nunca aconteceu pelo facto de nunca ter sido confrontado com oposição interna nos treze congressos regionais já realizados.
No delfinato para a substituição da liderança e, por via disso, do Governo Regional estava Albuquerque, que desde há muito manifestou o desejo de vir a ser candidato, mesmo sem o apoio de Alberto João. Isso viu-se em diversas declarações públicas. Mas foi a partir de Março do corrente ano que a marcha de Albuquerque foi acelerada, depois de Alberto João ter dito no Conselho Regional, de 3 de Março, que pretendia um sucessor, encontrado numa “solução de consenso”. No entanto, em contradição com o consenso, indicou o seu sucessor que seria Manuel António Correia e decidiu que o congresso passaria para depois das autárquicas, em vez de Abril de 2013.
Com a pressão interna de Albuquerque a exigir um congresso nos prazos estatutários, nem que para isso houvesse recurso a assinaturas de militantes, falharam os prazos, objetivos e o sucessor por “via dinástica” de Alberto João: anunciou candidatar-se e antecipou o congresso para novembro de 2012, de modo a retirar tempo a Albuquerque para angariar militantes para a sua causa.

À saturação de 35 anos com a liderança autocrática de Alberto João que tudo decidia, afastando quem fosse contra o que queria fazer, juntou-se a verborreia usada antes e durante a campanha eleitoral interna. Alberto João não percebeu que a sua guerra aberta contra Miguel Albuquerque, usando argumentos com pouca credibilidade, só favoreceria, inevitavelmente, o seu opositor. Apenas alguns exemplos:
- “Quem se atravessar no meu caminho vai ter de me enfrentar pessoalmente (…) será derrotado e afastado” (10/4/ 2012).
- “A movimentação dentro do PSD era desencadeada por forças ligadas à Oposição e que o facto de haver, entre um presumível candidato e a oposição, uma vontade comum de eleições antecipadas (…) o PSD fosse entregar de mão beijada a sua maioria” (29/8/2012).
-“O PSD sabe quem está ao serviço da Maçonaria, quem está ao serviço dos inimigos tradicionais  do PSD, liderados pelo Grupo Blandy” (01/9/2012).
- “Há ali (na moção de Miguel Albuquerque) medidas em que não há um centavo para concretizá-las. Portanto, trata-se de mentir ao povo” (11/10/2012).
- “É pena que este senhor tenha vindo estragar o trabalho de três personagens ilustres, como o foram os três presidentes que o antecederam, e que mesmo quando discordavam de mim ou do próprio partido nunca traíram nem nunca se aliaram aos adversários do PSD” (22/10/2012).

Tudo pesado e medido pelos cerca de 3.860 militantes com direito a voto, apenas votaram 90 por cento. Aquele número representa uma baixa significativa ao que existia em 2004, que era de 6.521 militantes com direito a voto. Naquele ano em que funcionou, pela primeira vez, a eleição direta pelas bases votaram cerca de 4.715, correspondendo a 72,3 por cento, com apenas o tradicional e único candidato.
Para o XII Congresso Regional, realizado em Abril de 2008, estavam inscritos com direito a voto 7.830 do total de cerca de 10.000 militantes inscritos no PSD-M. Mas apenas votaram 6.131, correspondendo a 78,3 por cento.

Se é verdade que os militantes inscritos no PSD-M correspondem a um número superior aos que acabam por ter o direito de voto, a exigência de pagar quotas para o exercício do voto é uma questão que tem merecido muita acuidade, também noutros partidos com tal exigência, se tivermos em conta a forma e o tempo exigido para o pagamento das quotas. E também é azo a muita polémica quando há candidatos a pagarem quotas de militantes, como forma de obter o seu voto.

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