Reflexos de «Abril 74» na Madeira (11)
Alguns
órgãos de comunicação social escrita, existentes quando se dá o «25 de Abril
1974», sofreram, posteriormente, algumas importantes metamorfoses na sua
titularidade e direção. As mais significativas ocorreram no «Jornal da Madeira»,
no «Diário da Madeira» e no «Re-Nhau-Nhau».
Com a alienação da
quase totalidade do capital social, que, em dezembro de 1985, foi atribuído à
Imprensa Regional da Madeira, EP, e, pela Resolução nº 1035/97 , de 31/07/1997, do Plenário do
Governo Regional, passou para a posse da Região Autónoma da Madeira, com o
fundamento da necessidade de aumentar o capital social, o «Jornal da Madeira»
apenas pode ser considerado da Diocese pelo suplemento «Pedras Vivas». Quanto
ao resto, tudo foi controlado pelo Governo Regional, onde impera a parcialidade
ideológica.
Pela Resolução 272/82 do Governo
Regional da Madeira, reunido em plenário em 1 de abril de 1982, foi resolvido
adquirir “o prédio urbano sito à Rua da Alegria, 23 e 25, desta cidade. Mais
resolve adquirir o semanário intitulado «Diário da Madeira» e a oficina de
tipografia que se encontra instalada no aludido prédio, pelo valor de
30.000.000$00. Esta aquisição tem em vista aproveitar a capacidade do parque
gráfico, permitindo assim a elaboração rápida do Jornal Oficial da Região
Autónoma e possibilitar também a feitura de outros trabalhos”.
Quando, em 7 de
Junho de 1983, a
Assembleia Regional aprovou a criação da empresa pública, Imprensa Regional da
Madeira, EP, outro dos objectivos previstos nos seus estatutos era editar o
periódico «Diário da Madeira». Na altura, este jornal era crítico da governação
regional, o que valeu a sua aquisição. Mas acabou por nunca ser publicado por
aquela empresa pública, facto que motivou a perda do direito ao título, o que
prova que o objectivo da compra foi simplesmente calá-lo.
Uma vez perdido o
título do «Diáro da Madeira», por não ter sido publicado, em 1984 aparece o nº
1/84 com propridade e direção de Ernesto Pestana e, em 1993, passa para a
C.J.M. – Cooperativa Jornalística da Madeira, C.R.L., sendo diretor António
Aragão de Freitas.
O trimensário
humorístico “Re-Nhau-Nhau”, fundado por Gonçalves Preto e João Miguel, em 1928,
depois propriedade de João Miguel, Herdeiros, teve uma nova série em Janeiro de
1996, de periodicidade mensal com o Editor António Loja e diretor Ricardo
Freitas,
A 18/10/1976, nasce
o semanário «ZARCO», sendo
diretor José de Carvalho, como órgão oficial da APAM – Associação Política do
Arquipélago da Madeira. Com uma tiragem de 3200 exemplares, publica o
«Manifesto ao povo madeirense» que justifica o aparecimento do jornal pelo
facto de os fundadores da APAM entenderem que “os partidos políticos
representados na Madeira serviam em primeiro lugar os interesses eleitoralistas
e os de uma política global portuguesa, ditada pelos seus centros de decisão
instalados em Lisboa”. O Manifesto termina: “Por isso Madeirenses, vos pedimos
que se unam em torno da APAM. Que sobreponham às ideologias políticas a vossa
qualidade de Madeirenses, e que todos juntos, lutemos pela construção da
Madeira em que todos nós desejamos viver”.
Também publica
alguns artigos dos estatutos da APAM, referindo o artigo número um: “A
Associação que se rege pelos presentes estatutos denomina-se «ASSOCIAÇÃO POLÍTICA
DO ARQUIPÉLAGO DA MADEIRA» e constitui a reunião política de todas as pessoas
que desejam lutar pela efectiva realização de um futuro de paz, progresso,
independência e justiça social para todos os Madeirenses”.
A 06/12/1976, surge
o jornal «Madeira Press», edição de Frank Ligne e direção de Ornelas Teixeira.
O editorial refere que o “Madeira Press será o porta-voz, não de uma classe
dominante, mas sim de todo o Povo: o Povo Madeirense”. Refere que “ Do mesmo
modo que Portugal não é só Lisboa, também a Madeira não é só o Funchal” e que o
“Madeira Press preenche uma lacuna no nosso meio cultural, onde os órgãos de
comunicação, em nome dum falso progressismo, tem os olhos voltados para o
estrangeiro, em vez de olhar para sua própria realidade regional”.
A «Nota do Editor»
refere: “É sabido que desde há cinco meses venho dirigindo as «Páginas da
Madeira» de o «Retornado», mas foi agora que na realidade senti que, mais
dignamente, poderia servir o Povo da Madeira e Açores, editando um jornal
regionalista 100% escrito e elaborado na Madeira, por homens de boa vontade,
que tentaram e conseguiram fazer de mim, aquilo que hoje sou: um ilhéu de
coração!”
(continua)