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terça-feira, 24 de junho de 2014

Reflexos de «Abril 74» na Madeira (10)

 COMUNICAÇÃO SOCIAL  -  A comunicação social, existente quando se dá o «25 de Abril 1974», baseava-se na RTP, com programação e emissão regionais restritas; rádios eram três (Emissora Nacional, também com programação e emissão regionais, Posto Emissor do Funchal e Estação Rádio da Madeira; na imprensa havia dois jornais diários (Diário de Notícias e o Jornal da Madeira), e cinco jornais periódicos, de frequência geralmente semanal (Eco do Funchal, Diário da Madeira, Voz da Madeira, Comércio do Funchal e Re-Nhau-Nhau), para além dos poucos jornais nacionais que chegavam à Madeira; havia também a delegação da agência noticiosa ANOP.

A comunicação social viu-se livre da censura e do aviso prévio, abolidos com a Revolução, medida que estava prevista na alínea g) do nº 2 das Medidas Imediatas do Programa do Movimento das Forças Armadas. A “Liberdade de expressão e pensamento sob qualquer forma”, bem como “A promulgação de uma nova Lei de Imprensa, Rádio, Televisão, Teatro e cinema”, constam, respetivamente, nas alíneas c) e d) do nº 5 das Medidas a Curto Prazo do mesmo Programa. Com aquelas liberdades instaladas, cuja regulamentação foi entretanto produzida, tornou-se natural o aparecimento de uma comunicação social nova, quer na existente, quer na que surgiu, a partir do mês de novembro de 1975, sob a forma de revistas, jornais e, anos depois, novas rádios locais, televisões privadas e por cabo, que estenderam a sua emissão à Região.

Os jornais existentes não colocaram muitos entraves à publicação de extensos comunicados partidários e manifestos eleitorais para as primeiras eleições entretanto realizadas. A época foi de dar largas à imaginação para dizer e escrever o que tinha sido proibido durante quase meio século. Cada organização tudo fez para publicar a sua visão acerca da nova ordem política nacional e regional. Uma vez que estávamos numa altura de efervescência política, não se tornou difícil classificar, com maior ou menor rigor, a orientação ideológica dos diferentes órgãos de comunicação social existentes.
A concorrência entre eles despertava interesse na publicação variada de temas propícios à época. Mas se para uns, estar à esquerda não só era moda como dava jeito mostrar que tinha havido rompimento com o regime deposto, outros não tiveram pejo em contestar a nova política de esquerda que tudo fazia para se instalar na sociedade. Outros iniciaram a marcha na defesa da Autonomia e, mais do que isso, pugnaram acerrimamente pela independência da Madeira. Estavam nesta onda:
- o «Diário da Madeira», cujo director, dr. Castro Jorge, chegou a ser preso a 15 de maio de 1975, “com guia de marcha para Caxias”, conforme consta no livro de Manuel Macedo;
- o continental jornal «O Retornado», cujo proprietário e director era Arthur Ligne, que teve inicialmente como correspondente na Região o professor Ornelas Teixeira, e depois criou uma delegação, que publicou o suplemento “Páginas da Madeira”, tendo como director da delegação Franklin Ligne e, depois, Mendes Moreira que deu maior expansão às referidas páginas regionais.

De mais relevante no suplemento “Páginas da Madeira” do jornal «O Retornado», de 29 de junho de 1976, é a entrevista dada pelo autodenominado Presidente da Flama, a pedido deste, que apenas se deixou fotografar encapuzado:
“Estou na Madeira porque sou madeirense, mais propriamente das regiões de São Vicente. Procurei-vos porque vos considero um órgão de informação arrojado, dinâmico, verdadeiro. Em contrapartida os nossos jornais regionais não têm expressão no contexto nacional e internacional para os procurar. O «Diário de Notícias», como sabe, é um jornal que não é carne nem peixe, quer dizer, umas vezes é comunista, outras é socialista, outras é fascista. O «Jornal da Madeira» é, para nós, aquele que merece mais consideração mas só circula dentro do nosso território. Sou o presidente da FLAMA. O Comandante chefe da UNIARMA. Estou hoje aqui, vindo de Londres; venho aqui todos os meses para conferenciar com os nossos chefes regionais (...)”.

Entretanto, o aparecimento de vários órgãos de comunicação social escrita deu azo às mais variadas manifestações ideológicas de extrema esquerda, esquerda, centro, direita, autonomistas, separatistas e centralistas. Sobre estes escreverei na próxima semana.





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