Reflexos de «Abril 74» na Madeira (10)
COMUNICAÇÃO SOCIAL - A comunicação
social, existente quando se dá o «25 de Abril 1974», baseava-se na RTP, com
programação e emissão regionais restritas; rádios eram três (Emissora Nacional,
também com programação e emissão regionais, Posto Emissor do Funchal e Estação
Rádio da Madeira; na imprensa havia dois jornais diários (Diário de Notícias e
o Jornal da Madeira), e cinco jornais periódicos, de frequência geralmente
semanal (Eco do Funchal, Diário da Madeira, Voz da Madeira, Comércio do Funchal
e Re-Nhau-Nhau), para além dos poucos jornais nacionais que chegavam à Madeira;
havia também a delegação da agência noticiosa ANOP.
A
comunicação social viu-se livre da censura e do aviso prévio, abolidos com a
Revolução, medida que estava prevista na alínea g) do nº 2 das Medidas
Imediatas do Programa do Movimento das Forças Armadas. A “Liberdade de
expressão e pensamento sob qualquer forma”, bem como “A promulgação de uma nova
Lei de Imprensa, Rádio, Televisão, Teatro e cinema”, constam, respetivamente,
nas alíneas c) e d) do nº 5 das Medidas a Curto Prazo do mesmo Programa. Com
aquelas liberdades instaladas, cuja regulamentação foi entretanto produzida,
tornou-se natural o aparecimento de uma comunicação social nova, quer na existente,
quer na que surgiu, a partir do mês de novembro de 1975, sob a forma de revistas,
jornais e, anos depois, novas rádios locais, televisões privadas e por cabo, que
estenderam a sua emissão à Região.
Os
jornais existentes não colocaram muitos entraves à publicação de extensos
comunicados partidários e manifestos eleitorais para as primeiras eleições entretanto
realizadas. A época foi de dar largas à imaginação para dizer e escrever o que
tinha sido proibido durante quase meio século. Cada organização tudo fez para
publicar a sua visão acerca da nova ordem política nacional e regional. Uma vez
que estávamos numa altura de efervescência política, não se tornou difícil
classificar, com maior ou menor rigor, a orientação ideológica dos diferentes
órgãos de comunicação social existentes.
A
concorrência entre eles despertava interesse na publicação variada de temas
propícios à época. Mas se para uns, estar à esquerda não só era moda como dava
jeito mostrar que tinha havido rompimento com o regime deposto, outros não
tiveram pejo em contestar a nova política de esquerda que tudo fazia para se
instalar na sociedade. Outros iniciaram a marcha na defesa da Autonomia e, mais
do que isso, pugnaram acerrimamente pela independência da Madeira. Estavam nesta
onda:
- o
«Diário da Madeira», cujo director, dr. Castro Jorge, chegou a ser preso a 15
de maio de 1975, “com guia de marcha para Caxias”, conforme consta no livro de
Manuel Macedo;
- o continental
jornal «O Retornado», cujo proprietário e director era Arthur Ligne, que teve
inicialmente como correspondente na Região o professor Ornelas Teixeira, e
depois criou uma delegação, que publicou o suplemento “Páginas da Madeira”,
tendo como director da delegação Franklin Ligne e, depois, Mendes Moreira que deu
maior expansão às referidas páginas regionais.
De
mais relevante no suplemento “Páginas da Madeira” do jornal «O Retornado», de
29 de junho de 1976, é a entrevista dada pelo autodenominado Presidente da
Flama, a pedido deste, que apenas se deixou fotografar encapuzado:
“Estou
na Madeira porque sou madeirense, mais propriamente das regiões de São Vicente.
Procurei-vos porque vos considero um órgão de informação arrojado, dinâmico,
verdadeiro. Em contrapartida os nossos jornais regionais não têm expressão no
contexto nacional e internacional para os procurar. O «Diário de Notícias»,
como sabe, é um jornal que não é carne nem peixe, quer dizer, umas vezes é
comunista, outras é socialista, outras é fascista. O «Jornal da Madeira» é,
para nós, aquele que merece mais consideração mas só circula dentro do nosso
território. Sou o presidente da FLAMA. O Comandante chefe da UNIARMA. Estou
hoje aqui, vindo de Londres; venho aqui todos os meses para conferenciar com os
nossos chefes regionais (...)”.
Entretanto,
o aparecimento de vários órgãos de comunicação social escrita deu azo às mais
variadas manifestações ideológicas de extrema esquerda, esquerda, centro,
direita, autonomistas, separatistas e centralistas. Sobre estes escreverei na
próxima semana.
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