Reflexos de «Abril 74» na Madeira (8)
OCUPAÇÃO
DO SEMINÁRIO MENOR (2):
- A
urgente devolução do Seminário, ocupado a 31/10/1974, foi fundamentada no
comunicado do dia seguinte, tendo em conta que “OS CRISTÃOS CATÓLICOS PRECISAM
DO SEMINÁRIO DA ENCARNAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DO PROGRAMA JÁ ELABORADO E DADO A
CONHECER EM 19 DE SETEMBRO DE 1974” .
Menciona os nove “serviços a instalar na casa da Diocese – Seminário da
Encarnação”:
- GABINETE
DO PRELADO, incluindo a Secretaria Episcopal e o Gabinete de Informação;
- GABINETE
DO VIGÁRIO GERAL;
- GABINETES
DOS VIGÁRIOS EPISCOPAIS;
- CÚRIA
DIOCESANA que incluía o Tribunal Eclesiástico, a Câmara Eclesiástica e os
Serviços Administrativos;
- CONSELHOS
DIOCESANOS, compostos pelo Conselho Presbiteral, Conselho do Apostolado dos
Leigos, Conselho Pastoral e Conselho Diocesano de Administração;
- COMISSÕES
DIOCESANAS, tais como a Comissão de Liturgia e Música Sacra, a Comissão de Arte
Sacra, a Comissão de Justiça e Paz e a Comissão da Cáritas;
- SECRETARIADOS
DIOCESANOS da Evangelização, da Doutrina Cristã (Catequese), da Família, da
Juventude, das Vocações, da Emigração e Turismo e das Missões;
- SERVIÇOS
CENTRAIS, compostos pelo Centro Pastoral de Documentação e Leitura; Centro de
Retiros e de Cultura Religiosa e Sala de Conferências;
- JORNAL
DA MADEIRA.
Não
há dúvidas de que todo este imenso rol de serviços daria para ocupar todas as
instalações do edifício. Só que a devolução não se verificou, nem com a
manifestação de fé a favor da mesma. Mais tarde, acabou por ali ser instalada a
“Escola Bartolomeu Perestrelo”, ficando o prédio no regime de arrendamento. Nem
a regionalização do setor da Educação levou o Governo Regional a devolver o
prédio ao seu legítimo proprietário. Daqui se deduz que o comunicado do dia 1
de novembro de 1974, que não foi elaborado por um leigo qualquer, constituiu
apenas um falso argumento para nele instalar os serviços mencionados. Se o
quisesse, não tinha optado pelo arrendamento que chegou a 1.400 contos por mês.
Em 2005, o Governo
Regional e a Diocese do Funchal revogaram por mútuo acordo o contrato de
arrendamento do edifício do Seminário. A Resolução de 29 de Setembro de 2005 do
Governo Regional, dando conta do acordo, determinou atribuir um subsídio de 150
mil euros à Diocese “para a realização das obras de reparação e reposição do
locado da responsabilidade do inquilino”. O acordo previa o pagamento daquela
quantia nos prazos estipulados (22.447,50 euros até Dezembro de 2005 e o
remanescente no ano de 2006).
O certo é que o
inquilino (Governo Regional) deixou o edifício em muito mal estado de
conservação. A «gaiola verde», na linguagem seminarística de então, pela sua
história e arquitectura, não merecia estar sujeita à degradação a que foi
submetida. Quando deixou o edifício, o inquilino nem se dignou retirar uma estrutura
de alumínio branco colocada numa das entradas, que ajudou a “engalanar” o
panorama degradante do imóvel. Passados nove anos da desocupação, o edifício
não foi submetido a obras, continuando permanente a sua degradação.
Refere o
Elucidário Madeirense que deve-se ao bispo D. Manuel Agostinho Barreto a
construção do edifício “na cerca do extindo convento da Incarnação” destinado
ao Seminário Diocesano. Para tal obra, “dispendendo toda a sua fortuna herdada
e adquirida, dotou a diocese com um amplo e esplêndido edifício, que é um dos
mais belos títulos de glória da sua administração episcopal”.
O seminário
começou aí a funcionar em outubro de 1909, mas foi extinto pela lei de
20/4/1911, passando o edifício para a posse do Estado. Apenas foi recuperado
pelo decreto de 25/4/1927, que considerou ilegal a cessão feita à Junta Geral
do edifício da Incarnação. Apenas em outubro de 1933 é que o Seminário
Diocesano voltou a ser instalado naquele edifício, sem interrupção até 1974.
Em 1958, o
Seminário Diocesano foi desdobrado em dois: o Menor e o Maior. O Seminário
Menor manteve-se no edifício da Incarnação, com os alunos até o 5º ano. O
Seminário Maior passou para o edifício na Rua do Jasmineiro, com os alunos do
6º ano e seguintes.
Da riqueza
instalada no edifico da Incarnação constava o Museu de História Natural do
seminário, fundado pelo padre Hernesto Schmitz que foi vice-reitor, tendo dado
continuidade ao Museu o cónego Barreto e, mais tarde, o padre Manuel de Nóbrega,
quando o espólio já se encontrava no Jardim Botânico.
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