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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Ziguezagues na construção de novo hospital no Funchal

“(…) Não podemos deixar passar sem reparo esquecimento total de zonas de protecção e o atrofiamento do Hospital que se vem verificando e que resulta da construção de edificações em todos os seus quadrantes, a comprometer qualquer viabilidade de expansão futura.
Como não se compreende, de igual modo, a construção de um Complexo destinado ao Ciclo Preparatório a norte do Hospital apenas separado deste por uma estrada, o que não deixará de constituir factor grave de perturbação sobretudo para os doentes”.

In «RELATÓRIO DE ACTIVIDADES» de 1975
 do Hospital  Distrital do Funchal

Há 42 anos, a inauguração do Hospital da Cruz de Carvalho representou para a Madeira uma obra de grande vulto e um valor acrescentado para os madeirenses. Não se tratou apenas na vertente física, em que o novo edifício de nove andares era posto em confronto com o velho e caduco Hospital dos Marmeleiros com menos de metade da altura daquele e com serviços a rebentar pelas costuras. Foi também na qualidade e quantidade de prestações de cuidados médicos e de internamentos que a Região passou a usufruir.

Cerca de quatro anos mais tarde, com a regionalização do setor da saúde, iniciava-se uma nova etapa com o objetivo de proporcionar mais e melhores apoios aos doentes no Hospital e nos Centros de Saúde.
Na altura da entrada em funcionamento do novo hospital existiam o dos Marmeleiros e o do Dr João de Almada, classificados como distritais. De categoria concelhia estava o da Calheta, o de Machico  e o de Santa Cruz. Das restantes estruturas de saúde, funcionavam 14 Centros Sanitários, dependentes da Junta Geral; 11 Delegações de Saúde (uma em cada concelho); uma Casa de Natividade;  22 Dispensários Materno-Infantis, dependentes do Instituto Maternal; 12 Postos Fixos de Vacinação e 8 Casas de Permanência do Programa de Promoção Materno Infantil.

Apesar de prometida uma verdadeira política de saúde na Região, cujas orientações baseavam-se no ideal autonomista, cedo descambou para uma débil ação com especial relevância nas indefinições quanto a estruturas hospitalares na capital madeirense. Enquanto o Governo Regional gastava muito dinheiro sem um projecto bem definido, deitando remendos e construindo anexos, o “hospital novo” ia envelhecendo no espaço e na qualidade.

Se, em 1975, foi questionada a construção da Escola Dr. Horácio Bento de Gouveia pela sua proximidade ao Hospital da Cruz de Carvalho, 2003 foi o ano horrível para o Hospital da Cruz de Carvalho:
- Pela Resolução nº 136/2003 “O Conselho do Governo reunido em plenário em 6 de Fevereiro de 2003, resolveu aprovar o Projecto, Programa de Concurso, e Caderno de Encargos para a obra de “Ampliação e Beneficiação do Corpo Polivalente da Escola Básica do 2º e 3º Ciclos Doutor Horácio Bento de Gouveia e autorizar a abertura do respectivo Concurso Público”;
 - Pela Resolução nº 138/2003 “O Conselho do Governo reunido em plenário em 6 de Fevereiro de 2003, resolveu aprovar o Decreto Regulamentar Regional que sujeita a medidas preventivas os terrenos localizados na área envolvente à nova unidade hospitalar a implantar no Funchal”.
Mas foi a partir de 2001 que se acentuaram os ziguezagues na construção do novo hospital. Em vez de ampliar o atual para norte, no espaço natural que estava previsto como zona de expansão, inscreveu verbas no Orçamento da Região daquele ano para a “remodelação e ampliação” da escola Horácio Bento.

Não tardou para que o Governo Regional ziguezagueasse em novas decisões. Apesar da opção política de construir um hospital de raiz, o Hospital da Cruz de Carvalho sofreu obras sucessivas, apesar do mesmo ser para “abater à carga”. E até parecendo estar definitivamente assente a construção de edifício sem recurso à ampliação do actual, houve avultadas despesas com a expropriação de terrenos em São Martinho e com o projeto, mas tudo foi metido na gaveta.

A nova opção foi ampliar o Hospital da Cruz de Carvalho para sul, havendo já a reversão aos proprietários de alguns terrenos de São Martinho. Só que ampliar para sul provavelmente é mais caro que ampliar para norte, mesmo que a escola tenha sair do lugar, onde nunca deveria ter sido construída. É uma questão de contas e de opção política. Uma coisa é certa, o atual Presidente do SESARAM não concorda com a ampliação para sul, logo resta a direção norte.

Mas como os diversos governos regionais atuaram sempre ao sabor do vento com ausência de uma visão estratégica quanto à utilização dos espaços físicos existentes, caberá ao novo governo que sair das eleições de 29 de Março a decisão final, mas sem ziguezagues nem decisões   desacertadas e sem jeito.






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