Ziguezagues
na construção de novo hospital no Funchal
“(…) Não podemos deixar passar sem reparo esquecimento
total de zonas de protecção e o atrofiamento do Hospital que se vem verificando
e que resulta da construção de edificações em todos os seus quadrantes, a
comprometer qualquer viabilidade de expansão futura.
Como não se compreende, de igual modo, a construção de um
Complexo destinado ao Ciclo Preparatório a norte do Hospital apenas separado
deste por uma estrada, o que não deixará de constituir factor grave de
perturbação sobretudo para os doentes”.
In «RELATÓRIO DE ACTIVIDADES» de 1975
do Hospital Distrital do Funchal
Há 42 anos, a inauguração do Hospital da
Cruz de Carvalho representou para a Madeira uma obra de grande vulto e um valor
acrescentado para os madeirenses. Não se tratou apenas na vertente física, em
que o novo edifício de nove andares era posto em confronto com o velho e caduco
Hospital dos Marmeleiros com menos de metade da altura daquele e com serviços a
rebentar pelas costuras. Foi também na qualidade e quantidade de prestações de
cuidados médicos e de internamentos que a Região passou a usufruir.
Cerca de quatro anos mais tarde, com a
regionalização do setor da saúde, iniciava-se uma nova etapa com o objetivo de
proporcionar mais e melhores apoios aos doentes no Hospital e nos Centros de
Saúde.
Na altura da entrada em funcionamento do
novo hospital existiam o dos Marmeleiros e o do Dr João de Almada,
classificados como distritais. De categoria concelhia estava o da Calheta, o de
Machico e o de Santa Cruz. Das restantes
estruturas de saúde, funcionavam 14 Centros Sanitários, dependentes da Junta
Geral; 11 Delegações de Saúde (uma em cada concelho); uma Casa de
Natividade; 22 Dispensários
Materno-Infantis, dependentes do Instituto Maternal; 12 Postos Fixos de
Vacinação e 8 Casas de Permanência do Programa de Promoção Materno Infantil.
Apesar de prometida uma verdadeira política
de saúde na Região, cujas orientações baseavam-se no ideal autonomista, cedo
descambou para uma débil ação com especial relevância nas indefinições quanto a
estruturas hospitalares na capital madeirense. Enquanto o Governo Regional
gastava muito dinheiro sem um projecto bem definido, deitando remendos e
construindo anexos, o “hospital novo” ia envelhecendo no espaço e na qualidade.
Se, em 1975, foi questionada a construção da Escola Dr.
Horácio Bento de Gouveia pela sua proximidade ao Hospital da Cruz de Carvalho, 2003
foi o ano horrível para o Hospital da Cruz de Carvalho:
- Pela Resolução nº 136/2003 “O
Conselho do Governo reunido em plenário em 6 de Fevereiro de 2003, resolveu
aprovar o Projecto, Programa de Concurso, e Caderno de Encargos para a obra de
“Ampliação e Beneficiação do Corpo Polivalente da Escola Básica do 2º e 3º
Ciclos Doutor Horácio Bento de Gouveia e autorizar a abertura do respectivo
Concurso Público”;
- Pela Resolução nº 138/2003 “O Conselho
do Governo reunido em plenário em 6 de Fevereiro de 2003, resolveu aprovar o
Decreto Regulamentar Regional que sujeita a medidas preventivas os terrenos
localizados na área envolvente à nova unidade hospitalar a implantar no
Funchal”.
Mas foi a partir de 2001 que se
acentuaram os ziguezagues na construção do novo hospital. Em vez de ampliar o
atual para norte, no espaço
natural que estava previsto como zona de expansão, inscreveu verbas no Orçamento da Região daquele ano para a
“remodelação e ampliação” da escola Horácio Bento.
Não tardou para que o Governo Regional ziguezagueasse em
novas decisões. Apesar da opção
política de construir um hospital de raiz, o Hospital da Cruz de Carvalho
sofreu obras sucessivas, apesar do mesmo ser para “abater à carga”. E até
parecendo estar definitivamente assente a construção de edifício sem recurso à
ampliação do actual, houve avultadas despesas com a expropriação de terrenos em São Martinho e com o
projeto, mas tudo foi metido na gaveta.
A nova opção foi
ampliar o Hospital da Cruz de Carvalho para sul, havendo já a reversão aos
proprietários de alguns terrenos de São Martinho. Só que ampliar para sul
provavelmente é mais caro que ampliar para norte, mesmo que a escola tenha sair
do lugar, onde nunca deveria ter sido construída. É uma questão de contas e de
opção política. Uma coisa é certa, o atual Presidente do SESARAM não concorda
com a ampliação para sul, logo resta a direção norte.
Mas como os diversos
governos regionais atuaram sempre ao sabor do vento com ausência de uma visão
estratégica quanto à utilização dos espaços físicos existentes, caberá ao novo
governo que sair das eleições de 29 de Março a decisão final, mas sem
ziguezagues nem decisões desacertadas e sem jeito.
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