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terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Em defesa do «Hospital da Calheta»

Desde a última década dos anos cinquenta do século XX, operou-se uma evolução substancial no concelho da Calheta no âmbito das infraestruturas da Saúde com a construção do denominado «Hospital sub-regional da Calheta», planeado e construído pela Santa Casa da Misericórdia daquele concelho.
Na sequência das obras de restauração, em 1921, do edifício-sede, na Vila, surge a partir de 1956 uma nova fase de dinamização daquela Misericórdia, após aprovação de um novo Compromisso. E com o despacho de 10 de maio daquele último ano, do Sub-Secretário da Assistência Social, reconstituiu-se a Misericórdia dentro do “espírito tradicional da Instituição” passando a geri-la uma Comissão Administrativa da presidência do Comendador Joaquim Sequeira Cabrita.

É bastante elucidativo o artº. 3º do novo Compromisso, referindo que “compete obrigatoriamente a esta Santa Casa: 1º - Criar e manter o Hospital da Calheta com Postos de Socorros nas freguesias do concelho, onde se julgar aconselhável. 2º - Socorrer as grávidas e os recém-nascidos. 3º - Promover o enterramento dos pobres e indigentes que não tenham família ou meios para o funeral. 4º - Prestar socorros domiciliários. 5º - Manter um pequeno Asilo para adultos mendigos na freguesia do Arco da Calheta. 6º - Criar e manter internatos de Assistência à primeira e segunda infância nas freguesias onde for julgado conveniente. 7º - Manter uma consulta externa. 8º - Construir e manter bairros de casas económicas para pobres. 9º - Criar e manter gotas de leite, creches ou lactários”.
Em novembro daquele ano de 1956, a Comissão Administrativa mobilizou toda a população do concelho num movimento de admirável solidariedade para nova remodelação das instalações da sede e para a construção dum Hospital, no Lombo da Estrela, promovendo um cortejo de ofertas que rendeu mais de 200 contos.
Para além de muitas outras ofertas do povo e de entidades particulares da Madeira, a concretização daquele Hospital mereceu especial apoio financeiro do Estado, no âmbito do Plano Comemorativo – 1966, levado a cabo pelo Ministério da Obras Públicas, através da Comissão de Construções Hospitalares. O custo total da obra foi estimado em 2 850 contos, sendo 1 380 financiados pelo Fundo do Desemprego, e os restantes 1 470 contos a cargo da Misericórdia. O terreno não foi incluído naquele valor, uma vez que foi doado pela Irmã Amada, filha do médico Roberto Luís Monteiro que, durante muitos anos, foi delegado de saúde no concelho.
A 29 de setembro de 1963 teve lugar a cerimónia do lançamento da primeira pedra do Hospital, realizando-se também um cortejo de oferendas de todo o concelho. E a 13 de outubro de 1968 concluiu-se a obra do hospital que foi benzido com a maior solenidade pelo bispo da Diocese D. João da Silva Saraiva. Abriu as suas consultas externas no dia 24 de setembro de 1969, com duas consultas por semana, às quartas-feiras, pelo dr. João Lemos Gomes e, às quintas-feiras, pelo dr. Quintino Brazão Barreto. A 3 de fevereiro de 1970, foi feita a vistoria ao Hospital por técnicos dos Ministérios da Saúde e Obras Públicas, tendo o mesmo sido dado como apto para funcionar. A partir de então o Dispensário Materno Infantil que funcionava no edifício da Misericórdia, na Vila, passou para o Hospital.
A Mesa da Misericórdia contratou um médico para director daquele Hospital, com residência fixa, permanentemente ao serviço daqueles que necessitavam de recorrer ao Hospital para debelar os seus males físicos. Esse médico é o dr. João Carreiro Massa, com internato geral dos Hospitais da Universidade de Coimbra e que no dia 9 de abril de 1970 tomou posse como Diretor do Hospital, tendo organizado os serviços, adaptando e melhorando as enfermarias e quartos particulares com o material indispensável, requisitando medicamentos e bens necessários para que a 10 de maio seguinte o Hospital abrisse ao público com internamentos e, no dia 12 daquele mês, tivesse sido aberto o Serviço de Obstetrícia com o nascimento do primeiro bebé.

A história do Hospital da Calheta é muito mais vasta e tem algumas peripécias que passaram pelo seu encerramento em 1973, reabertura em 1976 pela Junta Regional, passando a Centro de Saúde pelo Governo Regional, após a regionalização do setor.

Nesta altura, é relevante defender o «Hospital da Calheta», não só pela sua histórica e atual função naquele concelho, como estrutura primordial no setor da Saúde, mas até pela sua localização, de fácil acesso dos utentes aos transportes públicos.
Defender o povo daquele concelho no plano da saúde, não passa, necessariamente, por construir um centro de sáude novo, afastado algumas centenas de metros do Hospital, onde os «horários» não passam, é mais incómodo e com íngreme e penoso acesso para pessoas de menor mobilidade.
Se é por prazer gastar dinheiro mostrando obra feita num novo centro de saúde, então estamos com o ditado popular: «quem tem muita manteiga, assa-a num espeto».






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