Confissão pública do
Presidente da Comissão Europeia
“Pecámos contra a dignidade dos povos, especialmente na Grécia, em
Portugal e muitas vezes na Irlanda também. Eu era presidente do Eurogrupo e
pareço estúpido em dizer isto. Mas temos de retirar lições do passado e não
repetir os mesmos erros”.
Jean-Claude
Juncker, no Comité Económico e Social, 18/02/2015
A verdade de
Juncker reflete a constação das políticas erradas que foram tomadas pela
Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional, desde
que, conjuntamente, impuseram medidas de promoção da pobreza aos povos dos
países que recorreram a apoio financeiro. Medidas que foram contestadas por
muitos ao longo dos anos.
Mas receio que a
Comisão Europeia não tenha capacidade política para implementar medidas que
contrariem o favorecimento dos chamados «Mercados». Em vez do crescimento
económico dos países intervencionados, o perigo existe no sentido de manter
tudo como dantes. Isso aconteceu quando, em dezembro de 2011, Durão Barroso não
conseguiu que fossem aprovadas três modalidades de «eurobonds» para resolver o
problema da dívida dos Estados-membros. Nessa altura, surgiu uma proposta dos
economistas Yanis Varoufakis (atual ministro da finanças da Grécia) e Stuart
Holland defendendo a emissão de duas «eurobonds» diferentes: uma de títulos de
dívida, outra de investimento.
Mas a proposta
que venceu na cimeira dos Chefes de Estado e de Governo, realizada no dia
09/12/2011 foi a de Angela Merkel/Sarkozy, defendendo: a alteração dos
tratados; uma “regra de ouro” na legislação dos países para impedir a
acumulação de défices orçamentais; antecipação, para 2012, do lançamento do
Mecanismo Europeu de Estabilização; mecanismos «automáticos» de penalização dos
Estados incumpridores; anúncio de que qualquer reestruturação de dívida poupará
os investidores privados; luz verde para atuação do BCE nos mercados de dívida.
Naquela cimeira
estava Passos Coelho que, no dia 27/10/2011, tinha afirmado:
“Não vale a pena
fazer demagogia sobre isto, nós sabemos que só vamos sair desta situação
empobrecendo – em termos relativos, em termos absolutos até, na medida em que o
nosso Produto Interno Bruto (PIB) está a cair (o que estamos a fazer é para
sair da recessão, não é para agravar a recessão (…) sinto que estamos a fazer
aquilo que é preciso, que a nossa direção é a direção certa”.
Como é fácil de ver, foi a política
do empobrecimento que o Governo PSD/CDS seguiu com todo o fervor e ambição
desmedidos, seguindo à risca as orientações da Alemanha, da França e de outros
ideólogos da destruição social e económica. As promessas
eleitorais não foram cumpridas, embora Passos Coelho tivesse anunciado ter
soluções rápidas para resolver todos os problemas do País. Implementou medidas
financeiras que foram para além do que foi acordado com a malfadada «troica»,
aceitando sem pejo a obsessão pela redução do défice a qualquer custo, quando
havia razões objetivas para renegociar tempo mais alargado de modo a não
castigar os portugueses com medidas asfixiantes. Defendeu a emigração, que nem
no Estado Novo tal aconteceu. Fez exigências deveras apertadas à Região
Autónoma da Madeira para, em poucos anos, solucionar o problema das dívidas que
o Governo Regional do PSD-M criou. Exigiu a «Carta de Intenções» que o Governo Regional
subscreveu, como cordeiro manso.
Se é verdade que
havia, há muito tempo, estrangulamentos estruturais da economia e das finanças
portuguesas, o certo é que a Comissão Europeia e o Conselho Europeu, em 14 de fevereiro
de 2008, elogiaram o governo português pela consistência “face ao objectivo de
se obter um défice público inferior a 3% do PIB até 2008 e a melhoria da
sustentabilidade de longo prazo”. O comissário Joaquín Almunia afirmou:
“Portugal deve ser louvado pela redução do défice para 3%, senão menos, em
2007, e pela reforma do sistema de pensões que melhoram as perspectivas das
finanças públicas a longo prazo”. Apesar disso, o Conselho Europeu colocou
reservas quanto ao atingir os objectivos propostos pelo governo, uma vez que “o
esforço de consolidação apresentado no PEC poderá não ser suficiente para que o
objectivo de médio prazo seja atingido em 2010” .
Apesar de ter havido tantos desencontros e
infortúnios, os portugueses conseguiram ultrapassar grande parte deles à custa
de muitos sacrifícios e exigências, decretados pelo Poder político que em cada
momento esteve à frente dos governos. Mas nenhum daqueles governos constituiu
um perigo tão grave para o País como o atual, gerido por Passos Coelho.
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