A “corrida” silenciosa
aos fundos comunitários
“Sempre segui a mesma linha contínua
em circunstâncias e
latitudes diferentes,
mas com uma única
preocupação:
unir os homens,
solucionar os problemas
que os dividem e
levá-los a ver o seu
interesse comum”.
Jean Monnet
Os partidos (só ou acompanhados), concorrentes ao ato eleitoral do
próximo dia 29, pouco ou nada falam acerca do que farão a mais de 800 milhões
de euros do apoio europeu 2014-2020, se
ganharem as eleições. É como se estivessem numa corrida silenciosa aos fundos
financeiros europeus, sem terem perspetivas como utilizar tanto dinheiro vindo
da «vaca leiteira» de Bruxelas e que dinheiro das receitas próprias será
utilizado para fazer face à componente regional. Para além do silêncio mórbido
quanto à estratégia de ultrapassar, pagando capital e juros, a escandalosa
dívida que o PSD pariu ao longo dos 39 anos de (des)governação das finanças públicas
regionais.
Do Programa Operacional «Madeira 14-20», a
Região receberá 270 milhões de euros do FEDER e 141 milhões do FSE. E para o
setor do desenvolvimento rural (FEADER) receberá 180 milhões, para além dos 265
milhões do Fundo de Coesão e 12,5 milhões do Programa de Cooperação Madeira
/Açores /Canárias.
Haverá também dinheiro do Orçamento do
Estado e de programas de Iniciativa Comunitária, continuando garantido o
POSEIMA para as ajudas ao abastecimento, tendo em vista diminuir os
constrangimentos regionais, e ainda à produção com especial ajuda aos
produtores de banana e cana sacarina.
De realçar que a verba do Fundo Social
Europeu (FSE) até 2020 é superior à que foi atribuída no QREN 2007-2013 (125
milhões de euros); à do QCA III - 2000-2006 – (110 milhões); QCA II -1994-1999
– (79 milhões); QCA I – 1989-1993 – (32 milhões). É caso para dizer que, tanto
dinheiro para formação, deveríamos ter muita gente com um alto nível académico!
Se não mesmo a região, culturalmente, mais desenvolvida do País!
Das promessas eleitorais não surgiram ideias consistentes nos mais
diversos planos de desenvolvimento que a Região Autónoma precisa. Mais do que
medidas avulsas, falta uma visão estratégica global dos partidos nos mais
variados domínios, tais como o que farão quanto a tornar mais racionais e
operacionais os planos de ordenamento do território e o acabamento das vias
estruturantes que estão a tornar-se verdadeiros “elefantes cor de
laranja”. Ignorando ou estando em
profunda amnésia, nada dizem sobre a necessidade absoluta de promover debates
em todos os municípios com vista a alterações profundas na divisão administrativa
da Região, tornado as administrações regional e autárquica mais ágeis e
eficazes.
Quando se
fala em desenvolvimento, o primeiro desvio da mente desemboca logo na Quinta
Vigia e nas câmaras municipais. Porque é entendimento generalizado que é às entidades
públicas que compete as tarefas do desenvolvimento. A perversidade daquele entendimento é absurda e desviante das capacidades
dos habitantes das freguesias e concelhos, por onde devem começar as tarefas
multi-sectoriais do desenvolvimento. Diria que as ações de aproveitamento das
potencialidades sócio-económicas devem iniciar-se nas localidades, mesmo que
estas sejam espaços do território inferiores ao da freguesia a que pertencem.
Cada um desses territórios tem as suas caraterísticas próprias. E que só cada
um deles bem desenvolvido é que contribui para o desenvolvimento global da
Região. Por sua vez, ao governo e às câmaras municipais compete criar as
condições estruturais e de apoio financeiro às respetivas populações para
utilizarem os recursos da sua área. Mas, especialmente, cabe às entidades
públicas não atrapalharem quem quer trabalhar e investir. Em vez de agilizarem
procedimentos, ditam leis irracionais e criam burocracia que emperra a rapidez
nas decisões, com a agravante do alto nível de impostos e taxas, criado pelo
Estado, pela Região e pelas Autarquias.
A pobreza de ideias do cadente
multipartidarismo concorrente às próximas eleições revela bem a sua
equivalência à fragilidade do modelo autonómico que tem sido dirigido pela
mesma força política há tantos anos. Tivemos uma autonomia que expulsou
madeirenses para o estrangeiro, não tendo sido capaz de fixar as pessoas na
região, ao ponto de o censo da população de 2011 revelar menos população
residente (267 785) que nos censos de 1950 (269 769) e de 1960 (268.937). E o
fluxo emigratório nos últimos três anos foi mais intenso do que o ocorrido nos
treze anos que durou a Guerra do Ultramar.
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