Autonomia e o dinheiro fácil da União Europeia
Desde os lucros gerados com o
comércio das especiarias do Oriente, com o ouro do Brasil, com os escravos
vindos da África e com o açúcar da Madeira, os monarcas e Governos de Portugal
basearam o conceito de investimento e de desenvolvimento nas transações
comerciais de produtos vindos de fora. Talvez por isso a estruturação
empresarial e aproveitamento dos recursos do território continental, chamado
Metrópole, ficou para segundo plano.
Perdidos os territórios
ultramarinos, a nova esperança para desenvolver o que restava do Império esteve
virada para a adesão à então CEE. Os ECU`s e, depois, os Euros, iriam salvar a
Pátria, para a reestruturação do tecido empresarial e para desenvolver os
setores económicos em toda a sua dimensão. Não iria faltar dinheiro dos Fundos
Estruturais e de programas de iniciativa comunitária para colocar Portugal na
locomotiva do desenvolvimento.
Mas se
dinheiro da Europa, aparentemente unida, não faltou. o escasseou foi o cérebro
dos dirigentes europeus e de muitos Estados membros, incluindo Portugal,
contaminado pela prevalência dos «mercados», e apostado em destronar o Estado
social, que custou muito a implementar. Houve uma orientação política
consciente e previamente delineada.
Mesmo no
tempo do Estado Novo, Portugal viu na CEE e na CECA uma via importante de
relações comerciais, tendo assinado, no dia 22 de julho de 1972, o Acordo de
Comércio Livre, tendo se realizado, em janeiro do ano seguinte, a primeira
reunião do Comité Misto Portugal/CEE.
Já depois
do «25 de Abril de 1974», mais precisamente a 7 de outubro de 1975, houve uma
ajuda financeira de emergência a Portugal, tendo o BEI - Banco Europeu de Investimento posto à disposição de Portugal
créditos no valor de 150 milhões de Unidades de Conta.
Os apoios da CEE a Portugal continuaram nos
anos seguintes, mesmo durante as duas fases da intervenção do FMI (1977 e
1983/1984), como foram os casos da assinatura, em 19 de dezembro de 1979, do
Protocolo complementar que previa medidas de proteção à indústria portuguesa e
um melhor acesso à Comunidade de certos produtos portugueses.
Em 3 de dezembro de 1980, foi assinada a
Convenção de ajuda de pré-adesão cujo montante global se elevou a 275 milhões
de ECU. Em julho de 1983, o BEI concedeu mais um empréstimo no montante de 75
milhões de ECU. Em 13 de março de 1984, houve a concessão de uma ajuda
financeira a fundo perdido de 50 milhões de ECU, destinada ao melhoramento e
modernização das estruturas agrícolas e da pesca. Em julho de 1984, o BEI
concedeu novos empréstimos a Portugal num montante de 150 milhões de ECU. De
todas estas ajudas e empréstimos a Região Autónoma da Madeira beneficiou de 37
679 contos.
É na dinâmica do dinheiro fácil da União
Europeia que se encaixa a Autonomia da Madeira, cuja decisão de acompanhar o
Estado na adesão à então CEE foi decidida na Região, por livre vontade. Primeiro
pela Resolução nº 358/80 ,
aprovada em 19 de junho em plenário do Governo Regional, segundo, pelo Decreto Regional nº 6/81/M ,
de 20 de abril, decidindo a composição da comissão regional de acompanhamento, terceiro,
pela Resolução da Assembleia Regional nº 2/85/M, aprovada em plenário do dia 5
de junho.
Quando, em 1989, foi necessário apresentar em
Bruxelas o PDR – Plano de Desenvolvimento Regional, destinado ao financiamento
no âmbito do Quadro Comunitário de Apoio (QCA I
1989-1993 - Pacote Delors I), Portugal foi o primeiro a fazê-lo. Os
milhões para combater o atraso do País justificaram elaborar um documento com
300 páginas, com vista a justificar a promoção do aumento da eficiência do
sistema produtivo, preparar os recursos humanos com a formação e assegurar a
correção progressiva dos desiquilíbrios internos. Tratou-se do início de um
programa de muitas infraestruturas rodoviárias, ferroviárias e portuárias,
levadas a cabo pelo segundo Governo de Cavaco Silva, graças ao acesso aos
fundos estruturais da então CEE, cujo montante transferido naquele período
atingiu cerca de 1300 milhões de contos (saldo entre o que Portugal recebeu e
pagou para o orçamento comunitário); no período do QCA II (1994-1999), as
transferências da União Europeia para Portugal rondaram 3500 milhões de contos,
incluindo verbas dos Fundos Estruturais e de Iniciativas Comunitárias; no
período do QCA III (2000-2006, Portugal beneficiou de 25,5 mil milhões de euros
transferidos da União Europeia; no período do QREN (2007-2013), os valores
rondaram 31,3 mil milhões de euros; quando, em
7 de julho de 2014, teve lugar em
Bruxelas a conclusão das negociações (Acordo de Parceria) entre Portugal e a
Comissão Europeia para o período de 2014/2020, o montante previsto para
Portugal rondará 25 mil milhões de
euros, incluindo os fundos para a Agricultura,
cabendo à Madeira mais de 800 milhões de euros.
(continua)
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