Ponta do
Pargo – a mais distante do Funchal
Desde a criação do município da Calheta, no
dia 1 de julho de 1502, o território da Ponta do Pargo que, no dizer de Gaspar
Frutuoso, “he o fim da ilha da banda do Sul”, sempre pertenceu àquele concelho,
e que é freguesia criada por volta de 1560. Mas nem sempre foi a freguesia mais
ocidental do município, uma vez que, até a criação e instalação definitiva,
inicialmente a 31 de Outubro de 1835, do município do Porto Moniz, a freguesia
das Achadas da Cruz pertenceu ao município da Calheta, por uma razão
geográfica: seguindo no sentido sul/oeste, as Achadas da Cruz ficam antes da
Ribeira do Tristão, que é o limite da Capitania do Funchal.
Apesar de ter uma saliente Ponta, cujo mar
tinha bastante peixe, “parecido ao pargo” – daí a designação de Ponta do Pargo –
o seu território é referido nas «Saudades da Terra» como tendo “terras
lavradias de trigo e centeyo, e criações de gado, e porcos: tem muitas fructas,
e agoas”.
E quando foi publicado o Almanaque da
Madeira – Anuário 1956-1957 – pelo padre Carlos Jorge de Faria e Castro, a
freguesia da Ponta do Pargo tinha “1 200 fogos numa população 3.266 habitantes”;
uma média anual de 130 nascimentos, 60 casamentos e 70 óbitos; 7 escolas, sendo
3 masculinas, 3 femininas e 1 mista, bem como 5 professores; 1 médico residente
(dr Vasco França); 3 mercearias e 2 padarias; um posto do Registo Civil.
Ao longo dos tempos, a freguesia manteve-se
essencialmente rural, sem indústria, com algum comércio e restauração servindo
o turismo, mas com grande aptidão para a produção de semilha e cenoura e outros
produtos agrícolas que se adaptam bem aos terrenos da altitude de 498 metros .
E se desde 1985 realiza-se a Festa do Pêro e foram iniciadas, mais
recentemente, obras para um campo de golfe, o certo é que baixou a produção de
peros e pararam as obras do golfe.
Não bastou a construção do Centro Cívico e outros equipamentos, a par
das belezas naturais, para satisfazer as necessidades básicas da população que
habita nos cerca de 25 Km2. É por isso que as grandes lacunas do
desenvolvimento, associadas à Guerra Colonial e, recentemente, à crise
económica e financeira, comuns a toda a Região, foram o móbil dos fluxos
migratórios, desde os anos cinquenta do século passado. Milhares de residentes
na Ponta do Pargo rumaram à África do Sul, Brasil, Venezuela e, agora, para
países europeus, à procura de vida melhor.
O efeito foi desastroso para a freguesia no tocante à redução abrupta
da população residente que se tornou das mais envelhecidas da Região, ao abandono
dos terrenos e à desertificação quase total. Vê-se no quadro seguinte a
evolução negativa da população residente, desde o censo de 1950:
Ano
|
1940
|
1950
|
1960
|
1970
|
1981
|
1991
|
2001
|
2011
|
P. do Pargo
|
3.075
|
3.266
|
2.624
|
1.770
|
1.451
|
1.349
|
1.145
|
909
|
Se houve complacência generalizada quanto à emigração dos anos
cinquenta e, depois, por razões de fugir à Guerra Colonial, já não se entende a
tolerância em admitir que a Autonomia da Madeira, em 1976, não fez fixar, nem
aumentar, a população na Ponta do Pargo. O censo da população de 1981 revela
bem o descalabro sucessivo da redução de residentes.
Temos uma Autonomia que foi gerida para expulsar e não para atrair
pessoas. Ainda assim, a Ponta do Pargo não pode ficar parada no tempo, apesar
de ser a freguesia mais distante do Funchal. Urge o desenvolvimento
sustentável, a valorização no plano social, cultural, ambiental, turístico,
agrícola, comercial e industrial, com a concretização de medidas para a fixação
dos jovens, pela criação de mais e melhor emprego, pelo aumento dos salários
evitando a emigração. É para isso que se justifica a coesão territorial, em que
a rede viária constitui estrutura essencial.
Pela sua localização, distando do Funchal 74 quilómetros –
medidos na Estrada Regional - a Ponta do Pargo foi sempre penalizada com o
tardar das acessibilidades, apesar de ter sido “beneficiada” com a construção
das «Estradas Reais» de ligação com as freguesias limítrofes, tal como
aconteceu em todas as localidades da Ilha. E quando, no início do século XX,
foi promovido o plano para a construção de novas estradas para acesso a
automóveis, a Ponta do Pargo foi das últimas da zona oeste a ter estrada e
transportes coletivos de passageiros, com reduzida e precária frequência – para
chegar ao Funchal, usando os “horários” com manivela para pôr o motor a
trabalhar – eram necessárias cerca de quatro horas ou mais.
Com a construção da «Via-Expresso» até a Raposeira (Fajã da Ovelha) a
continuação até a Ponta do Pargo - mais
do que servir para faciliar a chegada de pessoas ao aeroporto para a emigração
- tornava-se uma obra imprescindível. Foi prometida, pela primeira vez, nos
manifestos eleitorais do PS e do PSD nas eleições regionais de 2004. Anos mais
tarde, iniciaram as obras. Mas o colapso financeiro da Região determinou a
suspensão das mesmas. Sem reinício à vista, a obra tornou-se um “elefante
laranja” da Autonomia.
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