Conflitos das Autonomias da
Madeira (37)
A implantação do regime republicano permitiu a Sidónio Pais aceder e
acumular outros cargos para além da docência, numa primeira fase e, depois, uma
via política. Ascende a presidente da Comissão Municipal de Coimbra e, no final
de 1910, pela mão de Brito Camacho, pertence ao Conselho de Administração dos
Caminhos-de-Ferro, abandonando a municipalidade de Coimbra. A 23 de outubro de
1910 são nomeados Manuel de Arriaga e Sidónio Pais para os cargos de reitor e
vice-reitor da Universidade de Coimbra.
Numa conjuntura de grande agitação política e estudantil, com a invasão das
aulas e perseguição de lentes tidos como franquistas e reacionários, foi
necessário lançar as bases da exigida reforma da Universidade. Foi com Manuel
Arriaga e Sidónio Pais que foram promulgados quatro emblemáticos decretos da
desejada nova academia, tendo sido abolido o juramento de lentes e alunos,
nomeadamente o juramento da Imaculada Conceição; as matrículas no 1º Ano de
Teologia foram anuladas, foi abolida a obrigatoriedade do uso de capa e batina
e foram extintos os privilégios dos «Velhos Estatutos». Os cursos das
Faculdades foram tornados livres, sem marcação de faltas, o que traduzia uma
modernização da conceção do ensino superior.
“Em fevereiro de 1911, Sidónio Pais faz a sua iniciação maçónica em
Coimbra, na Loja Estrela de Alva do REAA-Rito Escocês Antigo e Aceite,
escolhendo o nome simbólico de Carlyle (1795-1881), historiador, crítico da
sociedade e filósofo escocês. Muito se tem dito sobre esta escolha,
aventando-se a hipótese do trabalho de Carlyle, nomeadamente o texto ON Heroes
(…) ter tido influência sobre Sidónio Pais. Ou seja, ter moldado a sua maneira
de encarar o processo histórico e o papel central que nele tinham os heróis,
nomeadamente o «rei». A sua iniciação pode significar a necessidade de
legitimação política, face a outros republicanos, também maçónicos, mas mais
activos politicamente ou mesmo «revolucionários».
Novas oportunidades levam Sidónio Pais a abandonar Coimbra. Em Maio de 1911
é eleito deputado à Assembleia Nacional Constituinte pelo círculo nº 15,
Aveiro. Sidónio Pais não se distinguiu como tribuno, nem teve intervenções
extensas e inspiradas. Foi, portanto, um deputado participativo mas discreto,
que alinhava com o republicanismo moderado de Brito Camacho, que viria a ser o
chefe do Partido Unionista. Defendeu a existência de duas câmaras e recusou a
ideia de um Senado «corporativo», temendo que este se tornasse conservador.
Através da influência de Brito Camacho, Sidónio Pais faria parte do
primeiro elenco governativo, presidido por João Chagas. O político unionista
explicou porque é que pugnara pela colocação do seu correligionário na pasta
que ocupara no Governo Provisório: «Unicamente por ser meu amigo? Não; porque
sendo S. Exª. uma inteligência superior e superiormente culta, e ao mesmo tempo
um nobre carácter, tinha a certeza de que havia de adoptar; do que eu fizera,
aquilo que achasse bom, e havia de corrigir com superiores vantagens aquilo que
achasse mau».
Sidónio Pais ocupou, assim, a pasta do Fomento, no I Governo
Constitucional, presidido por João Chagas. Era constituído por republicanos
moderados que tinham sobre os ombros a tarefa de «consolidar a República».
Tratava-se, portanto, de um gabinete do qual muito se esperava. A conjuntura
política, (…), não permitiu que os projectos gizados fossem levados a bom porto
por Sidónio Pais” (Presidentes de Portugal, Museu da Presidência da República,
janeiro 2006).
(continua)