Conflitos
das Autonomias da Madeira (61)
O Dr. Juvenal de Araújo salienta que a Madeira “estava a braços com os
resultados duma monstruosa legislação marítima, cheia de encargos e de motivos
de afastamento para os navios que pretendam demandar o seu porto. Foi
encontrá-la sem recursos para poder construir o mais pequeno porto de abrigo de
que tanto necessita, mas, no entanto, contribuindo até à última migalha do
imposto de comércio marítimo cobrado no seu porto em benefício do porto de
Leixões.
Foi encontrá-la sofrendo as consequências desastrosas duma terrível crise
sacarina, porque o governo que então estava no poder persistira até a ultima
hora em não tomar as menores providências que de todos os lados se reclamava
para que essa tremenda crise se evitasse. No entanto, Sr. Presidente, veiu o
aumento das contribuições, e da Madeira não ouviu o governo um grito de
revolta, não teve do mais recôndito concelho do arquipélago a mínima
manifestação de protesto, o mais ligeiro conflito ou incidente. Um povo que
assim procede tem especial autoridade para reclamar cuidados especiais do
governo para os seus interesses, sobretudo quando sente, como no presente
momento, que tem em risco o mais forte e sólido esteiro da sua prosperidade e
da sua movimentação económica e financeira.
Confio no patriotismo do govêrno. Especialmente, confio na recta intenção
do sr. ministro da Agricultura, pela pasta de quem corre esta ordem de
assuntos, para que esteja convencido de que não deixarão de ser tomadas
urgentes e eficazes providências. Ainda ha dias, tive ocasião de apreciar o
critério e o espírito de justiça de sua ex.ª na solução de um assunto de
interesse para a Madeira. O governo actual assumira o poder, encontrado
publicado pela pasta da Agricultura um decreto em que eram onerados os trigos e
farinhas importados na Madeira, do que necessariamente resultaria um agravamento
sensível do preço do pão.
Devo declarar que em todas as conferências que tive com s. exª sobre êste
assunto, encontrei-o, desde a primeira hora, sinceramente disposto a ouvir as
justas solicitações da Madeira que lhe eram feitas e em revogar o decreto que
encontrara publicado. Não deixou s. ex.ª de revogar finalmente esse diploma,
como era de incontestável justiça. Confio em que esse espírito de justiça mais
uma vez se exerça na questão que acabo de trazer ao conhecimento da Câmara.
Exige o não só o interêsse da Madeira, mas o interesse da vida económica
nacional.
Insisto, por isso, pelas providências que deixei solicitadas, como
absolutamente indispensáveis para que seja salva da derrocada a riqueza
representada pela produção e pelo comércio duma das mais reputadas marcas de
vinhos generosos portuguesas, cujo crédito nos cumpre, através de tudo, salvaguardar.
Tenho dito”.
Concluídas as citações das intervenções do Dr. Juvenal Henriques de Araújo,
na Camara dos Deputados da Legislatura de 1922-1925, é importante concluir com
um breve curriculum:
- Nasceu no Funchal a 21/11/1892, onde faleceu a 02/11/1976; formou-se em
Direito na Universidade de Coimbra; foi eleito Deputado nas listas do Centro
Católico Português, pelo círculo do Funchal em 1922-1925; Deputado à Assembleia
Nacional nas legislaturas de 1934-1938, 1938-1942 e 1942-1945; Diretor do
«Diário da Madeira»; Presidente da Misericórdia
do Funchal; Diretor do Banco da Madeira, tendo influência junto do Ministério
das Finanças na fusão do Banco Sardinha, da Casa Bancária Rodrigues, Irmãos
& Cª, no Banco da Madeira, pelo Decreto-Lei nº 23026 de 12/09/1933.
(Continua)
Sem comentários:
Enviar um comentário