Conflitos
da Autonomia – Quirino de Jesus escreve a Salazar
A «Comissão do Livro Negro Sobre o Fascismo», no livro intitulado «Cartas e
Relatórios de Quirino de Jesus a Oliveira Salazar, de março de 1987, relata
vária correspondência e relatórios de um madeirense que teve um papel
importante na implementação do regime consolidado por Salazar: Quirino Avelino
de Jesus. “é uma personagem tão importante quanto enigmático na história
económica e política dos primeiros anos da Ditadura Militar instalada em 1926 e
do período de implantação do Estado Novo, no início dos anos trinta. E no
entanto chega ao «28 de Maio» com a provecta idade de 71 anos, culminar de uma
multifacetada carreira de publicista, doutrinador e político que se iniciara
por volta da crise de 1890/91. Teorizador do «terceiro império» e do novo ciclo
colonial africano que então desponta; organizador e ideólogo percursor do que
ele próprio chamou o «nacionalismo católico» desde 1892 – o que o leva ao
convívio com Salazar e os jovens animadores da nova militância católica
redesperta a partir de 1912,
nomeadamente no Centro Católico reorganizado em 1917, economista especializado
em problemas financeiros e coloniais; advogado com estreitas ligações à alta
finança; político adepto de um Estado «tradicionalista e progressivo», isto é,
avesso à desordem ao «falso liberalismo», ao socialismo e ao comunismo, mas
simultaneamente dinamizador do fomento económico e demarcado dos «impulsos hitlerianos»
decorrentes do «desenvolvimento excessivo do poder público – eis a traços
grossos o perfil de um dos mais destacados pensadores do conservadorismo
português na transição do século, e quiçá do mais influente e discreto
conselheiro de Salazar (…)”.
Na carta enviada a Salazar no dia 9 de setembro de 1930, Quirino de Jesus
refere: “O Presidente da Associação Comercial do Funchal falou-me na
necessidade de estender aos algodões de determinada espécie o regime pautal dos
linhos para salvar o que seja ainda susceptivel de salvação nos bordados,
conforme reclamação existente no Ministério das Finanças. Não estudei o caso,
mas se a técnica alfandegária, fazendo o estudo, achar possível tal solução sem
perigo de descaminhos, conviria salvar-se o que pode ainda subsistir.
Vão ser fixados naturalmente agora os direitos do trigo e das farinhas dos
Açores. Peço-lhe que não deixe subsistir o absurdo a que se refere a nota
junta, devendo a Madeira ser igualada ao distrito da Horta neste assunto, se
não for possível restabelecer pela forma apropriada o antigo regime contrário à
importação da farinha como lhe disse por nota de ha duas semanas”.
“Quirino Avelino de
Jesus nasceu no Funchal a 10 de novembro de 1865 e faleceu em Lisboa a 3 de
abril de 1935
Inicialmente destinado a seguir o sacerdócio,
frequentou o Seminário do Funchal, mas
desistiu quando se preparava para tomar ordens
menores.
Em 1887 matriculou-se no curso de Direito da Universidade de Coimbra, formando-se em
1892, fixando-se em Lisboa.
Para além da sua actividade como advogado,
dedicando a maior parte do seu tempo ao serviço da casa comercial
madeirense Casa Hinton (William Hinton
& Sons, Lda), colaborou com diversos periódicos, escrevendo
maioritariamente sobre questões sociais, económicas e religiosas. Também se
empregou na Caixa Geral de Depósitos, onde ascendeu a
chefe de serviços.
Foi autor de diversas monografias sobre a Casa Hinton e sobre temática
religiosa e colonial. Foi redactor e director do jornal Portugal em África,
do Economista e do Correio Nacional e
colaborou na Choldra”.
(Wikipédia)