Conflitos da Autonomia – Primavera Marcelista
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Em entrevista de Marcelo
Caetano ao «Jornal da Madeira», publicada do dia 23 de setembro de 1971, refere
o momento em que foi convidado pelo Presidente da República para exercer
funções de Presidente do Conselho: “Eu estava, então, completamente afastado da
vida pública. Tinha uma vida profissional muito ocupada e, pelos motivos que
sabe, uma vida particular preocupante. Foi com surpresa que vi o meu nome
começar a ser citado quando a doença do prof. Salazar se agravou. O sr.
Presidente da República reuniu o Conselho de Estado, de que era – e sou – um
dos membros vitalícios, o qual, em vista do parecer dos médicos que assistiam
ao doente, foi de opinião de que era preciso substituí-lo das suas funções,
pois não havia esperanças de que pudesse
retomá-las. E o Chefe do Estado começou as suas consultas, meticulosamente,
ouvindo sugestões, apreciando o que lhe era dito, tirando sensatamente as suas
conclusões. Mais de quarenta individualidades foram ouvidas. Nunca, em qualquer
país, houve certamente tanto cuidado e tanta ponderação numa escolha. E, um
dia, chamou-me para me dizer que uma grande maioria esmagadora das pessoas
consultadas era de opinião de que deveria ser eu o encarregado de formar
Governo. Depois, tanta gente me disse que não poderia escusar-me ao convite que
o aceitei. Nem pus a minha candidatura, nem me furtei ao cumprimento do meu
dever”.
Em 28 de março de 1974, Marcelo
Caetano proferiu a última «Conversa em Família» através da rádio e da
televisão. A última porque vinte e oito dias depois, a revolução do 25 de Abril
motivou o seu exílio no Brasil, depois de ter passado alguns dias instalado no
Palácio de São Loureço no Funchal:
“Desde meados de Fevereiro
até agora de todos os recantos do País, de aquém e além-mar, milhares de
mensagens de apoio, de incitamento, de estímulo. Tantas que não é possível
acusar aos remetentes a sua recepção. Nem sequer responder às centenas de
cartas de pessoas amigas, algumas delas tão comoventes. Fica aqui o meu
agradecimento a todos. Deus permita que eu seja sempre digno da confiança dos
bons portugueses. Por isso me tenho esforçado.
Olhando para o trabalho
realizado nos cinco anos e meio de governo, fazendo exame de consciência sobre
as intenções que me têm norteado, fica-me a tranquilidade de ter sempre
procurado cumprir retamente o meu dever para com o País, que o mesmo é dizer,
para com o Povo Português (…) a vida em sociedade implica numa atitude de
solidariedade e de colaboração que exige dádiva de si próprio, sacrifício de
interesses, espírito de serviços, integração em planos coletivos. Mas o egoísmo
materialista desfaz tudo isso (…) Quantas vezes as pessoas se queixam de
injustiças, por não lhes ser feita a vontade! Para muitos justiça é o que lhes
convém.
Estamos perante a
invasão de uma mentalidade que grassa já na maior parte dos países e que,
infelizmente, está longe de ser um sinal de progresso. Por este caminho
progride-se sim, mas para a anarquia (…) Poucos se aperceberão do esforço
titânico que tem sido realizado pelos homens do Governo para, no meio de tantos
obstáculos, com serviços administrativos inadequados às circunstâncias, tendo
de vencer hostilidades incontáveis e de, a cada passo, ocorrer a situações
inesperadamente graves, ir prosseguindo no caminho traçado de proporcionar ao País, com a rapidez necessária, os meios indispensáveis
à valorização da nossa gente (…)” (Marcelo Caetano Depoimento, pag.240 e 241, distribuidora
Record de Serviços de Imprensa, S.A., Rio de Janeiro-São Paulo. 1974).
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