Conflitos da Autonomia –
Primavera Marcelista (3)
A iniciativa de Marcelo
Caetano de deixar a política ativa, informando Oliveira Salazar, este, no mesmo
dia, 14 de agosto de 1958, respondeu a agradecer os préstimos de Marcelo
Caetano, informando que: “de todos os desgostos que tivera nos últimos anos,
ver-se privado da companhia e colaboração de Marcelo Caetano era o maior. Mas
encerrava reafirmando a intenção de ver Caetano continuar, de alguma forma, a
colaborar com o Estado Novo: «Espero que, feito o necessário repouso, continue
a dar ao regime que tanto lhe deve a
colaboração que será sempre possível prestar a quem dispõe de tantos dotes». A
última carta entre ambos, ainda do quadro de episódio da demissão de Marcelo
Caetano foi aquela em que este lhe agradeceu os elogios que Oliveira Salazar
lhe fez aquando da posse de Pedro Teotónio Pereira como novo ministro da
Presidência.
Em Agosto de 1959 o
governo procedeu a uma revisão constitucional com o objectivo de reduzir o
colégio eleitoral para a Presidência da República. A eleição do Presidente
ficava doravante restrita a procuradores, deputados e representantes das
câmaras municipais de cada distrito, além dos representantes das províncias
ultramarinas (…) Em 1966, Marcelo Caetano foi chamado para escrever um texto a
respeito dos jornais «A Época» e «A Voz», este último sucessor do primeiro a
seguir à sua proibição pelo regime republicano. Trata-se, como se vê, de um
texto memorialístico a respeito de temas marcantes para a sua juventude. Lembra
no texto que a década de 1920 foi um período de tomada de posições, de moções
apaixonadas, de alianças e rupturas efémeras, típico das paixões da época. Para
os católicos portugueses aquela era uma época difícil, de perseguições
constantes impostas pelo regime de 1910.
Assim, os jornais
referidos militavam no campo da resistência e da defesa da causa católica (…)
Para o Dr. Salazar era indispensável que os católicos levassem a sua actividade
ao terreno político, pois só através do exercício do Poder, ou da influência
nele, poderiam obter as liberdades almejadas (…).
Desde o início do seu
governo, Marcelo Caetano procurou adoptar medidas de impacto que demonstrassem,
na prática, a ideia de uma nova marca. Mesmo que fosse mais na forma do que no
conteúdo. Uma das mudanças foi a utilização dos meios disponíveis de difusão. A
rádio e a televisão eram, pois, os meios mais fáceis para chegar aos Portugueses,
do Minho ao Algarve, do Funchal a Ponta Delgada. Da mesma forma que foi o
primeiro político a falar para todo o país pela televisão, quando ministro da
Presidência, Marcelo Caetano passou a utilizar a rádio e a televisão
semanalmente”. (In Marcelo Caetano Uma Biografia, 1906-1980, Francisco C. P
Martinho).
A 7 de novembro de 1973,
Marcelo Caetano, presidente do Conselho de Ministros, remodelou o seu Governo
“entregando, pela primeira vez, a pasta da Defesa a um civil, Joaquim Silva
Cunha, ministro do Ultramar desde 1965, é o novo Ministro. Para o Ultramar, o
eixo desta última remodelação política, Caetano chama um firme adepto da rota
autonómica para as colónias, ministro e ex-governador de Moçambique, Baltazar
Rebelo de Sousa.
O outro eixo da
remodelação, e onde a questão ultramarina é ainda central, é a área militar. O
general Andrade e Silva é escolhido para novo ministro do Exército.
O regime herdado de
Salazar oscilava entre a liberalização e conservadorismo, entre Caetano e um
homem que personifique um outro caminho. (Diário de Notícias-Lisboa,
07/11/1998).
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