Quem manda na União Europeia?
“As medidas impostas não foram objeto de deliberação em
nenhuma estrutura democrática. Foram os tecnocratas das três instituições que
impuseram, com a pistola apontada à cabeça dos Governos em causa, medidas que
não foram discutidas democraticamente ao nível europeu”.
Liem Hoang Ngoc,
eurodeputado socialista francês (ao jornal Público, 07/02/2014)
As
afirmações que, no passado dia 7, Liem Hoang Ngoc fez na entrevista que deu ao
jornal Público, apesar de corresponderem à verdade patente no desnorteado rumo
que os dirigentes europeus imprimiram nas respetivas instituições, revelam
também a tardia ação dos deputados do Parlamento Europeu, quanto ao efetivo
controlo das medidas impostas pelos responsáveis da Comissão e do Banco Central
Europeu, associados ao FMI, aos países sob assistência financeira. Portugal é
uma dessas vítimas, com a agravante situação de ter sido o Governo de
Passos/Portas a aceitar tais medidas sem uma oposição forte para moderar as
doses cavalares.
Foram e continuam a ser claras apenas algumas contradições
entre o discurso dos patrões da Comissão e do Conselho Europeu e as imposições
dos tecnocratas da «troika» aos países por onde passam em irracional romaria,
com a clemência dos deputados do Parlamento Europeu. Porque também é bom recordar
que os comissários, bem como Durão Barroso, e o chefe do Conselho Europeu
sempre apoiaram as medidas ditadas pelos seus representantes nas troikas que
vagueiam pelos países que lhes pagam as viagens e estadas a peso e a preço do
ouro. E só porque estão para breve as eleições para o PE, é que os deputados da
Comissão Parlamentar dos Assuntos Económicos e Monetários decidiram viajar
pelos países vítimas das mentecaptas medidas de consolidação orçamental para
fazerem um relatório “sobre a investigação ao método de trabalho da troika” -
já se deslocaram a Portugal (6 a
7 de janeiro), ao Chipre (10 de janeiro), à Irlanda (16 e 17 de janeiro) e à
Grécia (29 e 30 de janeiro).
A gravidade das medidas seria atenuada se não estivessem em
causa cortes estrondosos nos salários, pensões e aumento de impostos a níveis
de loucura e demência forçada, retirando com essa política poder de compra aos
cidadãos, com efeitos negativos na economia, em geral, e no investimento, em
particular.
E para mal da nossa política, o Governo português é tão mau
como os imbecis da União Europeia. Põe em prática uma ideologia que leva os
portugueses ao estado de indigência total, impondo o método da morte lenta,
apenas para cumprir o défice orçamental que, hoje, está provado não ser viável o
seu cumprimento, nem viável se torna o pagamento da elevada dívida. Como é que
medidas para criar mais pobreza e retirar o poder de compra, bem como o pouco
investimento vão permitir o acesso a mais bens que seriam produzidos pelas
empresas que, por sua vez, criariam mais postos de trabalho?
A par disso, nota-se uma passividade da Internacional
Socialista, onde estão filiados os partidos socialistas e sociais-democratas de
vários países, da qual António José Seguro é vice-presidente. A sua atual ação
política não brota nenhuma orientação que sirva de proposta alternativa séria à
desregulamentação das políticas levadas a cabo pelos partidos ultraliberais e
conservadores, cujo lema são os «mercados» financeiros mundiais que, por
racional que pareçam, são, no entanto, esses «mercados» que mandam na União
Europeia.
A nível europeu,
os partidos que se organizam no Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e
Democratas no Parlamento Europeu, onde está o PS, são arrastados para o
cativeiro da inoperância da Internacional Socialista, por muitas propostas e
intervenções que façam naquele Parlamento. A prova está à vista quanto às
políticas do PS francês, na coligação do SPD na Alemanha e, mais perto de nós,
as frágeis e não desenvolvidas propostas do PS português, que deixam os
portugueses na dúvida de não haver alternativas fiáveis aos conservadores PSD e
CDS.
Tudo seria de
somenos importância se não estivesse bem à frente dos olhos de quem quer ver um
perigo iminente que é o aumento de popularidade dos partidos da extrema direita
em vários países europeus, que ao concorrerem nas próximas eleições levarão o
Parlamento Europeu a tomar medidas de destruição da União Europeia que
comporta, hoje, 495 milhões de cidadãos. Tudo por culpa dos atuais partidos e
digentes europeus e dos Estados membros.
E apesar de a
Suíça não pertencer à União Europeia, veja-se o inesperado “Sim” no referendo
para limitar a imigração, medida que faz parte da ideologia dos partidos
xenófobos!
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