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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Quem manda na União Europeia?

“As medidas impostas não foram objeto de deliberação em nenhuma estrutura democrática. Foram os tecnocratas das três instituições que impuseram, com a pistola apontada à cabeça dos Governos em causa, medidas que não foram discutidas democraticamente ao nível europeu”.

Liem Hoang Ngoc, eurodeputado socialista francês (ao jornal Público, 07/02/2014)


As afirmações que, no passado dia 7, Liem Hoang Ngoc fez na entrevista que deu ao jornal Público, apesar de corresponderem à verdade patente no desnorteado rumo que os dirigentes europeus imprimiram nas respetivas instituições, revelam também a tardia ação dos deputados do Parlamento Europeu, quanto ao efetivo controlo das medidas impostas pelos responsáveis da Comissão e do Banco Central Europeu, associados ao FMI, aos países sob assistência financeira. Portugal é uma dessas vítimas, com a agravante situação de ter sido o Governo de Passos/Portas a aceitar tais medidas sem uma oposição forte para moderar as doses cavalares.

Foram e continuam a ser claras apenas algumas contradições entre o discurso dos patrões da Comissão e do Conselho Europeu e as imposições dos tecnocratas da «troika» aos países por onde passam em irracional romaria, com a clemência dos deputados do Parlamento Europeu. Porque também é bom recordar que os comissários, bem como Durão Barroso, e o chefe do Conselho Europeu sempre apoiaram as medidas ditadas pelos seus representantes nas troikas que vagueiam pelos países que lhes pagam as viagens e estadas a peso e a preço do ouro. E só porque estão para breve as eleições para o PE, é que os deputados da Comissão Parlamentar dos Assuntos Económicos e Monetários decidiram viajar pelos países vítimas das mentecaptas medidas de consolidação orçamental para fazerem um relatório “sobre a investigação ao método de trabalho da troika” - já se deslocaram a Portugal (6 a 7 de janeiro), ao Chipre (10 de janeiro), à Irlanda (16 e 17 de janeiro) e à Grécia (29 e 30 de janeiro).
A gravidade das medidas seria atenuada se não estivessem em causa cortes estrondosos nos salários, pensões e aumento de impostos a níveis de loucura e demência forçada, retirando com essa política poder de compra aos cidadãos, com efeitos negativos na economia, em geral, e no investimento, em particular.
E para mal da nossa política, o Governo português é tão mau como os imbecis da União Europeia. Põe em prática uma ideologia que leva os portugueses ao estado de indigência total, impondo o método da morte lenta, apenas para cumprir o défice orçamental que, hoje, está provado não ser viável o seu cumprimento, nem viável se torna o pagamento da elevada dívida. Como é que medidas para criar mais pobreza e retirar o poder de compra, bem como o pouco investimento vão permitir o acesso a mais bens que seriam produzidos pelas empresas que, por sua vez, criariam mais postos de trabalho?

A par disso, nota-se uma passividade da Internacional Socialista, onde estão filiados os partidos socialistas e sociais-democratas de vários países, da qual António José Seguro é vice-presidente. A sua atual ação política não brota nenhuma orientação que sirva de proposta alternativa séria à desregulamentação das políticas levadas a cabo pelos partidos ultraliberais e conservadores, cujo lema são os «mercados» financeiros mundiais que, por racional que pareçam, são, no entanto, esses «mercados» que mandam na União Europeia.
A nível europeu, os partidos que se organizam no Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu, onde está o PS, são arrastados para o cativeiro da inoperância da Internacional Socialista, por muitas propostas e intervenções que façam naquele Parlamento. A prova está à vista quanto às políticas do PS francês, na coligação do SPD na Alemanha e, mais perto de nós, as frágeis e não desenvolvidas propostas do PS português, que deixam os portugueses na dúvida de não haver alternativas fiáveis aos conservadores PSD e CDS.
Tudo seria de somenos importância se não estivesse bem à frente dos olhos de quem quer ver um perigo iminente que é o aumento de popularidade dos partidos da extrema direita em vários países europeus, que ao concorrerem nas próximas eleições levarão o Parlamento Europeu a tomar medidas de destruição da União Europeia que comporta, hoje, 495 milhões de cidadãos. Tudo por culpa dos atuais partidos e digentes europeus e dos Estados membros.
E apesar de a Suíça não pertencer à União Europeia, veja-se o inesperado “Sim” no referendo para limitar a imigração, medida que faz parte da ideologia dos partidos xenófobos!


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