Há 40 anos
O panorama
político, económico e social vivido em Portugal no período imediatamente
anterior ao «25 de Abril de 1974» configurava um estádio civilizacional
incomportável para a maioria dos cidadãos:
- A «Guerra Colonial» ou «Guerra
do Ultramar» não só delapidava as finanças do «Estado Novo», mas também
colocava milhares de jovens nas três frentes de batalha em Angola (desde 1961),
Guiné (desde 1963) e Moçambique (desde 1964), com as inevitáveis mortes em
combate;
- A fuga àquela guerra, antes do
alistamento militar, foi o motivo para a emigração em massa de milhares de
jovens, havendo também os desertores já fardados;
- No plano
económico, a situação foi ainda mais penosa a partir da crise do petróleo de
1973, com o aumento dos preços de bens e serviços, numa economia de guerra, em
que a maioria da população era rural e vivia num sistema de subsistência;
- No dia 4 de abril de 1973, reuniu em Aveiro o III Congresso Republicano (da Oposição
Democrática), como evidente sinal de que o regime estava a ser atacado pela
força da mentalização política e não pelas armas;
- O Partido
Comunista, o Partido Socialista e outras organizações políticas lutavam, na
clandestinidade, pela mudança do regime totalitário e pela descolonização das
Províncias Ultramarinas;
- Com a publicação
do Decreto-Lei nº 353/73 ,
de 13 de julho, que permite aos milicianos ultrapassarem os oficiais da
Academia Militar, dá-se um mal-estar geral nas Forças Armadas, levando à
criação, a 30/7/1973, do embrião do movimento dos Capitães, que passou a
reunir, clandestinamente, em vários locais do continente e em Bissau;
- A 23/02/1974, o general Spínola lança o
livro «Portugal e o Futuro), denunciando que a guerra não tinha solução para o
Ultramar;
- A «Primavera
Marcelista» não desbloqueou o regime criado pelo seu antecessor, pese embora
tivesse permitido candidaturas da «oposição democrática», mas com controlo
absoluto pelo único partido reconhecido - a «União Nacional» - que deu lugar,
em fevereiro de 1970, à Acção Nacional
Popular (ANP);
- Nem a
transformação da PIDE-Polícia Internacional de Defesa do Estado em DGS-Direcção Geral
de Segurança, deixou de haver perseguição política levando à prisão todos os
que se opunham ao regime;
- Com a última «Conversa
em Família» de Marcelo Caetano na televisão e na rádio, a 28/3/1974, o
decrépito regime daria os últimos suspiros que duraram apenas vinte e oito
dias.
Com a vitória da liberdade, conquistada em 1974, o programa
do MFA abriu a porta à formação de associações políticas, “possíveis embriões
de futuros partidos políticos”, cujo regime jurídico atribuiu-lhes
personalidade jurídica para exercerem os direitos e deveres de acordo com o
exercício da sua função política.
Para
além das organizações e partidos que faziam política na clandestinidade, muitas
estruturas políticas foram constituídas a nivel nacional e regional. Foram
ativas as movimentações politico-partidárias quer por parte dos aderentes aos
partidos nacionais, quer também pelos movimentos políticos de ideologia de
esquerda, de direita e, na Madeira e Açores, de cariz separatista. De um modo
especial, o radicalismo político foi incrementado a partir do 11 de março de
1975, com a vitória do Gonçalvismo.
À laia
de estatística, tivemos até o final de 1976 dezasseis partidos e frentes eleitorais
inscritos no Supremo Tribunal de Justiça. Do conjunto de 43 organizações, 16
foram criadas na Madeira ou só a esta diziam respeito. De acordo com o
tradicional posicionamento ideológico, havia 24 de extrema-esquerda; 5 de esquerda;
1 do centro; 6 da direita; 7 da extrema-direita. E se tivermos em conta a
defesa mais ou menos expressa a uma autonomia para a Madeira, apenas 4 partidos
e organizações foram claros quanto àquela opção. E 29 nunca deram indícios de
tal forma descentralizada de governo. Mas 10 tiveram como opção primordial a independência
da Madeira, sendo curioso o facto de duas destas terem linguagem de extrema-esquerda.
Ainda
na vertente ideológica, foi relativamente fácil identificar que à área do
Socialismo Democrático ou Social-Democracia apenas estavam vinculados 4
partidos e organizações. À Democracia Cristã 2; ao Marxismo-Leninismo,
incluindo maoístas e trotskystas 25; sem identificação clara quanto ao modelo
ideológico seguido estavam 12.
Este panorama político-partidário do pós-25 de
Abril de 74, com relevância na Madeira, revela que foi na extrema-esquerda que
mais divisão ideológica houve. Aquilo foi um nunca mais acabar de organizações
a concorrerem umas com as outras para ver quem melhor defendia o MARX e o
LENINE!
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