Reflexos de «Abril 74»
na Madeira (7)
OCUPAÇÃO DO
SEMINÁRIO MENOR - A ocupação, a 31/10/1974, do Seminário Menor, localizado na
Calçada da Encarnação, constituiu uma
acção de certo modo carregada de uma forte componente política mas não
especificamente partidária, porquanto os seus promotores, de que fariam parte
professores e alunos do ensino oficial, tinham em vista utilizar um espaço para
nele serem ministradas aulas. No fundo, por falta de escolas, pretendiam
rentabilizar um espaço que tinha ficado vago em virtude de ter acabado o «Seminário
Menor».
D. Francisco
Santana, criou todas as condições mais que favoráveis para essa ocupação. E
nesse dia, o próprio Bispo foi ao local para “negociar” a desocupação ou, quem
sabe, fazer-se refém dos invasores para melhor dar a conhecer à opinião pública
o dramatismo da “ocupação selvagem” e da sua “prisão domiciliária”. De qualquer
maneira, o acontecimento acabou por dar trunfos ao prelado para a sua acção
político-religiosa daí em diante.
Ao longo de muitas
décadas, na “GAIOLA VERDE” (designação dada pelos seminaristas ao edifício então ocupado), funcionou o Seminário que passou a
designar-se «Menor» quando, em 1958,
entrou em funcionamento o Seminário Maior, situado na Rua do Jasmineiro.
Chegado à Madeira
a 12/5/1974, a primordial tarefa do novo Bispo foi reorganizar os Seminários,
acabando com o Seminário Menor e criando a “ESCOLA APOSTÓLICA” que não seria
Seminário mas sim uma escola de estudo das vocações sacerdotais dos jovens,
analisando, depois, “qual a vocação que Deus lhe dá para ser um bom Sacerdote
ou um bom Chefe de família”.
O certo é que, cerca de dois meses e meio após
ter tomado conta dos destinos da Igreja madeirense, D. Francisco Santana
enviou, a 5/8/1974, uma carta aos pais dos seminaristas do “Seminário Menor”
dando-lhes a conhecer a decisão de extingui-lo, dizendo: “No próximo ano
lectivo, não teremos aulas no Seminário Menor e, por isso, disse ao seu filho
que deveria matricular-se no Liceu ou Colégio de modo a ficar em casa. Se não lhe for
possível porque não tem liceu ou colégio próximo, terá então de vir para o
Funchal, para um lar que vou abrir para este efeito”. A medida tomada tinha uma
justificação externa, vinha de Roma. A carta refere que “É desejo do Santo
Padre de Roma que os seminaristas,
enquanto não entram no Seminário Maior, façam os seus estudos liceais, tanto
quanto possível sem saírem de suas casas, pois estão numa idade que muito precisam do carinho de seus Pais”.
É
verdade que o ensino do Seminário não tinha equiparação ao ensino oficial, o
que criava dificuldades na continuação dos estudos dos seminaristas que
deixavam de ter “vocação”. De certo modo, o novo modelo veio acabar, em parte,
com a injustiça criada ao longo dos tempos. Mas a motivação de D. Francisco
Santana para acabar com o Seminário Menor baseou-se também no argumento de que
“Tem havido rapazes que entram no Seminário só por causa dos estudos e nunca
pensaram em ser
Sacerdotes , e assim levam toda uma juventude de mentira e de
hipocrisia, o que é muito deseducativo. Só entrarão no Seminário Maior aqueles
rapazes que derem provas de uma verdadeira vocação sacerdotal e tenham feito o
7º ano dos Liceus. Eu preciso de ter muitos e santos Sacerdotes para serem os
Guias Espirituais do Povo de Deus. Pode ser que o seu filho tenha esta vocação
sacerdotal, mas terá tempo de se decidir ao terminar os estudos liceais”. Nem
mais, o problema estaria na “mentira e na hipocrisia” dos jovens que iam para o
seminário sem terem dado provas de uma “verdadeira vocação”, como se apenas
fosse autêntica a vocação que surge mais tarde!
A
ocupação do “Seminário da Encarnação” deu origem a um comunicado anónimo,
datado do dia 1 de Novembro, dirigido aos “CATÓLICOS MADEIRENSES” contra tal
ocupação e convocando-os para uma concentração para aquele dia, pelas 16 horas,
junto à Sé, a fim de mostrarem o desacordo “junto das Forças Armadas e exigir a
sua entrega imediata à Diocese”.
O comunicado refere: “QUEREM TIRAR-NOS O
SEMINÁRIO DA ENCARNAÇÃO, ALEGANDO FALSAS RAZÕES. O NOSSO BISPO FOI OBRIGADO A
CEDER, DEPOIS DE INSULTADO E HUMILHADO DURANTE UMA NOITE INTEIRA, PRESO NA SUA
PRÓPRIA CASA”. Mais adiante refere: “PRECISAMOS DO SEMINÁRIO MENOR!!! NÃO ESTÁ DESOCUPADO COMO AFIRMAM. NÃO PODEMOS
DEIXAR O NOSSO SEMINÁRIO QUE TANTOS SACRIFÍCIOS CUSTOU AO POVO CATÓLICO DA
MADEIRA”.