Reflexos de «Abril 74» na Madeira (5)
“Se necessário, haverá que retomar os combates
de há três anos
atrás, visto que se assiste a um
novo crescendo da agressão marxista”.
In:
Comunicado do Secretariado Regional do PSD-M, 16/12/1979
“Os sucessos conquistados
conseguiram-se
porque em 1974 e 1975 pegámos nuns
cavalheiros, metemo-los num avião e
mandámo-los para Lisboa.
E foi aí que eles perceberam que nós tínhamos
força, e nos deram a autonomia”.
Alberto
João, Festa do PSD-M, Paúl da Serra, 2/8/92
Na Madeira, os
atentados com bombas, fogo posto ou outras formas de ações terroristas
constituíram os atos mais hediondos e perversos do período pós-25 de Abril de
1974.
O “Verão Quente”
de 1975 foi propício para a criação de uma onda de atentados nunca vista. O 11
de março de 1975 e o aprofundamento da política seguida por Vasco Gonçalves
criaram motivação nos terroristas regionais para o bombismo. Mas foi
essencialmente a partir de agosto de 1975 que a violência se instalou, embora
com menor frequência a partir de meados de 1976.
Um dos primeiros
atos reprováveis, a 12 de agosto de 1975, foi a tentativa de fogo posto numa
carrinha junto à sede do PPD, na Rua das Mercês. Depois seguiram-se sucessivos
rebentamentos como os do Avista Navios, na véspera da festa do Monte; os
transmissores do Centro Regional da Emissora Nacional, localizados no Monte,
foram pelos ares, assim como uma bomba colocada junto às instalações da Rua dos
Netos; Álvaro Branco, proprietário de uma padaria em S. Jorge , só por ser
considerado comunista, viu aquele estabelecimento ser atingido por um engenho
explosivo; um pacato bancário, que não fazia mal a uma mosca, só por ser
considerado de esquerda, ligado ao PCP, viu a sua viatura ficar em pedaços
junto à sua residência na Rochinha; até no interior do palácio de S. Lourenço
foi colocada uma bomba; também nos jardins contíguos à Câmara Eclesiástica
rebentou um petardo; bombas não faltaram na sede da UDP e na do PS (Porto
Santo), na residência dos padres do Pombal, nos automóveis dos socialistas
Emanuel Jardim Fernandes e Duarte Caldeira, no de Milton Sarmento da UDP, no do
jornalista Tolentino Nóbrega e na residência de Marcelino dos Santos; outras
bombas caíram na Rua da Levada de Santa Luzia e na rua da Levada do Cavalo; um
avião militar (Nord Atlas) foi mandado para a sucata após uma bomba de relógio
nele colocada quando estava estacionado no aeroporto; Monteiro de Aguiar, três
dias após ter tomado posse de vogal da Junta Regional da Madeira, viu a sua
viatura sair da circulação após ato terrorista; um automóvel da Empresa de
Cervejas da Madeira sofreu estragos avultados por uma bomba; o Tribunal de
Trabalho e o edifício da Caixa de Previdência não escaparam a um petardo;
dinamite numa ponte, em
Santa Cruz , aguardava a passagem do Almirante Pinheiro de
Azevedo, Primeiro-Ministro do VI Governo Provisório, na sua deslocação à
Madeira, cujo trajeto sofreu um desvio após suspeitas de atentado; o professor
Simões, da Escola da Ribeira Brava e ex-delegado do FAOJ, foi perseguido,
vítima de atentados, encarcerado e compulsivamente obrigado a sair da Madeira.
Por sorte ou
coincidência temporal, apenas houve danos materiais, salvo quando engenhos
explosivos deram origem a uma morte no Porto Santo, a 23 de agosto de 1978, de
um jovem madeirense, e ao suicídio, por enforcamento, de um soldado supeito de
estar ligado à rede bombista, que prestava serviço no RIF. Após ter sido detido
nos calabouços da Polícia do Exército, no Forte de São Tiago, Alírio Fernandes
foi encontrado sem vida na manhã do dia 4 de Outubro de 1978
Mas nem a plena
entrada em funções dos órgãos de governo próprio da novel Região Autónoma, pôs
termo aos atentados. Os seus autores, morais e materiais, demonstraram uma
incapacidade política e uma menoridade mental para defenderem os seus pontos de
vista, fossem eles quais fossem, sem recorrerem a tais métodos terroristas.
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