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terça-feira, 20 de maio de 2014

Reflexos de «Abril 74» na Madeira (6)

BANCO DA MADEIRA - A 29 de setembro de 1975, ao pretenderem transformar o Banco Totta & Açores – Banco da Madeira» em Banco exclusivamente regional e emissor da moeda “Zarco”, dos separatistas promoveram o arranque do letreiro desta instituição de crédito. Uma enorme multidão, no Largo do Chafariz, observa Consuelo Santos, em cima de uma escada, com um martelo a deitar ao chão a “indesejável” palavra “Totta”. No fim da operação, apenas sobrou a designação de “Banco da Madeira & Açores”.
Os últimos dois dias de setembro de 1975 foram de grande e complexa efervescência naquele Banco. A comissão de saneamento, vinda de Lisboa, não teve vida fácil nas mãos do “núcleo separatista” os bancários do Totta, que exigiram o imediato regresso daquela comissão a Lisboa.

Ficou claro que a febre independentista nem sequer proporcionou aos separatistas uma reflexão no sentido de avaliarem a viabilidade economico-financeira do proposto “Banco Emissor da Madeira”. Nem sequer sabiam que o Banco da Madeira já tinha sido uma instituição de crédito exclusivamente regional, cujas portas abriram no dia 23 de junho de 1920, e que em 1966, por razões de natureza económica e para melhor viabilidade do Banco, foi incorporado no «Banco Lisboa & Açores», depois «Totta & Açores», hoje Santander Totta.
E que, no dia 1 de junho de 1875, abriu ao público o «Banco Comercial da Madeira» (BCM), primeira instituição de crédito criada na Madeira, tendo fechado as portas em 1887. A funcionar apenas durante doze anos, o BCM, genuinamente madeirense, não resistiu à unificação da moeda, em 1879, e à retirada de circulação da “moeda fraca”, cunhada na Madeira, face à “moeda forte”, cunhada no continente.

OCUPAÇÃO DO CENTRO REGIONAL DA EMISSORA NACIONAL - Foram também os separatistas que ocuparam o Centro Regional da Emissora Nacional, na Rua dos Netos, no dia 7 de outubro de 1975. Aos ocupantes, constituídos por separatistas bem conhecidos no Funchal, juntaram-se retornados das ex-colónias, que foram repelidos pelo Sindicato da Construção Civil, não faltando feridos como aconteceu ao chamado “doutor da bolacha”.
Durante a ocupação, a emissora transmitiu o «Bailhinho da Madeira» e outra música exclusivamente regional e um comunicado, lido por uma senhora de fracos dotes comunicativos. Esse comunicado continha as linhas mestras da orientação política e de programação para a emissora. Da gravação que na altura fiz da emissão dirigida pelos ocupantes recordo: “Um grupo de madeirenses, incluindo um grupo de retornados das ex-colónias, resolveu ocupar o posto regional da Emissora Nacional, com vista a obter-se uma informação honesta (...)”.
Depois de explicar que a Emissora Nacional informava com desonestidade, o mesmo comunicado exigia o saneamento de jornalistas, tais como Alberto Andrade, Henrique Sampaio, Oliveira Pires e Gualdino Rodrigues. Mas para que as emissões entrassem na normalidade pretendiam o regresso dos jornalistas suspensos Armindo Abreu, Juvenal Xavier e Duarte Canavial.
Os ocupantes aproveitaram o tempo da sua emissão para fazerem outras exigências políticas que não tinham relação directa com a Emissora Nacional. Exigiram a “Expulsão imediata do arquipélago dos indivíduos abaixo indicados, fomentadores ou patrocinadores de desuniões já verificadas no seio da comunidade madeirense, padre José Martins Júnior, doutor Milton Morais Sarmento, senhor Alturas”.
O certo é que a barafunda foi de tal ordem na Rua dos Netos que nem havia polícia para dirigir o trânsito. Foi um retornado a controlar os automóveis que desciam a Rua das Mercês, no cruzamento desta com as ruas dos Netos, do Castanheiro e de S. Pedro.
 O momento foi propício para os partidos políticos dizerem de sua justiça. Foi o caso do PPD que, no dia imediato, emitiu um comunicado afirmando: “Não estando o PPD de acordo com uma solução separatista, logo sossegou ao ver hasteada no mastro principal do referido emissor, a Bandeira Nacional”. Dizia ainda o comunicado: “Dado que esse emissor se tem comportado como um pasquim vergonhoso, o PPD apoia os pedidos de saneamento, desde que se desenrolem consoante as garantias legais”.
Quem também se pronunciou sobre tal ocupação foi o Director do Jornal da Madeira, Alberto João. No dia 9 daquele mês escreveu: “O acto foi de uma flagrante inoportunidade (...) vai criar dificuldades à formação da futura Junta Regional (...) por um lado, é indubitável que a Emissora Nacional local merecia um saneamento, mas pergunta-se: era este o processo?”.






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