Reflexos de «Abril 74» na Madeira (6)
BANCO
DA MADEIRA - A 29 de setembro de 1975, ao
pretenderem transformar o Banco Totta & Açores – Banco da Madeira» em Banco
exclusivamente regional e emissor da moeda “Zarco”, dos separatistas promoveram
o arranque do letreiro desta instituição de crédito. Uma enorme multidão, no
Largo do Chafariz, observa Consuelo Santos, em cima de uma escada, com um
martelo a deitar ao chão a “indesejável” palavra “Totta”. No fim da operação,
apenas sobrou a designação de “Banco da Madeira & Açores”.
Os últimos dois dias de setembro de 1975 foram
de grande e complexa efervescência naquele Banco. A comissão de saneamento,
vinda de Lisboa, não teve vida fácil nas mãos do “núcleo separatista” os
bancários do Totta, que exigiram o imediato regresso daquela comissão a Lisboa.
Ficou claro que a febre independentista nem
sequer proporcionou aos separatistas uma reflexão no sentido de avaliarem a
viabilidade economico-financeira do proposto “Banco Emissor da Madeira”. Nem
sequer sabiam que o Banco da Madeira já tinha sido uma instituição de crédito
exclusivamente regional, cujas portas abriram no dia 23 de junho de 1920, e que
em 1966, por razões de natureza económica e para melhor viabilidade do Banco,
foi incorporado no «Banco Lisboa & Açores», depois «Totta & Açores»,
hoje Santander Totta.
E que, no dia 1 de junho de 1875, abriu ao
público o «Banco Comercial da Madeira» (BCM), primeira instituição de crédito
criada na Madeira, tendo fechado as portas em 1887. A funcionar apenas
durante doze anos, o BCM, genuinamente madeirense, não resistiu à unificação da
moeda, em 1879, e à retirada de circulação da “moeda fraca”, cunhada na
Madeira, face à “moeda forte”, cunhada no continente.
OCUPAÇÃO DO CENTRO
REGIONAL DA EMISSORA NACIONAL - Foram também os
separatistas que ocuparam o Centro Regional da Emissora Nacional, na Rua dos
Netos, no dia 7 de outubro de 1975. Aos ocupantes, constituídos por
separatistas bem conhecidos no Funchal, juntaram-se retornados das ex-colónias,
que foram repelidos pelo Sindicato da Construção Civil, não faltando feridos
como aconteceu ao chamado “doutor da bolacha”.
Durante a
ocupação, a emissora transmitiu o «Bailhinho da Madeira» e outra música
exclusivamente regional e um comunicado, lido por uma senhora de fracos dotes
comunicativos. Esse comunicado continha as linhas mestras da orientação
política e de programação para a emissora. Da gravação que na altura fiz da
emissão dirigida pelos ocupantes recordo: “Um grupo de madeirenses, incluindo
um grupo de retornados das ex-colónias, resolveu ocupar o posto regional da
Emissora Nacional, com vista a obter-se uma informação honesta (...)”.
Depois de explicar
que a Emissora Nacional informava com desonestidade, o mesmo comunicado exigia
o saneamento de jornalistas, tais como Alberto Andrade, Henrique Sampaio,
Oliveira Pires e Gualdino Rodrigues. Mas para que as emissões entrassem na
normalidade pretendiam o regresso dos jornalistas suspensos Armindo Abreu,
Juvenal Xavier e Duarte Canavial.
Os ocupantes
aproveitaram o tempo da sua emissão para fazerem outras exigências políticas
que não tinham relação directa com a Emissora Nacional. Exigiram a “Expulsão
imediata do arquipélago dos indivíduos abaixo indicados, fomentadores ou
patrocinadores de desuniões já verificadas no seio da comunidade madeirense,
padre José Martins Júnior, doutor Milton Morais Sarmento, senhor Alturas”.
O certo é que a
barafunda foi de tal ordem na Rua dos Netos que nem havia polícia para dirigir
o trânsito. Foi um retornado a controlar os automóveis que desciam a Rua das
Mercês, no cruzamento desta com as ruas dos Netos, do Castanheiro e de S.
Pedro.
O momento foi propício para os partidos
políticos dizerem de sua justiça. Foi o caso do PPD que, no dia imediato,
emitiu um comunicado afirmando: “Não estando o PPD de acordo com uma solução
separatista, logo sossegou ao ver hasteada no mastro principal do referido
emissor, a Bandeira Nacional”. Dizia ainda o comunicado: “Dado que esse emissor
se tem comportado como um pasquim vergonhoso, o PPD apoia os pedidos de
saneamento, desde que se desenrolem consoante as garantias legais”.
Quem também se
pronunciou sobre tal ocupação foi o Director do Jornal da Madeira, Alberto
João. No dia 9 daquele mês escreveu: “O acto foi de uma flagrante
inoportunidade (...) vai criar dificuldades à formação da futura Junta Regional
(...) por um lado, é indubitável que a Emissora Nacional local merecia um
saneamento, mas pergunta-se: era este o processo?”.
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