Condicionamento agrícola do novo Governo
Regional?
O
novo Secretário Regional da Agricultura e Pescas fez um périplo pelos engenhos
que fabricam os derivados da cana sacarina, tendo informado que os apoios à
agricultura privilegiarão a qualidade e diversidade da produção agrícola, em
vez da quantidade. Pretende aplicar as “novas” medidas à produção de cana, não
pelo aumento da quantidade, devido aos limites de capacidade dos engenhos, mas
pela qualidade.
Se
forem postas em prática algumas medidas limitadoras na plantação de novos
canaviais, estaremos perante um verdadeiro condicionamento agrícola. Até poderá
acontecer a qualquer agricultor, que pretenda aumentar a área de produção de
cana, ter necessidade de se curvar perante o novo governante a pedir uma licença
para plantar cana. Seria mais uma
machadada na agricultura a acrescentar às que já existem no âmbito fiscal. Se
assim acontecer, aumentarão o grau de inversão nas medidas de desenvolvimento
do meio rural e a penalização das famílias que ainda tiram da agricultura algum
rendimento para sobreviverem.
Em
vez de o Governo Regional criar condições incentivadoras para que os engenhos
promovam a venda dos produtos que fabricam, será, porventura, o mesmo governo a
proibir o desenvolvimento agrícola e industrial, mas porque existe uma falha na
promoção do uso dos derivados da cana, cujo aumento da quantidade não impede
melhorar a qualidade.
A
falta de promoção de colocar os produtos derivados da cana sacarina no mercado
está bem patente no facto de não existirem aqueles produtos regionais em muitos
restaurantes/bares/cafés/tascas da Madeira, mesmo que estejam instalados muito
próximo dos engenhos. Basta dar uma olhadela pela garrafeira daqueles
estabelecimentos para constatar tal falta.
Agora,
não está em causa a limitação da produção por razões do alcoolismo reinante na
Madeira, como havia proposto Henrique A.Vieira de Castro no seu estudo de 1911,
mas sim invocando a limitação da capacidade dos quatro engenhos que estão a
laborar, depois de os anteriores governos regionais, em 1983, terem decidido
acabar com a Fábrica do Torreão, que produzia açúcar, tendo continuado a
decadência de outros engenhos.
O
atual Governo Regional não pode nem deve ignorar que a história da cana
sacarina revela a elevada contribuição para a economia da ilha, ao serem
utilizados os trapiches movidos por tração animal, os engenhos movidos a água e
a vapor para produzirem aguardente, açúcar, mel e ácool medicinal, como, neste
derivado, fazia o engenho do Hinton. Foi de tal ordem o número de estruturas
industriais utilizado no fabrido daqueles produtos derivados da cana que, entre
os finais do século XIX e meados do século XX, as fábricas de açúcar ainda
priliferavam por toda a ilha. Só no ano de 1900 existiam na Madeira 49 engenhos,
16 dos quais eram movidos a vapor e 33 a água. Em 1920 ainda existiam na Madeira
duas fábricas de açúcar e álcool, uma só de álcool e 45 engenhos para a
produção de rum/aguardente de cana. Em 1986, o engenho de Machico deixou de
laborar. Restam, atualmente os engenhos do Ribeiro Seco, fundado em 1883, que
apenas produz mel, do Porto da Cruz e dois na Calheta, o da Vila e o que foi
instalado, mais recentemente, na Parque Empresarial do Estreito da Calheta.
O
açúcar da Madeira abasteceu os mercados do norte da Europa, nos séculos XV e
XVI, chegando a proporcionar a vinda para a Madeira de quadros de pintura
flamenga, os quais enriquecem o nosso património cultural. E com os derivados
da cana sacarina, a confeitaria madeirense ganhou fama.
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