Conflitos
das Autonomias da Madeira (6)
6 – A Madeira tributada:
“As despesas com as conquistas de Africa absorviam o erário régio e apesar dos
voluntários serviços e custeamento de gente armada, a quem muitos fidalgos
pagavam soldo á sua custa, a Madeira teve de contribuir, primeiro
disfarçadamente, a título de um empréstimo valorisado em assucar, depois
notificado em carta regia o imposto que as côrtes de 1478 tinham lançado sobre
a Madeira, cabendo-lhe á sua parte nada menos que, hum myllon e duzentos myll
rrs.
Doeu-se a ilha em seus
privilegios abalados. Reniram as camaras conjuntas, fidalgos e povo, no Caniço,
ao limite das duas capitanias, afim de acordarem sobre a resposta á senhora
infanta D. Beatriz que administrava o
Mestrado, por morte de seu marido, sendo lida a: Carta da imfanta em que faz
saber em como el-Rey dom joham manda deitar peyta a esta Ilha da Madeyra.
(Lisboa 25-7-1479 -Arq.G. C. Funchal Tº I fs 13).
Fazendo a Madeira parte
do Reino, não podia ser escusa do imposto para as necessidades geraes e
dilatação das conquistas. A infante governador aconselhava a paga do tributo.
A Madeira reagiu e expoz
altivamente quanto tinha feito na mútua defensão. Demais, havia já emprestado
4.000 arrobas de assucar de que aguardava o valor.
A resposta á imposição
consta da Carta dos srs. desta vila aa peyta pera a senhora infante (Madeira
24-8-1479).
El-Rei não quis logo
atender as reclamações da Madeira, e veiu de Portugal nova Carta da duquesa em
que daa maneyra pera tayxar o mylhom e duzentos Rreis (Moura 28-8-1480),
recomendando ao Senado que para se proceder sem escandalo do povo, fossem
eleitos «dous desses da camara e dous dos mesteres» e a todos quatro dessem
juramento aos santos evangelhos para
avaliarem as fazendas.
D. Beatriz desejava
assim a paga do tributo, proporcionalmente aos haveres de cada um. Lembrou ás
Camaras que pedissem previlegio de não mais ser dado outro serviço em dinheiro.
Daqui foram enviados
procuradores ás Côrtes para melhor exporem a situação, e D. Afonso V depois de
haver reduzido a metade o Imposto que
cabia á Madeira, acabou por anula-lo, pois as naus de Castela visitavam estes
mares e não era prudente desgostar quem patrioticamente se sacrificava, sem
compensação, podendo ambicionar quer servir a outro senhor”.
O relato da tentativa das
Côrtes – na regência do príncipe D. João desde 1476, no reinado de D. Afonso V,
e aplicar um imposto à Madeira, mesmo depois de um empréstimo de 4 mil arrobas
de açúcar da Madeira, sem que tivesse sido reembolsado, trata-se de um conflito
sério, como consta no relato «dum caderno de apontamentos» de 1932, intitulado
«A Madeira e as Praças de África», pags. 12 a 14, da autoria de Alberto Artur
Sarmento.
Os conflitos baseados em
questões financeiras, por impostos ou por transferências de recursos, sempre
foram férteis que perduram na atualidade.
D. Afonso V faleceu em
1481, tendo um reinado, cujas “liberalidades para com a nobreza arruinaram os
rendimentos do País (…) quando o seu sucessor chegou ao poder (D. João II),
convocou umas côrtes em Évora (1481-1484). Aí os procuradores dos concelhos
acusaram a nobreza de ter usurpado os bens da coroa. O rei mandou investigar da
verdade dessas acusações e, apoiando-se no povo, revogou certas doações de seu
pai e reivindicou os bens de que os fidalgos se tinham apossado”. (A.M. Faria
Artur e A. Dias Louro, História de Portugal, Ensino Primário Geral, Classes 3ª,
4ª e 5ª, Nona edição, pag. 108 e 109, Lsboa, maio de 1924).
(continua)
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