Conflitos das Autonomias
da Madeira (12)
12 – Maçonaria na Madeira: “O tempo corre com tanta pressa, que o relato
dos factos, fugindo, se atropela e não sendo anotado na ocasião não há meio de
formarem sentido pela desordem (…) mas
que vêm ornamentar o gosto inventivo pelo realce histórico. Meio século é
bastante para tudo ficar misturado, deturpado confundido. Sobre a origem da
Maçonaria na Madeira, não a atribuindo à influência francesa, o Corregedor Dr.
Manuel Soares de Lobão, presidente da alçada, vindo à Madeira em 1823, faz
nascê-la por influência inglesa. Eis o que escreveu no seu relatório:
«A Maçonaria nesta ilha é antiga por duas razões: 1º - porque sendo ela um
amplo estabelecimento da Inglaterra, onde não parece politicamente crime, o
grande número de ingleses, que de remotos tempos aqui tem vindo habitar e
comerciar, consigo tem trazido o instituto desta associação; 2º - porque é
muito usado nesta ilha, os paes de família mandarem seus filhos a educarem e a
viajarem a Inglaterra – a na idade
juvenil se abraçam ideias, que lisongeiam as inclinações da natureza e que sem
o mandar o discernimento, se lhes apresentam como um bem, aparentemente, e por
isso os mancebos ao voltarem ao seu Paiz Natal trazem de volta os Institutos
estrangeiros que lhes agradaram. É pois a Maçonaria da Ilha de sua origem
britânica e esta não parece perniciosa. Assim mesmo ella foi perseguida por
ordens do Ministério, em 1792, e então, demoraram aqui os associados
denunciando-se alguns ao Santo Ofício. Fecharam as Lojas por muito tempo,
cessaram os clubes e parece ter acabado esta maníaca sociedade, mas pouco se
demorou em recobrar forças o ardor maçónico.
Agostinho de Ornellas, Morgado, filho do venerável Francisco Xavier de
Ornellas, formou um Club para reanimar e propagar a Ordem Maçónica, com pessoas
obscuras, mas de penetrante vivacidade, encarregando seu “papelista” Joaquim
dos Santos Fernandes, para com um conto de réis, que lhe deu, ir à cidade de
Lisboa solicitar filiações, patente e commissão do Grande Oriente que o Príncipe
Britânico Augusto havia estabelecido na mesma cidade.
Agostinho de Ornelas foi assim elevado ao grau de grande mestre e afinal
aquele seu mesmo “papelista” lhe maquinou crimes maçónicos, pelos quais foi
expulso, e no lugar dele, subiu à grande dignidade maçónica o sr. Gregorio
Perestrelo. Teve então a respectiva Loja que dantes de se chamar «União» … o
título por excelência de «Grande União», e como matriz daqui saíram as Lojas
«Constancia» e «Fidelidade». Foi depois da entrada do exército francez em
Portugal, que o sistema maçónico inglez passou a reformar-se com o sistema
francez”.
O Capitão-general D. Diogo Pereira Forjaz Coutinho, em ofício ao ministro
Martinho de Melo e Castro, relatando a origem da Maçonaria na ilha, acusa João
José Orquigny de ter promovido na Madeira a organização de uma sociedade
maçónica, conseguindo reunir grande número de associados, na maior parte
pertencentes à nobreza e ao clero, sendo, por isso, mandado sair de Portugal,
onde se achava. Temendo as perseguições, alguns associados fugiram da Ilha na
noite de 19 de Abril de 1792 com suas famílias, desertando três capitães, D.
José de Brito Herédia, José Francisco Esmeraldo e Manuel de Atouguia e
Vasconcellos, que prepara e facilitara a fuga, iludindo os guardas com ordens
falsas, e que pelo mesmo motivo o Bispo demitira, suspendera e prendera por
castigo alguns eclesiásticos (…). (Dia 18 de Dezembro de 1948)”. (DN-Madeira,
18/12/1993).
(continua)
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