Conflitos das Autonomias
da Madeira (13)
13 – Os Pedreiros Livres da Madeira e a Inquisição: Foi a partir de 1792
que foi promovida uma profunda investigação criminal a quem frequentava as
lógicas maçónicas, ou se manifestasse como maçon. O Governador e capitão
general era D. Diogo Pereira Forjaz Coutinho, e era bispo da Diocese D. José da
Costa Torres, ambos apontados de mações, pelo que o “Santo Ofício enviou para lá (Madeira) dois editais, que foram
publicados nas igrejas, o primeiro em 1791 e o outro em 10 de Abril de 92,
baseados ambos em bulas pontifícias. Neles se convidavam os que professassem
ideias de pedreiros-livres a virem espontaneamente declará-lo, sob as
cominações do estilo, ou a denunciar as pessoas que soubessem estar naquelas
condições. Estabeleceu-se assim um regime de terror, e as delações choveram
copiosas. Os pais acusavam os filhos, e vice-versa; os irmãos aos irmãos. Todos
tinham culpas e escrúpulos a confessar. Até as freiras enviavam queixas aos
comissários. «É uma confusão de notícias» desabafava um dos denunciantes,
referindo-se ao período subsequente à publicação do segundo edital” (Cabral do
Nascimento, Os Pedreiros-Livres na Inquisição e Corografia Insulana).
Um dos comissários da Inquisição era o cónego João Leandro Afonso, que
remetia para Lisboa os documentos de confissões e de denúncias oferecidas por
terceiros. O próprio representante do Santo Ofício reconheceu em 14 de junho de
1792 que «Entre os presentes se vêem muitos dos mais literatos, dos mais
nobres, dos mais ricos, dos mais poderosos desta Ilha, tanto em cabedais como
nas armas». Muitos dos incriminados teriam realmente culpas, se nos colocarmos
no ponto de vista daquele tribunal (Tribunal do Santo Ofício) e em referência
do conceito de liberdade de opinião desse tempo; alguns chegaram a fugir,
embarcando para a América - a América Livre – como lhe chama um dos comissários
– e isso é evidente prova de que não estavam inocentes. Outros, porém, parecem
totalmente alheios à suposta conjuntura.
Na relação enviada para Lisboa pelo cónego Afonso, há nomes que não
aparecem depois nos processos instaurados. A estes mesmos a Inquisição nem
sempre deu seguimento (…) o comissário
regional falou de cento e cinco acusados, além de vinte e oito ausentes (…) são
catorze retratos, alguns de pessoas indicadas à Inquisição em 1792, entre elas
o dr. João Francisco de Oliveira, os irmãos Rochas, o dr. Piolho, o dr. Jardim,
Câmara Leme, Pedro Nicolau de Bettencourt e Vicente Júlio Fernandes (Cabral do
Nascimento).
A carta de 6 de junho de 1792, enviada pelo Comissário do Santo Ofício,
João Leandro Afonso, vigário da Igreja da Colegiada de S. Pedro, refere a
determinada altura o seguinte: “Das listas que dos seus sócios derão alguns
pedreiros livres será presente a vossas senhorias que os desta Ilha perfazem
105 (…) D.s assista a vossas Senhorias com as suas luzes, que tanto lhes são
perçisas na presente situação”. Segue-se a lista dos autodenunciados, como tais
estão o cónego Felipe Correia Acciaoli, o padre António Joaquim Pereira Mondim
(vigário do Arco de S. Jorge), cónego João Manuel de Couto e Andrada, padres Gaspar
Manuel Doromundo, Francisco de Sousa Xavier Correa, Simão Hilário da Silva
(capelão da Sé - deposto), Felipe de Ornelas e Vasconcelos (capelão da Sé –
deposto), José Fernandez de Andrada (vigário do Caniço).
Cabral do Nascimento relata a denuncia feita pelo Vigário da Tabua ao
reverendo doutor Lucio António Lopes Rocha, morador na Rua da Carreira,
conhecido como maçon.
(continua)
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