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sábado, 23 de janeiro de 2021

 

Conflitos das Autonomias da Madeira (13)

13 – Os Pedreiros Livres da Madeira e a Inquisição: Foi a partir de 1792 que foi promovida uma profunda investigação criminal a quem frequentava as lógicas maçónicas, ou se manifestasse como maçon. O Governador e capitão general era D. Diogo Pereira Forjaz Coutinho, e era bispo da Diocese D. José da Costa Torres, ambos apontados de mações, pelo que o “Santo Ofício enviou  para lá (Madeira) dois editais, que foram publicados nas igrejas, o primeiro em 1791 e o outro em 10 de Abril de 92, baseados ambos em bulas pontifícias. Neles se convidavam os que professassem ideias de pedreiros-livres a virem espontaneamente declará-lo, sob as cominações do estilo, ou a denunciar as pessoas que soubessem estar naquelas condições. Estabeleceu-se assim um regime de terror, e as delações choveram copiosas. Os pais acusavam os filhos, e vice-versa; os irmãos aos irmãos. Todos tinham culpas e escrúpulos a confessar. Até as freiras enviavam queixas aos comissários. «É uma confusão de notícias» desabafava um dos denunciantes, referindo-se ao período subsequente à publicação do segundo edital” (Cabral do Nascimento, Os Pedreiros-Livres na Inquisição e Corografia Insulana).

Um dos comissários da Inquisição era o cónego João Leandro Afonso, que remetia para Lisboa os documentos de confissões e de denúncias oferecidas por terceiros. O próprio representante do Santo Ofício reconheceu em 14 de junho de 1792 que «Entre os presentes se vêem muitos dos mais literatos, dos mais nobres, dos mais ricos, dos mais poderosos desta Ilha, tanto em cabedais como nas armas». Muitos dos incriminados teriam realmente culpas, se nos colocarmos no ponto de vista daquele tribunal (Tribunal do Santo Ofício) e em referência do conceito de liberdade de opinião desse tempo; alguns chegaram a fugir, embarcando para a América - a América Livre – como lhe chama um dos comissários – e isso é evidente prova de que não estavam inocentes. Outros, porém, parecem totalmente alheios à suposta conjuntura.

Na relação enviada para Lisboa pelo cónego Afonso, há nomes que não aparecem depois nos processos instaurados. A estes mesmos a Inquisição nem sempre deu seguimento (…)  o comissário regional falou de cento e cinco acusados, além de vinte e oito ausentes (…) são catorze retratos, alguns de pessoas indicadas à Inquisição em 1792, entre elas o dr. João Francisco de Oliveira, os irmãos Rochas, o dr. Piolho, o dr. Jardim, Câmara Leme, Pedro Nicolau de Bettencourt e Vicente Júlio Fernandes (Cabral do Nascimento).

A carta de 6 de junho de 1792, enviada pelo Comissário do Santo Ofício, João Leandro Afonso, vigário da Igreja da Colegiada de S. Pedro, refere a determinada altura o seguinte: “Das listas que dos seus sócios derão alguns pedreiros livres será presente a vossas senhorias que os desta Ilha perfazem 105 (…) D.s assista a vossas Senhorias com as suas luzes, que tanto lhes são perçisas na presente situação”. Segue-se a lista dos autodenunciados, como tais estão o cónego Felipe Correia Acciaoli, o padre António Joaquim Pereira Mondim (vigário do Arco de S. Jorge), cónego João Manuel de Couto e Andrada, padres Gaspar Manuel Doromundo, Francisco de Sousa Xavier Correa, Simão Hilário da Silva (capelão da Sé - deposto), Felipe de Ornelas e Vasconcelos (capelão da Sé – deposto), José Fernandez de Andrada (vigário do Caniço).

Cabral do Nascimento relata a denuncia feita pelo Vigário da Tabua ao reverendo doutor Lucio António Lopes Rocha, morador na Rua da Carreira, conhecido como maçon.

(continua)

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