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sábado, 30 de janeiro de 2021

 

Conflitos das Autonomias da Madeira (15)

14 – Arruaça Miguelista na Madeira: «A Ilha escurece com a nuvem que cada vez mais se torna densa e não admira que o luto seja geral, por tocar a todos a desgraça e tristeza» (Carta de J. Joaquim Pestana a Travassos Valdez de 27 de Outubro de 1828).

“Entre 1828 e 1834 o reino esteve a saque e a política emanada da revolução vintista fazia-se com violência, sangue e morte (…) as alçadas miguelistas conduziram à prisão, à deportação para a África, à emigração forçada e ao enforcamento (…) esta situação chegou à Madeira pela mão de José Maria Monteiro, enviado por D. Miguel para aqui proceder à sua aclamação, uma vez que esta e a ilha Terceira ainda não haviam reconhecido o novo sistema político. A sua chegada foi o prelúdio da violência que definiu a alçada de 1828 contra os seus opositores. O próprio governador miguelista, acompanhado dos seus filhos, fomentou esse clima de violência, chefiando o grupo de ameaça nocturna de perseguição aos malhados (liberais) (…) enquanto a Madeira não resistiu ao bloqueio miguelista, a Terceira conseguiu manter a sua fidelidade a D. Pedro, contra a esquadra miguelista na batalha de Vila da Praia em 1829.

A perseguição inquisitorial das alçadas afugentou os animadores do jornalismo madeirense, silenciou os debates políticos e fez encerrar os jornais; primeiro o Patriota Funchalense, depois o Pregador Imparcial; A Atalaia da Liberdade e o Regedor. Deste modo até Fevereiro de 1827 os madeirenses estiveram privados da leitura dos periódicos locais, mas no dia três apareceu do Funchalense Liberal, secundado pelo Defensor da Liberdade a 2 de Julho. Esta situação resultou do novo decreto de 18 de Agosto de 1826; a nova comissão de censura para a Madeira, nomeada em Setembro de 1827 é composta por cinco membros, sendo três militares, um padre e um civil.

Como corolário de tudo isto aparece a fome e uma forte onda de agitação social, marcada por furtos e assassinatos. Durante o ano de 1827 foram inúmeros os assaltos às igrejas das ilhas – Nossa Senhora do Calhau, Colégio, Santa Luzia, S. Martinho, Santo António, Câmara de Lobos, Ponta Delgada, Faial, São Roque, Santo António da Serra, Santo Amaro e Prazeres – com intenção de roubar as alfaias de prata e as inúmeras joias que ornamentavam os santos. Além disso sucederam-se assaltos a casas particulares e a violência de rua levou a cinco assassinatos; Frederico Castro Novo, célebre pelo seu invento de engenho de destilação contínua, por pouco se salvou de um tiro de bala.

Mas a justiça era implacável, como se poderá verificar pelo julgamento em 1830 dos réus implicados no assalto à igreja de Nossa Senhora da Graça no Estreito de Câmara de Lobos; por sentença de 8 de Março de 1830 os três principais réus – Januário Soares, João Rodrigues o espera diabos e José Andrade o frangido – foram condenados ao cadafalso, sendo garrotados no Cais do Sodré, ficando a sua cabeça exposta três dias. Os demais réus deste processo, acusados de cumplicidade, como o ourives Francisco Salles que fundia as peças, foram condenados ao degredo (…) todavia foi necessário o envio de uma esquadra realista para fazer proclamar o rei na ilha, assim em 22 de Agosto este desembarque em Machico sem grande resistência. O governador e demais autoridades, num total de quarenta e seis, refugiaram-se na corveta de guerra inglesa Alligator e seguiram com destino a Londres e a 24 de Agosto José Maria Monteiro proclama o novo rei, seguindo-se no dia seguinte um solene Te Deum na Sé com a concorrência de muito povo (Alberto Vieira, Revista DN 06/05/1990).

(continua)

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