Conflitos das Autonomias
da Madeira (15)
14 – Arruaça Miguelista na Madeira: «A Ilha escurece com a nuvem que cada
vez mais se torna densa e não admira que o luto seja geral, por tocar a todos a
desgraça e tristeza» (Carta de J. Joaquim Pestana a Travassos Valdez de 27 de
Outubro de 1828).
“Entre 1828 e 1834 o reino esteve a saque e a política emanada da revolução
vintista fazia-se com violência, sangue e morte (…) as alçadas miguelistas
conduziram à prisão, à deportação para a África, à emigração forçada e ao
enforcamento (…) esta situação chegou à Madeira pela mão de José Maria Monteiro,
enviado por D. Miguel para aqui proceder à sua aclamação, uma vez que esta e a
ilha Terceira ainda não haviam reconhecido o novo sistema político. A sua
chegada foi o prelúdio da violência que definiu a alçada de 1828 contra os seus
opositores. O próprio governador miguelista, acompanhado dos seus filhos,
fomentou esse clima de violência, chefiando o grupo de ameaça nocturna de
perseguição aos malhados (liberais) (…) enquanto a Madeira não resistiu ao
bloqueio miguelista, a Terceira conseguiu manter a sua fidelidade a D. Pedro,
contra a esquadra miguelista na batalha de Vila da Praia em 1829.
A perseguição inquisitorial das alçadas afugentou os animadores do jornalismo
madeirense, silenciou os debates políticos e fez encerrar os jornais; primeiro
o Patriota Funchalense, depois o Pregador Imparcial; A Atalaia da Liberdade e o
Regedor. Deste modo até Fevereiro de 1827 os madeirenses estiveram privados da
leitura dos periódicos locais, mas no dia três apareceu do Funchalense Liberal,
secundado pelo Defensor da Liberdade a 2 de Julho. Esta situação resultou do
novo decreto de 18 de Agosto de 1826; a nova comissão de censura para a
Madeira, nomeada em Setembro de 1827 é composta por cinco membros, sendo três
militares, um padre e um civil.
Como corolário de tudo isto aparece a fome e uma forte onda de agitação
social, marcada por furtos e assassinatos. Durante o ano de 1827 foram inúmeros
os assaltos às igrejas das ilhas – Nossa Senhora do Calhau, Colégio, Santa
Luzia, S. Martinho, Santo António, Câmara de Lobos, Ponta Delgada, Faial, São
Roque, Santo António da Serra, Santo Amaro e Prazeres – com intenção de roubar
as alfaias de prata e as inúmeras joias que ornamentavam os santos. Além disso
sucederam-se assaltos a casas particulares e a violência de rua levou a cinco
assassinatos; Frederico Castro Novo, célebre pelo seu invento de engenho de
destilação contínua, por pouco se salvou de um tiro de bala.
Mas a justiça era implacável, como se poderá verificar pelo julgamento em
1830 dos réus implicados no assalto à igreja de Nossa Senhora da Graça no
Estreito de Câmara de Lobos; por sentença de 8 de Março de 1830 os três
principais réus – Januário Soares, João Rodrigues o espera diabos e José
Andrade o frangido – foram condenados ao cadafalso, sendo garrotados no Cais do
Sodré, ficando a sua cabeça exposta três dias. Os demais réus deste processo,
acusados de cumplicidade, como o ourives Francisco Salles que fundia as peças,
foram condenados ao degredo (…) todavia foi necessário o envio de uma esquadra
realista para fazer proclamar o rei na ilha, assim em 22 de Agosto este
desembarque em Machico sem grande resistência. O governador e demais
autoridades, num total de quarenta e seis, refugiaram-se na corveta de guerra
inglesa Alligator e seguiram com destino a Londres e a 24 de Agosto José Maria
Monteiro proclama o novo rei, seguindo-se no dia seguinte um solene Te Deum na
Sé com a concorrência de muito povo (Alberto Vieira, Revista DN 06/05/1990).
(continua)
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