Pesquisar neste blogue

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

 

Conflitos das Autonomias da Madeira (16)

15- Em 1882, Madeira elegeu republicano Manuel Arriaga: Apesar do regime monárquico, foi um republicano que foi eleito pela Madeira em 24 de abril de 1882, quando ficou vago o lugar de deputado pelo círculo do Funchal, pela morte de Luís de Freitas Branco.

“A candidatura republicana vem acolher apoios de monárquicos descontentes. O nome – Manuel de Arriaga – torna-se uma espécie de divisa a unir os madeirenses ávidos de um mandatário digno, que nunca pudesse engrenar nas costumadas tramas partidárias” (Nelson Veríssimo, «Islenha», 1987). De nada valeu a intimação do governo de Lisboa, dirigido por Fontes Pereira de Melo, tudo fazendo para o Distrito do Funchal eleger representante nas cortes um candidato do Partido Regenerador, no Governo, enviando para o Funchal a corveta «Estephania».

“Semanas antes, quando o deputado que representava o Funchal, o madeirense Luís de Freitas Branco, morreu a meio do mandato – estava-se em 1882 – a crise económico-social extremava-se na Madeira. Em Lisboa, continuava e desenvolver-se o “fontismo”, política de obras públicas que fazia alastrar estradas e caminhos-de-ferro pelo Continente, rede de transportes terrestres e marítimos, a rede telefónica. Por cá, o povo continuava analfabeto, faminto e a trabalhar as terras de fidalgos que não punham pé no campo a não ser para recolher as receitas que aplicavam em grandes viagens e folganças na corte lisboeta, ao mesmo tempo que as nutridas receitas do porto do Funchal e os impostos eram canalizados exactamente para o estômago da florescente política regeneradora do fontismo. Como os açorianos andavam descontentes, foi naturalmente ao Funchal que Lisboa veio buscar as verbas que tinham escapado ao saque do erário para concluir as obras do porto da Horta, Faial. A situação madeirense não deixava alternativa aos homens para emigração por conta de engajadores sem escrúpulos que proporcionavam viagens para o desconhecido em barcaças impróprias para bestas (…).

A campanha eleitoral, em Junho de 1884, deixou todas as certezas do que estava para chegar. A tensão tomou conta de toda a Madeira, com mais efervescência na Ribeira Brava e na Ponta do Sol. Conforme seria denunciado mais tarde em tribunal, o próprio procurador régio, delegado do Ministério Público da comarca da Ponta do Sol, Bernardo Andrade, rapaz solteiro que passava parte do tempo nos copos e a seduzir as moçoilas da zona, andou na última semana da campanha - 22 a 29 de junho de 1884 – pela Lombada e outros sítios a espancar republicanos e a intimar os eleitores que desconfiasse serem adeptos de Manuel Arriaga. A operação oficial estava bem pensada e, no final das contagens, Manuel de Arriaga não seria eleito. Os situacionistas ao serviço de Lisboa, para fugirem às responsabilidades dos crimes de morte, que durante muito tempo mantiveram vivamente indignados os portugueses da Madeira e do Continente, forjaram acusações contra perto de 30 homens do campo, que foram presos”. O próprio Manuel de Arriaga e outro advogado, José de Castro, vieram à Madeira defender os acusados. Arriaga e Castro conseguiram a absolvição de quase todos. Seis receberam pena, mas apenas pela agressão ao feitor «Cachorrinho dos Ricos».

Prisões também houve, com o delegado procurador régio a acusar populares analfabetos de incitamento à violência, a respeito da Lei do Terço e do relacionamento com os senhorios, daquilo que ele próprio pregava para tentar ganhar simpatias por aquelas lombadas acima (…)” (Luís Calisto -Revista DN, 13 a 19/05/2007).

(continua)

 

Sem comentários:

Enviar um comentário