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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

 

Conflitos das Autonomias da Madeira (19)

Em 1847 o povo da Madeira esteve à fome, por causa da doença na semilha e de uma baixa nos preços do vinho de exportação, apesar dos apelos ao governo de Lisboa, este não correspondeu aos problemas económicos e sociais. Com a falta de apoio nacional, uma das soluções encontradas foi pedir auxílio a países estrageiros e também a Cabo Verde e Açores.

“O Governador José Silvestre Ribeiro perdeu a esperança de que Lisboa ouvisse os pedidos de auxílio. Mas a fome na Madeira alastrava com tal perigo que achou melhor insistir. Às tantas, podia ser acusado de não ter feito os apelos de maneira eficaz. «Tenho insistido na mesma súplica e renunciara desde já à esperança de ser escutado, bem como me abstivera de renovar as minhas instâncias, se o mal não tivesse crescido de um modo assustador e terrível» (08/02/1847)”.

“As ilhas da Madeira e do Porto Santo estavam quase «o tomar o grau da miséria» a que havia chegado a Irlanda. A fome começava a «exercer os seus cruelíssimos efeitos nestas possessões portuguesas, com pequena diferença como naquela parte da Grã-Bretanha».

O Governador, que antes tratava de fazer vir dinheiro para as obras de prevenção nas ribeiras – para evitar a repetição de tragédias recentes com aluviões e dar trabalho a cabeças de família em desgraça, dirige-se nestes termos ao Ministério do Reino: «Quer V. Exª saber qual é o sustento da gente dos campos na actualidade? Uns poucos de inhames, que estão a acabar – algumas raízes – algumas plantas que a terra oferece espontaneamente. A Ilha não produz trigo, como já disse, senão para três meses do ano, e isso somente para as classes abastadas. Não produz mais do que uns poucos moios de milho. As batatas, em que consistia o principal alimento do Povo, foram acometidas de fatal moléstia, que por toda a parte destruiu este pão dos pobres (…).

 

Interrogava-se sobre como poderia o Povo pagar os produtos em causa que chegavam para serem «vendidos a peso de ouro» e deixava o Ministério de sobreaviso para a agitação reinante na Madeira. «Uma agitação e uma ansiedade que eu tenho todo o receio de serem precursores de sérias e graves perturbações. Eis finalmente a razão por que me vi obrigado nestes últimos dias a reunir extraordinariamente a Câmara, o Conselho de Distrito, o Bispo da Diocese, todas as autoridades, o Corpo do Comércio e os proprietários do Funchal…».

As reuniões no Funchal resultaram em algumas medidas, «guiadas pelo pensamento de abastecer o mercado e habilitar as classes desvalidas a poderem comprar os géneros, quando os haja, bem como a socorrer com algumas esmolas os famintos”. Essas medidas tomadas foram: destacar uma Comissão Central presidida pelo Bispo para recolher donativos destinados aos pobres - e comissões filiais em todas as paróquias; encorajar as câmaras a realizar obras públicas; autorizar as comissões filiais a distribuir sementes pelos agricultores. E um pedido especial: «Que se dirigisse uma respeitosa súplica ao Governo de Sua Majestade a Rainha, pedindo que pelo Cofre Central deste Distrito mande aplicar algumas somas para obras públicas».

Outras diligências: deixar entrar no porto do Funchal, livres de todos os direitos, arroz, peixe salgado, cevadinha, favas, ervilhas, feijão, grão-de-bico, lentilhas, chicharros e tremoços. Reduzir a metade, durante o ano de 1847, o direito por entrada de 50 reis por alqueire que o trigo estrangeiro importado pagava. Que não se observe o aumento de direitos sobre cereais que a lei impõe para a Madeira (…)” (Diário de Notícias, 22/06/1996).

 

(continua)

 

 

 

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