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quinta-feira, 11 de março de 2021

 

Conflitos das Autonomias da Madeira (20)

“O Povo da Madeira, em meados do século XIX, precisava mais de charrua do que de intriga política. Era o médico e escritor Acúrcio Ramos a dar conselhos a Lisboa: cuidado com os delegados que mandam governar a Madeira. Outro aviso: há que ensinar umas coisas ao Povo, mas nada de matérias que obriguem a pensar muito. Além de feios, os madeirenses não eram famosos de cabeça. E Acúrcio Ramos era um liberal!” (Luís Calisto).

“Acúrcio Ramos nasceu na freguesia de Santa Luzia da cidade de Angra, filho de Acúrcio Garcia Ramos, proprietário e funcionário do Município de Angra, e de Maria Lúcia Pinheiro. Formado médico-cirurgião pela Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa em 1861, onde se matriculou já no terceiro ano, tendo cursado na do Porto os anteriores. Terminado o curso foi nomeado cirurgião-ajudante do Batalhão de Engenheiros, por decreto de 27 de junho de 1864. Distinguiu-se nas suas campanhas jornalísticas em defesa das ideias da esquerda liberal, o que lhe suscitou várias perseguições políticas. Acabou preso depois de lhe ter sido promovida tenaz e injusta perseguição, acusado de conspiração. Esteve detido no Castelo de São Jorge, em Lisboa, em companhia de outro militar terceirense, o coronel Teotónio Maria Coelho Borges, um herói de África. Estudioso da história natural, publicou, entre outras obras «A Ilha da Madeira», obra em dois volumes publicada entre 1879 e 1880, onde além da análise dos usos e costumes madeirenses, apresenta uma listagem detalhada da fauna e da flora do arquipélago. Nesta obra relata a sua vida como prisioneiro do Castelo de São Jorge. (…) como jornalista político colaborou em vários jornais, tomando parte activa e acalorada na condução do Partido Histórico, de que era militante. Foi subchefe da repartição médica do Ministério da Guerra, destacando-se pela sua preocupação com a Saúde Pública (…) Acúrcio Garcia Ramos faleceu a 14 de setembro de 1892, depois de ter sido cirurgião-ajudante do Regimento de Infantaria n.º 13 e cirurgião-mor de brigada do Exército, sendo reconhecido como um dos mais importantes médicos militares portugueses” (Wikipedia 2021).

“O que na Madeira, com muitas excepções notáveis, torna feia a raça humana, são estes elementos de que se compõe. Na cidade, as pessoas têm uns traços razoáveis, cujas formas europeias e a pele branca. No campo é que as coisas se complicavam quanto a feições dos nossos antepassados que «além de feios em geral pelas razões expostas, são trigueiros pelos ardores do sol a que andam expostos. O temperamento mais vulgar é o bilioso-sanguíneo com um misto mais ou menos pronunciado umas vezes linfático, outras nervoso (…) as pessoas ricas, um pouco indolentes e incli- nadas aos prazeres da mesa, que ali (na Madeira) é variada e abundante, adquirem cedo muita nutrição. São de estatura média. E as mulheres desta classe, habitualmente sedentárias, gozam de uma saúde delicada, sem serem por isso doentes. Núbeis de 12 a 14 anos casam-se muito novas e têm oito a doze filhos, que elas próprias amamentam. Não admira, por isso, que a velhice e a decrepitude sejam prematuras para a maior parte».

Na obra «Ilha da Madeira» Acúrcio Ramos fala das vestes europeias dos habitantes do Funchal e na roupagem pitoresca. Dos transportes em rede ou a corça, que nem carruagem puxada a cavalo tem espaço nas veredas (…) o principal sustento consiste em milho (farinha cozida em água e temperada com sal e manteiga de porco), inhame, batata doce, semilha, abóbora, couve, fava, castanha, tremoço e peixe (…)” (DN, 23/06/1996).

(continua)

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