Conflitos das Autonomias
da Madeira (20)
“O Povo da Madeira, em meados do século XIX, precisava mais de charrua do
que de intriga política. Era o médico e escritor Acúrcio Ramos a dar conselhos
a Lisboa: cuidado com os delegados que mandam governar a Madeira. Outro aviso:
há que ensinar umas coisas ao Povo, mas nada de matérias que obriguem a pensar
muito. Além de feios, os madeirenses não eram famosos de cabeça. E Acúrcio
Ramos era um liberal!” (Luís Calisto).
“Acúrcio Ramos nasceu
na freguesia de Santa Luzia da cidade de Angra, filho de Acúrcio Garcia Ramos,
proprietário e funcionário do Município de Angra, e de Maria Lúcia Pinheiro. Formado
médico-cirurgião pela Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa em 1861, onde se matriculou já no terceiro ano, tendo cursado na
do Porto os anteriores. Terminado o curso foi nomeado cirurgião-ajudante do
Batalhão de Engenheiros, por decreto de 27 de junho de 1864. Distinguiu-se nas
suas campanhas jornalísticas em defesa das ideias da esquerda liberal, o que
lhe suscitou várias perseguições políticas. Acabou preso depois de lhe ter
sido promovida tenaz e injusta perseguição, acusado de conspiração. Esteve
detido no Castelo de São Jorge, em Lisboa, em companhia de outro militar
terceirense, o coronel Teotónio Maria Coelho Borges, um herói de África. Estudioso da história natural,
publicou, entre outras obras «A Ilha da Madeira», obra em dois volumes
publicada entre 1879 e 1880, onde além da análise dos usos e costumes
madeirenses, apresenta uma listagem detalhada da fauna e da flora do
arquipélago. Nesta obra relata a sua vida como prisioneiro do Castelo de São
Jorge. (…) como jornalista político colaborou em vários jornais, tomando parte
activa e acalorada na condução do Partido Histórico, de
que era militante. Foi subchefe da repartição médica do Ministério da Guerra,
destacando-se pela sua preocupação com a Saúde Pública (…) Acúrcio
Garcia Ramos faleceu a 14 de setembro de 1892, depois de ter sido
cirurgião-ajudante do Regimento de Infantaria n.º 13 e
cirurgião-mor de brigada do Exército, sendo reconhecido como um dos mais
importantes médicos militares portugueses”
(Wikipedia 2021).
“O que na Madeira, com
muitas excepções notáveis, torna feia a raça humana, são estes elementos de que
se compõe. Na cidade, as pessoas têm uns traços razoáveis, cujas formas
europeias e a pele branca. No campo é que as coisas se complicavam quanto a
feições dos nossos antepassados que «além de feios em geral pelas razões
expostas, são trigueiros pelos ardores do sol a que andam expostos. O
temperamento mais vulgar é o bilioso-sanguíneo com um misto mais ou menos
pronunciado umas vezes linfático, outras nervoso (…) as pessoas ricas, um pouco
indolentes e incli- nadas aos prazeres da mesa, que ali (na Madeira) é variada
e abundante, adquirem cedo muita nutrição. São de estatura média. E as mulheres
desta classe, habitualmente sedentárias, gozam de uma saúde delicada, sem serem
por isso doentes. Núbeis de 12 a 14 anos casam-se muito novas e têm oito a doze
filhos, que elas próprias amamentam. Não admira, por isso, que a velhice e a
decrepitude sejam prematuras para a maior parte».
Na obra «Ilha da
Madeira» Acúrcio Ramos fala das vestes europeias dos habitantes do Funchal e na
roupagem pitoresca. Dos transportes em rede ou a corça, que nem carruagem
puxada a cavalo tem espaço nas veredas (…) o principal sustento consiste em
milho (farinha cozida em água e temperada com sal e manteiga de porco), inhame,
batata doce, semilha, abóbora, couve, fava, castanha, tremoço e peixe (…)” (DN,
23/06/1996).
(continua)
Sem comentários:
Enviar um comentário