Conflitos das
Autonomias da Madeira (23)
Marcos Relevantes da Autonomia no Século XX – Deixou-nos
há vinte e um anos com uma história recheada de acontecimentos memoráveis no
Mundo, em geral, e em Portugal, em particular, onde se enquadra a evolução de
modelos de autonomia inigualáveis das regiões insulares da Madeira e dos
Açores. O século XX foi também fértil em guerras, revoluções e ditaduras,
revoltas e conflitos políticos, que se localizaram no tempo e no espaço
internacional, nacional, regional e local.
No início de 1900, “o Mundo apresentava-se aos
olhos dos grandes homens da Europa como um lugar razoavelmente bem governado. O
continente mantinha-se em paz havia três décadas, e preparava-se para assim
continuar, graças a um aumento de prosperidade e a uma complexa rede de
alianças entre as principais potências (…) simultaneamente, quase todas as
nações ocidentais sentiam os efeitos secundários da rápida industrialização. As
classes trabalhadoras da Europa, influenciadas pelas teorias se Karl Marx e
Friedrich Engels, haviam-se tornado cada vez mais militantes nas suas
exigências de reforma social” (Os Grandes Acontecimentos do Século XX, pag.10,
Selecções do Readr`s Digest, janeiro 1979).
O Império Britânico estava no seu apogeu, a autoridade
colonial da França em África e na Indochina encontrava-se solidamente firmada,
a Rússia alargava o seu domínio para leste mas foi abalada em 1905 por uma
revolta sangrenta, a Alemanha começara a delimitar as suas pretensões em África
e no Pacífico, os Estados Unidos e o Japão transformaram-se em potências
mundiais.
“Em Junho de 1914, anos de manobras diplomáticas e
preparação de exércitos haviam esforçado o equilíbrio de forças europeu até ao
ponto de colapso. Foi então disparada uma arma em Serajevo, e a mesma teia de
alianças que mantivera a paz impeliu mais de uma dúzia de nações para uma
guerra diferente de qualquer outra – uma guerra que, com auxílio de tecnologia
moderna, causou um nível de destruição nunca antes imaginado. No total, o conflito
originou um número de vítimas superior a 10 milhões e deixou um continente
assolado pela pobreza, pela amargura e pela desilusão. Terminara uma era da
História: desaparecera a antiga ordem da Europa, e com ela uma espécie de
inocência que nunca mais seria recuperada.
O optimismo da época, baseado na crença do
progresso, aparentemente ilimitado, em todos os domínios da vida humana, deu
lugar a desencanto provocado pela I Guerra Mundial (1914-1918). A legitimidade
«pela graça de Deus» reconhecida ainda aos governantes até 1918, sucedeu a
legitimidade outorgada espontaneamente pelo público a um novo tipo de líder que
provinha da rua, do bairro ou do trabalho” (idem, pag. 96).
No século XX ocorreram mudanças
políticas em Portugal, com reflexos óbvios na Madeira e nos Açores. O regime da
monarquia constitucional permaneceu até a implantação da República a 5 de
outubro de 1910, seguindo-se a Revolução do 28 de Maio de 1926 que abriu a
porta para a ditadura do Estado Novo e a Guerra Colonial, derrubado a 25 de
Abril de 1974.
Na Madeira, no plano administrativo foi relevante o restabelecimento da
Junta Geral do Distrito do Funchal em 1901. Mas ao nível dos conflitos a
Madeira não escapou, ou incentivou: o
«Levantamento» contra o Dr. Balbino Rego, protestante, em 1905; Levantamento»
devido ao imposto ad valorem, em 1924; «Revolta da Farinha» devido ao monopólio
e especulação, em fevereiro de 1931; «Revolta política e militar» contra a
ditadura, em abril de 1931; «Revolta do Leite» devido ao monopólio, em 1936.
(continua)
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