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quinta-feira, 11 de março de 2021

 

Conflitos das Autonomias da Madeira (21)

 

“Manuel José Vieira foi ao parlamento lisboeta contar a situação de atraso da Madeira. Mais uma vez. E, mais uma vez, a resposta: há uns problemas por resolver primeiro em Lisboa e no Porto” (Luís Calisto, DN. 24/06/1996).

Nasceu no Funchal a 7 de agosto de 1836 e formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. Foi professor do Liceu durante cerca de 40 anos e Presidente da Câmara Municipal do Funchal de 1864 a 1868 e de 1899 a 1908. Foi eleito Deputado pela Madeira nas legislaturas de 1879, 1882 a 1884, 1884 a 1887, 1887 a 1889 e 1889 a 1895. Eleito Par do Reino pelo Distrito de Vila Real e Presidente da Junta Geral do Distrito do Funchal, da Comissão Administrativa da Santa Casa da Misericórdia e da Comissão Administrativa da Levada dos Piornais. Chefe do Partido Progressista no Funchal, conseguiu para a Madeira inúmeros benefícios além da fundação da Caixa Económica. Faleceu no Funchal a 12 de junho de 1912.

 

«Não só nada se nos concede, mas antes se nos criam dificuldades nas coisas mais simples. Eu não tenho por costume apresentar uma proposição que não esteja habilitado e demonstrá-la. A Madeira, como disse há pouco, não tem viação, e difícil, muito difícil, será a obtê-la em boas condições. O solo é acidentalíssimo, as dificuldades a vencer são grandes, e só um período muito largo poderemos obter resultados profícuos. Nas condições em que vamos, nunca lá chegaremos.  Daqui resulta que, ficando a quase generalidade das suas povoações no litoral da ilha, a todos acode a ideia de aproveitar a estrada que a natureza lhe fabricou em roda – o mar. Pronta a estrada, lembrou a uma empresa particular pôr sobre ela o meio condutor, fazendo construir um pequeno vapor que fizesse a comunicação regular entre algumas daquelas povoações. Querem V. exª e a Câmara saber qual foi o auxílio que da parte dos poderes públicos foi concedido a uma empresa desta ordem? Veio imediatamente o fisco arrecadar direitos sanitários e de tonelagem».

 

“Manuel Vieira alertou para as consequências da crise em que as duas principais produções madeirenses - o vinho e o açúcar – estavam mergulhadas. E falou das simultâneas desgraças pessoais como efeito da queda comercial determinada em todo o reino em 1876. Que, apesar de tudo, os dinheiros continuavam a seguir para o erário. O comentário do deputado «já vê v. exª sr. presidente, que um distrito que, através daquelas altíssimas crises agrícolas e comercial, faz face a todas as despesas a seu cargo e ainda concorre para as despesas gerais do estado com uma média de 117.000$000 reis, esse distrito parece-me que bem merece a atenção dos poderes públicos para não prosseguir, pelo menos em relação a ele, neste incessante e insaciável prurido de aumento de impostos, porque os resultados não podem ser outros senão a aniquilação completa das limitadas forças vivas que ainda restam àquele infeliz distrito”.

 

“O atrevimento do deputado madeirense teve «apoiados». Geralmente de um único deputado - Manuel Arriaga, também eleito pela Madeira, na altura. Embora só em Setembro do ano em que se dá este discurso de Vieira -1883 – viesse à Ilha. Em 1884”.

“Nós compreendemos que uma parte do continente que tem visto derramarem-se pela sua superfície milhares de contos transformados já hoje em grandes melhoramentos públicos, caminhos de ferro, estradas ordinárias, portos, barras e subsídios a companhias; que outras províncias que não gozam desses melhoramentos desde já e directamente, mas que por meios deles, mais se vão aproximando e mais aproximadas estão já dos portos.

(continua)

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