Conflitos das Autonomias
da Madeira (19)
Em 1847 o povo da Madeira esteve à fome, por causa da doença na semilha e
de uma baixa nos preços do vinho de exportação, apesar dos apelos ao governo de
Lisboa, este não correspondeu aos problemas económicos e sociais. Com a falta
de apoio nacional, uma das soluções encontradas foi pedir auxílio a países
estrageiros e também a Cabo Verde e Açores.
“O Governador José Silvestre Ribeiro perdeu a esperança de que Lisboa
ouvisse os pedidos de auxílio. Mas a fome na Madeira alastrava com tal perigo
que achou melhor insistir. Às tantas, podia ser acusado de não ter feito os
apelos de maneira eficaz. «Tenho insistido na mesma súplica e renunciara desde
já à esperança de ser escutado, bem como me abstivera de renovar as minhas
instâncias, se o mal não tivesse crescido de um modo assustador e terrível»
(08/02/1847)”.
“As ilhas da Madeira e do Porto Santo estavam quase «o tomar o grau da
miséria» a que havia chegado a Irlanda. A fome começava a «exercer os seus
cruelíssimos efeitos nestas possessões portuguesas, com pequena diferença como
naquela parte da Grã-Bretanha».
O Governador, que antes tratava de fazer vir dinheiro para as obras de
prevenção nas ribeiras – para evitar a repetição de tragédias recentes com
aluviões e dar trabalho a cabeças de família em desgraça, dirige-se nestes
termos ao Ministério do Reino: «Quer V. Exª saber qual é o sustento da gente
dos campos na actualidade? Uns poucos de inhames, que estão a acabar – algumas
raízes – algumas plantas que a terra oferece espontaneamente. A Ilha não produz
trigo, como já disse, senão para três meses do ano, e isso somente para as
classes abastadas. Não produz mais do que uns poucos moios de milho. As
batatas, em que consistia o principal alimento do Povo, foram acometidas de
fatal moléstia, que por toda a parte destruiu este pão dos pobres (…).
Interrogava-se sobre como poderia o Povo pagar os produtos em causa que
chegavam para serem «vendidos a peso de ouro» e deixava o Ministério de
sobreaviso para a agitação reinante na Madeira. «Uma agitação e uma ansiedade
que eu tenho todo o receio de serem precursores de sérias e graves
perturbações. Eis finalmente a razão por que me vi obrigado nestes últimos dias
a reunir extraordinariamente a Câmara, o Conselho de Distrito, o Bispo da
Diocese, todas as autoridades, o Corpo do Comércio e os proprietários do
Funchal…».
As reuniões no Funchal resultaram em algumas medidas, «guiadas pelo
pensamento de abastecer o mercado e habilitar as classes desvalidas a poderem
comprar os géneros, quando os haja, bem como a socorrer com algumas esmolas os
famintos”. Essas medidas tomadas foram: destacar uma Comissão Central presidida
pelo Bispo para recolher donativos destinados aos pobres - e comissões filiais
em todas as paróquias; encorajar as câmaras a realizar obras públicas;
autorizar as comissões filiais a distribuir sementes pelos agricultores. E um
pedido especial: «Que se dirigisse uma respeitosa súplica ao Governo de Sua
Majestade a Rainha, pedindo que pelo Cofre Central deste Distrito mande aplicar
algumas somas para obras públicas».
Outras diligências: deixar entrar no porto do Funchal, livres de todos os
direitos, arroz, peixe salgado, cevadinha, favas, ervilhas, feijão,
grão-de-bico, lentilhas, chicharros e tremoços. Reduzir a metade, durante o ano
de 1847, o direito por entrada de 50 reis por alqueire que o trigo estrangeiro
importado pagava. Que não se observe o aumento de direitos sobre cereais que a
lei impõe para a Madeira (…)” (Diário de Notícias, 22/06/1996).
(continua)