Conflitos das Autonomias da
Madeira (40)
Continuam as afirmações do dr. Eduardo Antonino Pestana no sentido de que
“sem a colaboração da classe política da Madeira e do Continente não era
possível fazer avançar o parco regime autonómico de 1901. A classe política da
Madeira, dependente das estruturas e dos favores da classe continental, estava
dividida. Por outro lado, as forças vivas madeirenses, não só não sabiam bem o
que queriam como estavam também acomodadas (…) a dívida nacional, agravada com
a participação de Portugal na primeira guerra mundial e a desvalorização do
escudo produziram o aumento da carga fiscal.
Os regimes cerealífero e sacarino não agradavam aos madeirenses. O porto do
Funchal era preterido pelos das Ilhas Canárias que disponham de menos
exigências fiscais. A Madeira estava obrigada a comparticipar na construção do
Porto de Leixões, enquanto os recursos financeiros da Junta Geral eram cada vez
mais insuficientes para uma acção profícua. Em 1921 a receita do Estado na
Madeira era de 3.080.248$18, enquanto que a da Junta Geral era sensivelmente de
um terço: 969.750$37.
A ideia de autonomia era agora distinta daquela de finais do século XIX. A
influência inglesa conduziu à reivindicação de uma ampla autonomia que, segundo
se dizia em 9 de Novembro de 1921, deveria ter apenas na bandeira «a única
ligação com a Mãe Pátria». Ao mesmo tempo insiste-se na contestação das teses
separatistas das acusações vindas de Lisboa pois, segundo Tolentino Costa em
1922 «orgulhamo-nos de ser portugueses e portugueses queremos continuar. Mas
ambicionamos (…) que nos dêem mais largos recursos e mais ampla autonomia
porque só assim poderemos sair deste atraso, que nos confrange e nos prejudica»”
(História da Madeira, coordenação de Alberto Vieira, setembro de 2001).
Tolentino da Costa salienta no
Diário de Notícias, de 19/10/1922, o seguinte: “Não faltam aqui cérebros nem
vontades para delinearem e realizarem os ambicionados melhoramentos; não
precisamos também de esmolar as receitas indispensáveis. O que nos falta é
simplesmente justiça, porque bastará que alarguem a autonomia, consoante a
nossa maioridade e que nos deixem um maior quinhão das nossas receitas, para
que em curto prazo completemos a obra começada da qual tão justamente nos
orgulhamos já. não creia V. Exª. nunca
nas vozes que acusam o propósito de nos separarmos da metrópole (…)”.
Para o movimento autonomista madeirense dos anos vinte muito contribuiu a
atitude do então Presidente da Comissão executiva da Junta Geral, o Dr.
Fernando Tolentino Costa que, aproveitando a passagem do Presidente da
República, António José de Almeida, a 9 de Outubro de 1922, no regresso do
Brasil, e lançou o desafio no sentido do alargamento da autonomia. O facto teve
eco na imprensa local e fez com que o movimento autonomista ganhasse alento.
A Junta Geral, tomando a liderança do processo, enviou um ofício para as
Juntas Gerais dos Açores (Ponta Delgada e Angra do Heroísmo), propondo
congregação de esforços e concertação de acções sobre este objectivo,
convocando uma assembleia de madeirenses, donde saiu uma comissão autonomista,
que se reuniu pela primeira vez a 21 de Dezembro de 1922, na sede da Associação
Comercial do Funchal. Foi aqui que o Dr. Manuel Pestana Reis apresentou o texto
das Bases da Autonomia, que vem publicado na brochura das Comemorações do 5º
Centenário da Descoberta da Madeira”. (História da Madeira, coordenação de
Alberto Vieira, setembro de 2001).
(continua)
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