Conflitos
das Autonomias da Madeira (55)
O Dr. Juvenal de Araújo, no orçamento para o período de 1923-1924, continua
a afirmar que “as despesas do Ministério da Marinha acham-se orçadas em 67.000
contos, sem que a sua equivalência corresponda de facto a valores, pois o país
dispende toda essa soma com a Armada e a verdade é que não tem defesa naval. E
é isto, Sr. Presidente, que também preocupa a Nação, porque os serviços do
Estado devem ter, em regra, uma equivalência de valores efectiva.
O Ministerio do Comercio e Comunicações tem orçadas despesas em cêrca de
41.000 contos. E para se poder
determinar com exactidão qual a orientação a seguir nos serviços deste
ministério carecemos de ter em vista o que as estatísticas nos mostram com
relação ao movimento comercial do país. A última estatística do Comercio e
Navegação que, creio, está publicada ou de que, pelo menos, tenho conhecimento,
é referente a 1919. Por ela se vê que em 1913, antes da guerra, o nosso
movimento comercial com o estrangeiro (importações e exportações), que era de
mais de 4 milhões de toneladas, andou em 1919, e portanto em período pleno de
paz, em volta de 2 milhões.
Esta diminuição considerável sofrida pelo nosso comercio externo
esclarece-nos absolutamente sobre a obra tríplice que há, neste ponto, a
realizar e que se cifra em: melhorar os nossos portos, desenvolver as nossas
relações comerciais e, especialmente, dar maior incremento ao nosso comercio
com as colonias.
Quanto aos melhoramentos a levar a efeito nos portos nacionais, é preciso
não esquecer a situação de verdadeiro abandono em que se encontram três deles:
o porto grande de S. Vicente, exclusivamente entregue aos privilégios da sua
situação natural, e sob a ameaça constante dos portos de Dakar e de Canárias; o
porto do Funchal, com a importância que todos lhe reconhecem, de onde se
exportam 67.000 contos de mercadorias, e que todavia não tem um cais acostável,
nem um porto de abrigo, que constitua uma condição de protecção ou de garantia
à navegação que a êle aflua; o porto de
Leixões, completamente desprezado, representando um papel preponderante no
comercio e na industria do Norte, que com o decreto de novembro de 1921 veiu inutilisar-se inteiramente , fazendo
reverter em favor do Estado a maior parte das suas receitas próprias. No
desenvolvimento das nossas relações comerciais com o estrangeiro não podemos
pôr de lado três dos principais pontos de apoio que poderemos encontrar para a
obra que preconiso: a Inglaterra, a Espanha e o Brasil.
À Inglaterra, estamos ligados pelos mais estreitos interesses comerciais, a
tal ponto que, dos 2 milhões de mercadorias movimentadas em 1919 nos nossos
portos, pertencem 54% à Inglaterra; a Espanha, antes da guerra, tinha com
Portugal um movimento comercial de cêrca de 14.000 contos anuais, mas a verdade
é que temos todas as condições de aproximação, quer de ordem geográfica, quer
de ordem étnica, para procurar aumentar
esse movimento através de fronteiras comuns; o Brasil é povo irmão do nosso, com
quem estaria naturalmente indicado um entendimento no campo económico, que até
hoje se não tem infelizmente realisado.
Lançamo-nos sempre a um estreitamento de relações, entre os dois países, no
campo moral e intelectual. Temos desprezado o aspecto económico das relações, e
o resultado é o aparecerem outras nações exercendo a sua acção no apetecido e
disputado mercados do Brasil e o nosso movimento comercial com o país irmão
descer bruscamente em 1919 para 35.000 toneladas, quando nos anos anteriores
oscilava em torno de 150.000 toneladas!”
(continua)