Conflitos
das Autonomias da Madeira (54)
É um dos princípios elementares e correntes que o défice orçamental resulta
de uma diminuição de receitas ou de um aumento das despesas. E não é menos
verdade que um orçamento é uma previsão estimada das receitas possíveis para
aplicá-las em despesas diversas, no período de tempo a que o mesmo diz respeito.
Num orçamento público, as opções de fazer aumentar ou diminuir as receitas
orçamentais para o ano seguinte e, consequentemente, promover as respetivas
despesas, cabe ao Governo em funções.
Já era assim no princípio do século XX, quando o Dr. Juvenal de Araújo participou
na discussão do orçamento para o período de 1923-1924. Na altura, afirmou: “os
impostos antigos teem sido aumentados, teem-se criado novos impostos, e é o
próprio orçamento que acusa um aumento de receitas públicas na soma de 300 mil
contos. Temos, pois de reconhecer que o deficit é resultante dum aumento de
despezas. Mas desce-se a análise dessas despesas, e vê-se que não se trata
infelizmente de despezas de caracter reprodutivo, que possam transformar-se
ámanhã em fontes de riqueza nacional e que contribuam portanto para a melhoria
da situação económica do país, única base da sua restauração financeira.
E é isto, Sr. Presidente, que mais preocupa a Nação. Com efeito, poderia o
Orçamento acusar um déficit maior, e entretanto não constituir esse déficit um
perigo para a Nação, dêsde que ele fosse resultante da realização de despesas
tendentes a criar novas fontes de receita para o país, como seriam as despesas
feitas com obras de protecção ao trabalho, à produção e á industria, que, num
futuro mais ou menos próximo, se desdobrassem em outros tantos caudais de
receita pública. Mas o que noto é que o nosso déficit é, infelizmente, um
déficit de mau caracter - e êste facto é que é de ordem a trazer-nos
justamente alarmados.
As despesas ordinárias e extraordinárias do Ministerio da Guerra estão
orçadas em 139.285 contos, tendo portanto essas despesas sofrido um aumento de
52.000 em relação ao ano económico findo. Isto, Sr. Presidente, em pleno período
de paz. É certo que temos de possuir a nossa defesa, que é a base da nossa
organização política da Nação e que é, sem dúvida, a mais forte garantia da
liberdade, da fazenda e da vida de todos nós. Mas é preciso que esta defesa
seja a defesa dum povo pobre, dum país pequeno, que tem necessidade, sim, de ir
para a guerra, mas guerra que não se faz com armas, mas com alma, com isenção e
com devoção patriótica, contra as nossas próprias paixões e os nossos próprios
êrros.
Ainda no ano passado, o ilustre deputado sr. Barros Queiroz apresentou uma
proposta de redução de serviços militares, proposta que então a maioria da
Camara poz de parte, não por a reputar menos justa, mas por entender que esta
pretendida redução de serviços se não podia fazer dum jacto, mas só depois de
uma preparação conveniente. Entretanto, Sr. Presidente, um ano é passado - e que se faz para preparar o terreno, a fim
de dar execução à honesta e justa
proposta do sr. Barros Queiroz?
Absolutamente nada. Os serviços militares teem, no orçamento para 1923-24,
a mesma organização de há um âno. Todavia, ao mesmo tempo que isto se passa em
Portugal, a Inglaterra, apesar da sua especial situação geográfica e apesar do
papel que representa no concerto europeu, reduziu em dez milhões de libras as
suas despesas militares para o futuro âno económico, fazendo nêste capitulo uma
economia de 16% sobre os gastos do âno findo. Pois Portugal aumentou as suas
despesas militares em mais de 50%!
(continua)
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