Conflitos
das Autonomias da Madeira (58)
A situação vinícola da Madeira foi um dos temas que o Dr. Juvenal de Araújo
produziu na Camara dos Deputados na legislatura de 1922 a 1925. Iniciou a
intervenção dizendo: “As considerações que vou produzir, dirijo-as ao sr.
Ministro da Agricultura. Não vendo, porém, sjua exª presente, peço ao sr.
Ministro da Instrução, que vejo ocupar o seu logar, a fineza de transmitir ao
seu colega daquela pasta aquilo que vou dizer.
Desejo chamar a atenção do sr. Ministro da Agricultura – mas a atenção a
mais rigorosa e a mais pronta - para o que de importante e muito grave se vem
passando na Madeira, tendente a destruir uma das maiores fontes de riqueza
daquela ilha: o crédito dos seus afamados vinhos generosos. O comercio de
exportação dos vinhos da Madeira é representado por um certo número, restrito, de
casas, umas nacionais, outras estrangeiras, quási todas de antiga existência,
que ali se formaram e se desenvolveram, primando quási todas elas pela sua
probidade, pela lisura dos seus processos comerciais e pelo zelo com que sempre
defenderam a genuinidade das suas marcas.
Ora atravessando épocas de prosperidade, ora atravessando momentos de crise
os mais agudos e difíceis, os velhos exportadores de vinho Madeira, pelo menos
na sua parte mais importante e expressiva, sempre se mantiveram à altura dos
seus créditos. Veiu a guerra. Quási todo o comercio se desenvolveu de atingiu o
mais elevado grau de prosperidade. Pois, apesar disso, as casas exportadoras de
vinho Madeira, na sua quási totalidade, encontram-se hoje quási nas mesmas
condições financeiras em que se encontravam antes da guerra. É que se trata de
um género de comercio que, sendo consciencioso e sério, não pode ter uma grande
margem de lucro, mórmente quando tem de lutar lá fóra com uma intensa e desleal
concorrência.
À acção perseverante, continua, de muitos anos, do comercio digno, se deve
em grande parte o bom nome de que os vinhos da Madeira gosam de há mio, as
honrosas tradições que em volta dêle se criaram e a conquista e a expansão dos
seus mercados. O papel que a riqueza da produção e comercio dos vinhos da
Madeira representa hoje em toda a ilha, não preciso de o põr em relevo à
Camara, pois todos sabemos que a lavoura, a propriedade, o comercio teem
encontrado na vinicultura e na viticultura da ilha uma das mais fortes razões
do seu desenvolvimento e da sua valorização, com o correlativo interesse para o
Estado.
Pois toda essa soma importantíssima e valores, representada pela
agricultura e pelo comércio de vinhos, está hoje sendo criminosamente minada e
destruída por alguns indivíduos sem escrúpulos que ali se estão entregando às
mais grosseiras falsificações. No ministério
da Agricultura, devem já existir numerosos elementos, fornecidos por
entidades oficiais e particular, de modo a esclarecer inteiramente o governo
sobre o que ali se passa.
Entretanto, para que a Camara atente bem na justiça das reclamações de que
me faço éco, vou referir alguns factos particularmente elucidativos. A importação
de vinho de pasto do continente na Madeira foi, em 1920, de 214 cascos, em 1921
de 246, e em 1922 de 288. Pois pelo que
se acha apurado com relação à importação feita no corrente ano, desde o mês de
Janeiro até Outubro, não deve essa importação andar muito longe de 2.000
cascos!
(Continua)
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