Conflitos
das Autonomias da Madeira (67)
Nas críticas ao Governador
Civil, Dr. Fernando Rebelo, também o sindicato da Construção Civil não poupou feroz,
promovendo manifestações contra a sua atuação, como foi a que teve lugar no dia
21 de outubro de 1974.
Em meados de novembro
daquele ano, foi desejo do Dr. Fernando Rebelo deixar o cargo e
demitiu-se. Mas a sua saída definitiva só se concretizou em março do ano
seguinte, dando lugar ao Brigadeiro Carlos Azeredo que tomou posse no dia 23. O
mais insólito foi o facto de o Dr Fernando Rebelo ser de esquerda, e quem mais
o criticou foram precisamente os partidos de esquerda. Talvez pelo facto de o
Governador do Distrito não ter aderido a nenhum deles. Por isso é que apenas
teve a solidariedade do “seu” MDM -Movimento Democrático da Madeira.
Com 224 dias de mandato à
frente do cargo de Governador do Distrito, o Dr Fernando Rebelo passou o
testemunho a um militar, mais precisamente ao Brigadeiro Carlos Azeredo que já
era conhecedor não só das funções que voltaria a desempenhar, mas também de
toda a problemática política e social vivida na época. Carlos Azeredo teve a
confiança do III Governo Provisório que o nomeou, tendo tomado posse no dia 23
de março de 1975, e sobreviveu a todas as mudanças de governos provisórios. Com
a rigidez e austeridade próprias dos militares de carreira, Carlos Azeredo
esteve à frente dos destinos políticos e na superintendência administrativa da
Madeira como rei e senhor todo poderoso até a entrada em funções do I Governo
Regional (01/10/1976).
O mandato do novo Governador iniciou-se num
período novo no panorama revolucionário, a poucos dias após ter ocorrido o «11
de Março». O papel de Carlos Azeredo, com os poderes civis e militares
concentrados, não foi pacífico:
- Completou a exoneração e
nomeação das Comissões Administrativas das Câmaras Municipais; - Presidiu à
Junta de Planeamento, criada em março de 1975, que passou a tutelar a Junta
Geral do Distrito Autónomo e a Comissão Regional de Planeamento;
- Na qualidade de
Governador Militar superintendeu no COPMAD, criado em 6 de dezembro de
1974;
- Também com as funções de
Governador do Distrito Autónomo presidiu à Junta Regional, criada em fevereiro
de 1976;
- Convocou e até mandou
prender pessoas que defendiam o separatismo;
- Enfrentou e respondeu, em
conferências de imprensa, aos protestos das forças políticas de esquerda que o
acusaram de dar cobertura aos independentistas, e respondeu a outros partidos
sobre matérias efervescentes da conjuntura política vivida;
Ameaçou mandar civis para
substituírem os enfermeiros do hospital que ameaçaram entrar em greve;
No fundo, durante algum
tempo, os poderes do Governador do Distrito e os dos novos órgãos que
sucessivamente foram criados confundiram-se e foram concentrados numa só
pessoa. Mas o certo é que o Distrito Autónomo do Funchal e o seu Governador só
foram efetivamente desativados com a entrada em funções do I Governo Regional.
Tanto assim foi que, em 17 de julho de 1976, o «Diário de Notícias» da Madeira
publicou um aviso do “GOVERNO DO
DISTRITO AUTÓNOMO DO FUNCHAL”, subscrito pelo Secretário, avisando “todas as pessoas inscritas no navio
VERDI com destino a La Guayra e Curaçao, a sair do Funchal no dia 14/8/76, que
deverão comparecer na Secretaria do Governo do Distrito dentro das horas de
expediente, a fim de tratar de assunto do seu interesse”.
(continua)