Conflitos da Autonomia – Antecedentes da «Revolta do Leite»-1936
No ano seguinte à carta-resposta de Salazar ao
Presidente da Junta Geral, foi publicado o Decreto-Lei nº 26.655, de 4 de junho
de 1936, que instituiu a Junta dos Lacticínios da Madeira (JLM), que foi o
rastilho para a «Revolta do Leite».
A
passividade dos madeirenses nem sempre determina a sua subserviência a qualquer
preço, perante os governantes, como foram a «Revolta da Farinha», quando o
Poder retirou água de rega na Calheta a 20 de junho de 1953, e na Ponta do Sol,
a 21 de agosto de 1962.
Todas aquelas revoltas tiveram a ver, direta ou
indiretamente, com atividades do setor primário da economia madeirense, o que
torna claro que o povo que trabalha a terra não consente que lhe retirem
direitos e bens essenciais.
Em termos práticos, a criação da Junta dos
Lacticínios da Madeira (JLM) teve como fim principal acabar com a concorrência
dos 51 industriais de derivados do leite, bem como fixar apenas em 320 os 1301
postos de recolha espalhados por toda a Região. O argumento do poder político
foi o de que o “industrial invasor” fazia baixar o preço do leite, bem como a
indústria madeirense encontrava-se em 1935 num estado desolador: “péssimas
instalações, pessoal incompetente, e na grande maioria dominava uma falta de
higiene inacreditável”.
Com a criação da JLM foram desenvolvidas algumas
ações com vista à melhoria da agropecuária, nomeadamente: arrolamento do gado
bovino; conselhos aos criadores; análises no seu Laboratório; assistência
técnica; qualidade higiénica do leite; higiene do vasilhame; fiscalização junto
dos postos de desnatação e da indústria; cursos de formação rural (até 1964,
promoveu 10 cursos); vacinação e rastreio à tuberculose; assistência médico-veterinária,
incluindo subsídios, através do Fundo de Previdência Pecuária; apoio técnico
aos criadores de gado que participaria nas feiras de gado (desde a primeira
Feira de Gado do Porto Moniz-
A criação da JLM, por si só, não pôs termo aos
problemas decorrentes da criação de gado, distribuição de leite e
industrialização dos derivados deste. Alguma legislação foi publicada ao longo
de anos, tendo em vista a reorganização da indústria de laticínios da Madeira.
Por volta de 1950/1951, os criadores de gado
criaram cooperativas para recolha e fabricação de manteiga. Em toda a Região
foram criadas cinco cooperativas: Cooperativa Agrícola Lacticínia dos Lavradores
da Madeira, com sede na freguesia dos Canhas, abrangendo os criadores de gado
da Calheta; Cooperativa Agrícola dos Lavradores do Santo da Serra, com sede no
Santo da Serra (Santa Cruz); Cooperativa de Lacticínios do Norte, com sede em São
Vicente; Cooperativa de Lacticínios do Porto da Cruz, com sede no Porto da
Cruz; Cooperativa de Agricultores de São Jorge, com sede em São Jorge.